“Não sou cientista nem profeta, mas arrisco, como místico, que ao invés de caminharmos para os 7 bilhões de habitantes sobre a face da terra, precisaríamos reduzir este número para 500 milhões, para dar ao planeta a chance de reaver o camando das leis naturais que os humanos lhe tomaram.” Benê Lima
Geólogos escavam um poço de 2 quilômetros no gelo da Groenlândia (acima). O gelo do poço é a neve caída há milênios. Ela preserva os gases de atmosferas passadas. Seu estudo revela a ação humana sobre o clima desde 1700
Imagine os 4,5 bilhões de anos da Terra como os 365 dias do ano. Nessa analogia, o planeta se formou a partir de uma nuvem de gás e poeira no primeiro segundo de 1º de janeiro. A vida unicelular surgiu nos mares em 21 de fevereiro. Os dinossauros evoluíram em 11 de dezembro e se extinguiram no Natal. O Homo sapiens apareceu às 21h15 de 31 de dezembro. Quando restavam dois décimos de segundo para a meia-noite – em torno do ano 1700 –, inventamos a máquina a vapor, início da Revolução Industrial. A Terra nunca mais foi a mesma. Antes, a natureza seguia seu rumo ao sabor da força dos elementos. Aí, assumimos o controle.
“Nos últimos 300 anos, os efeitos humanos sobre o meio ambiente multiplicaram-se. Por causa das emissões de gás carbônico, o clima global desviou-se do curso natural. Sentiremos seus efeitos por vários milênios”, diz o químico holandês Paul Crutzen, de 77 anos, Nobel de Química de 1995 por suas pesquisas sobre a camada de ozônio. Em 2000, Crutzen propôs a criação de uma nova época na escala de tempo geológica: a Época Humana ou Antropoceno.
A nova época substituiria a atual, iniciada há 12 mil anos com o fim da era do gelo e conhecida como Holoceno. “O Antropoceno começou na segunda metade do século XVIII, quando a análise de partículas de ar aprisionadas no gelo polar na Groenlândia revelou o início do aumento global na concentração de gás carbônico e metano atmosféricos. A data coincide com o aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt”, escreveu Crutzen na revista científica britânica Nature.
Em 1750, havia 790 milhões de humanos. Em algum momento de 2011 ou 2012, seremos 7 bilhões. Da máquina a vapor à internet, a civilização tecnológica se espalhou, deixando um rastro de destruição ambiental, extinção de espécies, poluição de ar e água – e uso excessivo dos recursos naturais com a queima de combustíveis fósseis causadores do efeito estufa.
A criação do Antropoceno ganha adeptos na academia. Na semana passada, a Sociedade Real de Londres dedicou ao tema uma edição da revista Philosophical Transactions. Um grupo de geólogos quer lançar a proposta na próxima reunião da Comissão Internacional de Estratigrafia, em 2012. Caberá à entidade decidir se a natureza perdeu ou não o controle do planeta e se a Época Humana já começou.
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Benê Lima