Aplicar o conceito da física para o futebol pode criar novos sistemas e direções para treinamento desportivo
Rodrigo Azevedo Leitão
Atratores são configurações para quais tendem um sistema qualquer.
Recentemente falei sobre eles (mais precisamente sobre aplicações nos esportes coletivos) para um grupo de físicos, em um importante evento da área. Motivado pelos incentivos a mim direcionados, resolvi escrever hoje um pouco sobre o tema (os atratores).
Ainda que seja um conceito menos popular do que outros que venho debatendo, suas aplicações no entendimento do jogo e na modelação de treinos no futebol contribuem - e muito - para compreensão de questões que envolvem a “complexidade”.
Todo sistema alterna entre momentos virtuais de equilíbrio e desequilíbrio. É como uma balança que busca constantemente se estabilizar, mas que por vezes, “caoticamente” parece se encontrar com a total instabilidade.
O “conflito” dinâmico interno a um sistema entre equilíbrios e desequilíbrios faz com que ele (o sistema) busque a todo tempo manter-se organizado. Quanto mais complexo o nível de organização de um sistema, menos sujeito a fortes instabilidades ele estará.
A cada vez que enfrentar grandes desequilíbrios, um sistema deve reagir e, se necessário, atingir novo estado de organização para se manter vivo.
Toda tentativa de se auto-organizar de um sistema é norteada pelo “magnetismo” de atratores, que em momentos cruciais de instabilidade levam o sistema a uma configuração de equilíbrio. Da mesma maneira, atratores chamados de “estranhos” podem “conduzir” um sistema qualquer a configurações totalmente “desequilibrantes” – e instaurar o caos.
O jogo por si só, como sistema, possui atratores que levam jogadores e equipes para determinadas configurações (configurações essas que dão vida a dinâmica do jogo). Ao se compreender na essência o conceito de atratores, é possível que através dos treinamentos sejam criados alguns deles – tanto para interferir no “sistema de jogo” das equipes (não confundamos “sistema de jogo” com “esquema tático”), quanto para interferir no “sistema jogo”.
Como?
Se são os atratores configurações paras quais tendem um sistema, por que não, nos treinamentos, entender a fundo o jogo, e a partir daí, conceber referências organizacionais norteadoras que construam um jogar eficaz? Por que não fazer com que estas referências tornem-se atratores do sistema de jogo de uma equipe e, a partir daí, propiciar organizações constantemente mais complexas e, portanto, menos suscetíveis a instabilidades caóticas?
Quando transcendermos a idéia de que as equipes devem cumprir estratégias, e que para isso precisam desenvolver essa ou aquela “capacidade física”, esse ou aquele princípio tático, para a avançada idéia de que devemos buscar nos treinamentos gerar comportamentos desejáveis de jogo, dando referências organizacionais que se tornem atratores para o sistema, estaremos na direção de um novo paradigma, tanto para a observação e entendimento de jogo e quanto para a preparação do futebolista.
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Benê Lima