Rodrigo Azevedo Leitão
Enquanto o futebol brasileiro se mantém no mesmo ritmo cadenciado, o europeu está cada vez mais veloz
Dia desses no Café dos Notáveis, encontrei o amigo Zagonariz.
Foi uma conversa rápida – estávamos como quase sempre, com o “tempo espremido” (tempo, que temo me faça falta em um futuro próximo, quando percebendo a fragilidade humana em tentar correr contra ele – descubra que ele se foi).
Mas vamos lá.
Eu e Zagonariz falamos um pouco a respeito da velocidade de jogo no futebol – como na Europa ele tem ficado cada vez mais rápido e movimentado, e o quanto isso não parecia ser verdadeiro no Brasil.
Pois bem.
A conversa foi curta, mas me despertou a necessidade de escrever algumas coisas a respeito do tema.
Não é incomum que quando uso o futebol europeu como exemplo de alguma coisa logo venham críticas e lembretes apontando para o fato de ser o brasileiro o “melhor futebol do mundo”.
Realmente não quero entrar nesta discussão. Não agora.
Quero, porém, chamar a atenção para o fato de que nós no Brasil somos apaixonados pela bola (nós todos que jogamos futebol, de forma amadora ou profissional).
Necessitamos ficar com ela a qualquer custo.
“Há diferença conceitual entre correr muito e jogar rápido. Para correr muito não é necessário a qualidade nem a técnica apurada, ao passo que para jogar rápido são precisos: aptidão física, boa técnica e a qualidade oriunda do talento.” (Benê Lima)
Jogadores quando a tem nos pés, parecem não perceber o tempo passar. Ficam com ela uma eternidade que as vezes dura 1, as vezes até 3 segundos (podem acreditar 1 segundo no futebol é sim muito tempo – quanto mais 3).
É inacreditável o que uma equipe pode fazer sob o ponto de vista organizacional em 3 segundos.
É quase incalculável como as dificuldades aumentam para a tomada de decisão, conforme mais tempo é gasto para isso. Ficar com a bola é uma coisa quase incorporada no jogar brasileiro. O mais “cruel” disso é que para vencer o jogo, uma equipe precisa se livrar dela (claro, arrematar ao gol significa “se livrar” da bola – e quanto mais arremates ao gol, mais chances de vencer o jogo).
Alguém pode me dizer, que o FC Barcelona é uma equipe vencedora, e que na maciça maioria das vezes tem mais posse de bola que seus adversários.
Isso é verdade, mas não se enganem pela aparente essência da informação.
O fato de a equipe ficar mais tempo com a bola não significa que seus jogadores fiquem muito tempo com ela quando a recebem – pelo contrário, é uma das equipes que têm os jogadores que mais rapidamente se livram dela (passando).
E esse talvez seja o fato que exatamente propicie ao FC Barcelona ter mais posse de bola que seus adversários (como roubar a bola de jogadores que quase não ficam com ela?).
Outra questão importante, é que podem também finalizar muitas vezes no jogo, se livrando da bola, mas recuperando-a rapidamente.
Fico um pouco preocupado, porque se não nos importarmos com a velocidade do jogo (nós brasileiros), em um futuro não muito distante estaremos sendo ultrapassados – e se pensarmos que nas categorias de base a cultura segue no mesmo ritmo, logo seremos atropelados.
Alguém ainda pode dizer que no final das contas o que importa é o talento criativo do jogador brasileiro. Concordo. E é isso que ainda nos sustenta (mas não por muito tempo).
Porém, por que não, talento criativo com velocidade? A velocidade na tomada de decisão e na ação, não se opõe à construção e desenvolvimento do talento criativo. Muito pelo contrário.
O problema, é que enquanto no próprio FC Barcelona (por exemplo), estão formando hábeis e rápidos jogadores criativos – o que já repercute na seleção espanhola – no Brasil parecemos estar pouco preocupados com a tal velocidade de jogo.
E aí, espero que um dia, isso não repercuta em um futebol de tartarugas.
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Benê Lima