Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Responsabilidade social na formação de atletas para o futebol – a sustentabilidade

Atitudes voltadas para a sustentabilidade e promovidas por clubes podem tanto repercutir positivamente para a sociedade, quanto melhor a imagem corporativa da instituição esportiva

Geraldo Ricardo H. Campestrini*

A busca pela sustentabilidade em nosso planeta a partir de pequenas atitudes, decisões e condutas dentro do raio de ação das organizações ou mesmo particulares, faz parte de um princípio básico que visa à manutenção da espécie humana em harmonia com a Terra hoje, para a atual geração, e futuramente, para as gerações vindouras.

A definição mais cabível de sustentabilidade e aceita mundialmente é a proposta pela WCED (World Comission on Environment and Development), que diz: “atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras (WCED, 1987).

Naturalmente que boa parte desta responsabilidade sobre a sustentabilidade do planeta recai sobre o ambiente corporativo pela dimensão e impacto que suas decisões possuem no cotidiano das pessoas.

No contexto esportivo, Cunha (2007) reforça estas palavras iniciais afirmando que, a fim de garantir o desenvolvimento do desporto como um todo, tal e qual cita Castejón Paz (1973) na proposta dos “Fatores de Desenvolvimento do Desporto”, é imprescindível identificar as decisões que devem ser tomadas, com foco naquelas que são prioridade e as outras que são secundárias, quais as que têm maior influência na estrutura organizacional e as que possuem apenas relevância acessória para se ter a real noção das que provocam maiores alterações ou sustentabilidade no sistema e as que se constituem com um aspecto de indiferença maior.
Baseado nisso, propomos no terceiro item da Carta Internacional de Responsabilidade Social para a Formação de Praticantes no Futebol (CIRESP-FUTE 2009) a preocupação que as entidades ligadas ao futebol devem ter perante a sustentabilidade:

III. Sustentabilidade

(a) Econômica: exercer as suas atividades aplicando o princípio da sustentabilidade econômica de modo a evitar prejuízos para a comunidade;

(b) Social: contribuir, através de participação social voluntária, para o desenvolvimento social da comunidade;

(c) Partilhada: apoiar, pelo exercício de partilha de recursos próprios – humanos, materiais e financeiros – e, na medida das suas possibilidades, causas sociais comunitárias.

O item III-a aponta para a necessidade premente relacionada a eficiência econômica necessária para a existência de uma organização. Esta definição foi comentada outrora nos textos anteriores sobre a temática e, sob esta ótica, a empresa que não gera lucro é socialmente irresponsável.

Carroll (1991) comenta que, na componente econômica, a organização necessita, entre outras coisas, estar empenhada em ser tão rentável quanto possível e manter um elevado nível de eficiência operacional.

Nas organizações esportivas e, falando especificamente do futebol, se o clube opera suas atividades em prejuízo, gastando mais do que arrecada, estará incorrendo em irresponsabilidade pois gerará um ciclo vicioso de calote à sociedade, não tendo capacidade de pagamento adequado para fornecedores, atletas, funcionários e demais envolvidos e que, consequentemente, se converterá em uma sequência de prejuízos em pequenas escalas.

No campo da sustentabilidade social, proposto no item III-b, há a referência para a participação social voluntária na promoção e idealização de projetos sociais que favoreçam a sociedade como um todo.

Trata, portanto, da medida possível que um clube de futebol pode dar de contributo extra para a comunidade, dentro de sua capacidade de atendimento e recursos disponíveis para tal atividade.

Exemplo disto são os projetos realizados por Sport Club Internacional, Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube Atlético Mineiro, Clube Atlético Paranaense e Fluminense Football Club, citado em Campestrini (2009), que divulgam em seus respectivos web-site oficiais os projetos de interesse para a sociedade e organizados pelo próprio clube: Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Internacional (Internacional), Fábrica de cidadãos e Projeto apostando no futuro (Vasco da Gama), Educação se faz também pelo esporte (Atlético Mineiro), Projeto Escola de Futebol e Pulseiras (Atlético Paranaense), Programa Flu (Fluminense), fazem parte de um conjunto de ações que objetivam a contribuição para o desenvolvimento social das comunidades onde estes clubes estão inseridos.

Por fim, quando referencia-se à sustentabilidade partilhada no item III-c, propõe-se, além da construção de projetos próprios, o apoio a causas sociais de entidades governamentais ou não-governamentais que busquem a melhoria das condições de vida da comunidade.

Neste caso, a importância do futebol poderá passar pela cedência de um espaço por determinado período de tempo para a realização de uma atividade de lazer ou educacional, ou mesmo como apoio para a recepção de doações de qualquer natureza; o incentivo para que seus colaboradores internos exerçam atividades relacionadas com o bem-estar da comunidade de maneira voluntária ou mesmo, em certa medida e dependendo da estrutura do clube, a doação em espécie como forma de apoio para que outras entidades pratiquem suas atividades sociais.

O FC Barcelona é o exemplo mais clássico desta última proposição em razão de seu apoio a causas sociais do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), abrindo mão da receita proveniente de uma grande marca patrocinadora e doando 1,5 milhão de euros por ano para a ajuda a programas humanitários da instituição.

As consequências positivas para o FC Barcelona sobre a sua imagem corporativa são enormes, e Dionísio (2007) aponta que estrategicamente o clube trabalha sua marca baseado em dois pilares fundamentais:

- a desportiva, com aposta na contratação de grandes jogadores, cuja mais-valia desportiva possa trazer receitas ao clube;
- a social, com a implementação de um vasto leque de ações sociais de apoio a grupos mais desfavorecidos, sobretudo ao nível internacional, e a afirmação dos valores culturais da região.

Outro modelo interessante e relacionado a sustentabilidade partilhada é a campanha “Sangue Corinthiano”, do Sport Club Corinthians Paulista, que promove, três vezes ao ano, o “Dia de Corinthiano Doar Sangue”, incentivando que seus fiéis torcedores se dirijam ao hemocentro de sua cidade e doem sangue. A campanha, além de contribuir para uma causa social, ajuda na fidelização e orgulho do torcedor, que passa a enxergar a força que possui dentro da sociedade. A campanha conta com site oficial, comunidade em sites de relacionamento, vídeos e apoio das duas maiores torcidas organizadas do clube.

Com isto posto, atitudes voltadas para a sustentabilidade e promovidas por clubes de futebol, se bem planejadas, são uma via de mão-dupla com repercussão positiva tanto para a sociedade e comunidades atentidas como para o clube, na aproximação a seus diversos stakeholders e melhoria de sua imagem corporativa.

Referências

CAMPESTRINI, Geraldo R. H. (2009). A responsabilidade social na formação de praticantes para o futebol: análise do processo de formação em clubes brasileiros. Dissertação de Mestrado em Gestão do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, Portugal.

CARROLL, Archie B. (1991). The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management of Organizational Stakeholders. Business Horizons, July-August.

CUNHA, Luís Miguel. (2007). Os espaços do desporto: uma gestão para o desenvolvimento humano.Coimbra: Edições Almedina.

DIONÍSIO, Pedro. (2007). O desenvolvimento das marcas, a responsabilidade social e os clubes desportivos. Jornal de Negócios, terça-feira, 12 de Junho de 2007, p. 35.

FÚTBOL Club Barcelona. Disponível em: http://www.fcbarcelona.com.  Acessado em: 28/Jan/2009.

SANGUE Corinthiano. Disponível em: http://www.sanguecorinthiano.com.br. Acessado em: 23/Jan/2010.

WCED. (1987). Our Common Future, Oxford University Press, Oxford/New York.


*Mestre em Gestão do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana; Bolsista FIFA (“Havelange Scholarship” – CIES/FIFA); professor da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE).

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima