Renato Gaúcho possui características tão peculiares que foi retratado em uma das mais famosas mídias sociais com um personagem falso – ou fake, na linguagem da internet. O “ex-campeão em tudo, atual técnico de futebol e eterno pegador”, como se autodenomina, aproveitou recente posicionamento do comandante gremista para revelar um de seus planos no Réveillon.
“Item 38 da minha lista de promessas de ano novo: ‘Vencer um Gre-nal usando apenas torpedos SMS’... Feito”, postou no último dia 31 de janeiro o dono da conta que simboliza um dos grandes personagens do futebol brasileiro, logo após a vitória do clube tricolor gaúcho sobre o rival Internacional, pelo Estadual. Detalhe: naquela partida, Renato Gaúcho não viajou com a delegação e viu pela televisão, do hotel em que reside em Porto Alegre, o triunfo da equipe.
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O fato esteve relacionado a um “pedido” de Renato à diretoria. Com a alegação de estar cansado, ele garantiu que iria requerer o seu afastamento de alguns compromissos realizados no interior do Estado do Rio Grande do Sul, voltando suas atenções, neste início de temporada, apenas para o embate contra o Liverpool, do Uruguai, adversário da primeira fase da Copa Libertadores da América – nesta quarta-feira, será disputado o jogo de volta, no Olímpico, após igualdade por dois gols no placar em Montevidéu.
“Estou cansado, conversei com a diretoria e penso que no interior eu praticamente não vou mais fazer os jogos porque posso ter cabeça de comandar o time daqui. Daqui a pouco o cansaço toma conta de mim e eu não consigo pensar direito. São vários jogos seguidos. Não vou ao Gre-Nal, a não ser que eu me transforme em um homem de ferro. Preciso estar com a cabeça tranquila para pensar. Se os jogadores são poupados, o treinador tem que ser também”, argumentou o ex-atleta e eterno ídolo da torcida gremista em entrevista coletiva há algumas semanas.
Tais colocações, entretanto, não ressoaram bem entre representantes da cúpula azul. Diretores não esperavam que Renato levasse o assunto a público, e tinham em mente estudar a melhor maneira de desenvolver essa estratégia. Diante do maior rival, o desejo do treinador principal foi levado em consideração: Roger, assistente técnico do staff, ocupou o lugar majoritário no banco de reservas em Rivera-URU, palco do triunfo por 2 a 1 sobre os colorados.
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“O planejamento foi feito em conjunto. O comandante principal é o Renato, mas durante os 90 minutos eu atuei com intensidade à beira do campo, posicionando, motivando os atletas, corrigindo equívocos. Me sinto parte importante desse contexto”, afirmou Roger, que se comunicou via telefone celular com Renato.
Após um primeiro tempo equilibrado, o Inter abriu o marcador. Na volta do intervalo, Vilson, que não estava se sentindo bem, acabou pedindo para ser substituído. Foi quando Renato, de maneira não-presencial, entrou em ação: optou por colocar Willian Magrão e redistribuir a equipe. “Voltamos diferente, mas com a mesma intensidade e conseguimos a virada”, completou Roger.
“Técnico não pode ter medo. Tem que ter coragem. Pedi para o Roger colocar o terceiro atacante porque eu vi que o Inter tinha sentido o gol, vi que a gente podia ganhar. Não podemos ter medo. Quem tem medo de perder, perde a vontade de ganhar. Tivemos coragem, fomos para dentro, e vencemos”, explicou Renato, em entrevista ao Globoesporte.com.
Se os dirigentes viram de maneira positiva o “descanso” de Renato, confortados pelos três pontos conquistados no clássico, outra referência gremista esteve de pleno acordo com o companheiro de função desde o primeiro instante. Para Mário Sérgio, que teve carreira como atleta ligada ao clube e já atuou naquele departamento de futebol, a postura reflete a personalidade de um profissional diferente e que não teme expor suas ideias.
“Foi uma postura corajosa. A maioria dos técnicos pensam da mesma forma que ele. Até no relacionamento diário – o do Renato é de quase um ano como treinador do Grêmio –, causa um desgaste”, elencou Mário Sérgio.
“Se os jogadores se desgastam muito no aspecto físico, não se desgastam tanto no aspecto mental. Nem mesmo são tão pressionados no atual contexto, algo que, por uma questão cultural, é direcionado ao treinador”, completou.
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Na avaliação dele, que em seu último trabalho dirigiu o Ceará em parte do Campeonato Brasileiro de 2010, o desgaste emocional e físico, com as viagens e concentrações, causa uma confusão para a reflexão do treinador. Algo que pode acarretar adversidades desde a montagem de um time, em termos táticos, até propriamente a definição da escalação.
“No caso do Grêmio, que prioriza a Libertadores neste momento, não há o porquê de o Renato viajar toda hora para o interior e acompanhar o time reserva. Eu encaro isso como uma situação normal, mas seria bastante original dentro do País. Ele seria um precursor de uma situação que todos querem, mas que todo mundo tem medo de opinar sobre o assunto”, enalteceu Mário.
Se por um lado Renato é visto como alguém destemido, corajoso, e que fala a real, sem medo da opinião pública e da pressão da imprensa, outro treinador pondera a questão. Para Sérgio Guedes, à frente da Portuguesa na atual temporada, o cansaço psicológico do comandante de um grupo de atletas pode ser contornado de outra maneira.
“Eu acho que temos equipe técnica boa, mas temos desgaste apenas emocional, o que um bom sono resolve e uma boa vitória ameniza bastante. Cada um sente de um jeito, treinador tem que estar junto, sentindo o que a equipe precisa. Mas respeito a opinião dele, cada um sente sua necessidade”, sinalizou o ex-goleiro.
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Benê Lima