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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, agosto 09, 2010

Tática, Copa-10 traça parâmetros e apresenta ‘novidades’

Treinadores acreditam que equipes e seleções podem copiar modelos de jogo semelhantes aos apresentados durante o torneio na África do Sul

Artur Capuani*

Seleção brasileira fez uso de uma plataforma tática 4-3-1-2 contra o 4-2-3-1 da maioria das seleções 

A Copa do Mundo de 2010 teve uma final e um campeão inéditos, estilos no modelo de jogo renegando a história e um limiar tático definindo muitas ações. Pelo menos esta foi a avaliação de alguns treinadores brasileiros que assistiram à distância aos jogos e entre as principais equipes nacionais do planeta.

Mano Menezes, comandante da seleção brasileira que assumiu o cargo após o Mundial na África do Sul, acredita que o torneio deve servir como referência para muitas equipes do futebol brasileiro. O ex-técnico do Corinthians, no entanto, acha difícil que alguém se equipare ao nível apresentado pela Espanha, que bateu a Holanda na decisão.

“Penso que ela é um referencial, sempre foi. Você vai ver equipes apresentando sistemas táticos parecidos, jogadores com características parecidas, principalmente com equipes que chamaram mais a atenção, caso da Espanha e um pouco de Alemanha”, comentou Mano.

O gaúcho, entretanto, espera que surta efeito, principalmente para ver laterais jogando como laterais, zagueiros como zagueiros, com a linha de quatro jogadores atrás, que, para ele, há dez anos é uma realidade muito forte na Europa e no Brasil ainda se anda na contramão.

Apesar de acreditar que as equipes brasileiras irão se basear nas melhores seleções do Mundial, Mano Menezes revelou que será difícil que algum time, até mesmo o Corinthians, a quem treinou nas últimas duas temporadas, consiga reproduzir o mesmo estilo de jogo da campeã europeia.

“A Espanha foi uma continuação do Barcelona que já trazia uma maneira de jogar bem definida. Lógico que é muito bom você ficar com a bola tanto tempo, você desgasta mais a equipe adversária, cria mais chances, mas é um processo atingir esse nível, poder trabalhar desas maneira. Vimos muitas seleções na Copa e só uma jogou dessa maneira, então não é só questão de querer”, encerrou Mano, em discurso quando ainda estava à frente do time do Parque São Jorge. Hoje, em outro posto, garante que a seleção verde-amarela tem condições de retomar o protagonismo do futebol.

“Uma vez, um amigo, que é o Paulo Autuori, me disse que preocupava muito a ele o Brasil abrir mão do protagonismo de jogar futebol. Não se deve aceitar ser coadjuvante e jogar somente no erro do adversário”, disse Mano, em entrevista ao Sportv.

Fã confesso do futebol holandês, Oswaldo Alvarez, o Vadão, atual treinador da Portuguesa, que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro, também fez uma análise sobre a Copa.

“Eu vi uma Copa muito tática. No início você percebia uma preocupação muito grande em não sofrer gols, à exceção as principais forças, como Brasil, Alemanha, Argentina. Houve muita disciplina tática. Inclusive a Holanda, que é o país com o estilo de futebol que me inspirou, historicamente”, elencou.

O espelho de Vadão sempre foi o time laranja de 1974, o qual estabeleceu algumas concepções do futebol, com muita rotatividade, ocupação de espaços, e troca de posição constante. Rinus Mitchels, treinador naquele Mundial, e o brasileiro Claudio Coutinho, são as grandes referências dele.

“A Holanda atual continua com a mesma filosofia ofensiva, com três atacantes, jogando pra frente, mas com os atletas bem posicionados. O Robben, por exemplo, craque do time, está sempre pelo lado direito, fazendo o corredor, agredindo e defendendo pelo setor. O mesmo ocorre do outro lado com o Kuiyt”, explicou Vadão.

Para o técnico da Lusa, a criatividade e a ofensividade passaram a vir com o início dos jogos mata-mata e a necessidade de obtenção de vitórias. “O risco era necessário nesses circunstâncias adversas, mas no geral predominou o futebol moderno de hoje: muita preparação física e muita disciplina tática”, sentenciou.

Rodrigo Leitão, colunista da Universidade do Futebol e técnico da equipe sub-17 do Desportivo Brasil, refletiu sobre a final entre Espanha e Holanda com o seguinte questionamento: acidente de percurso, ou sinal dos tempos?

“Algumas equipes com uma forte cultura para determinando modelo de jogo, nesta Copa, surpreenderam com mudanças – algumas com sucesso e outras nem tanto (algo que há tempos não se via). Para as que fracassaram (claro!), críticas, acusações e culpas. Para as que foram mais longe do que outrora, aplausos, elogios e heróis”, escreveu.

O valor enaltecido por Leitão se baseou na ciência da altíssima performance, necessária e contada pela tecnologia das filmagens, dos recursos de análise de imagem, “da medicina que opera milagres e cura ossos quebrados”, que chegou à final. A representação básica é a pedagogia do esporte, do treinamento desportivo integrado, onde o que é tático, físico, técnico, psicológico e sócio-cultural não se separa. Esta foi a Espanha, país que avança na área de estudos e pesquisas que envolvem meios e métodos de treino no futebol.

“Treinadores e cientistas se confundem em uma coisa só, onde teoria e prática não se separam; lugar em que o futebol é um ambiente riquíssimo para se aprender e produzir coisas novas”, finalizou Leitão.

*Colaborou Bruno Camarão

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