“Ivete sabe mais que muito cartola. Se eles fossem tão bons planejadores e se deixassem mover por tamanho espírito empreendedor, nossos clubes de futebol estariam em outra patamar”. (Benê Lima)
Ivete Sangalo, um bom exemplo corporativo
Respondi pesquisa imensa de uma editora de revistas com foco no público feminino. Uma das perguntas era sobre o perfil da mulher que eu me espelhava. Havia vários nomes, mas com nenhum deles eu realmente me identificava. O que mais se aproximava, do ponto de vista profissional, era com a jornalista Marília Gabriela. Muito longe de ser unanimidade, enxergo nela a entrevistadora que eu gostaria de ser. Ainda mais agora que ela tem presença garantida em três canais de TV simultaneamente. Como disse a Astrid Fontenelle um dia, quando eu crescer quero ser como Marília Gabriela.
Depois de responder à enquete, fiquei com essa questão na cabeça. Quem seria a figura pública, hoje, com a qual eu realmente me identifico? Difícil, há tantas mulheres interessantes em vários campos. Dessa falta do que pensar surgiu uma que chama atenção e para quem eu dei de ombros muito tempo: Ivete Sangalo. Vou tentar explicar melhor para que ninguém saia com má impressão a meu respeito. Afinal, sei que ainda tem gente que me acha sensata, embora eu mesma não me leve a sério em boa parte do tempo.
Ivete deu uma nova roupagem àquele axé infernal que tocava nas emissoras de rádio e TV até então. Chegou num mercado altamente competitivo, com a líder ganhando disparado (Daniela Mercury) e conquistou seu espaço com muita simpatia. Trabalha sua imagem de maneira primorosa, sempre com sorriso e senso de humor. O produto final, se não é excelente, pelo menos é superior ao que até então a Bahia nos mostrava com seu axé music.
Depois de assegurar seu lugar no segmento, enfrentou a chegada de um produto bastante similar. O que no começo parecia um genérico loiro, Claudia Leitte se firmou e dividiu a atenção da mídia e do público. Ivete teve de rebolar mais ainda para manter sua participação de mercado. Competem em alegria, saias curtas, voz grave, camarotes no Carnaval e gênero musical.
Esperta, Ivete sabe que a energia do corpo humano é uma fonte esgotável. Com exceção de Mick Jagger, ninguém consegue pular tanto no palco até os 70 anos. Por isso, montou uma empresa de produção de eventos e agenciamento de artistas, investindo agora na vinda de shows internacionais ao País. Beyoncé foi uma delas e outros nomes já estão em negociação.
Em resumo, é assim que gostaria de ser: uma mulher segura quando os holofotes acendem, com senso de humor e simpatia, que desbanca os competidores mais antigos do mercado e enfrenta bem os novos que surgem, e com visão de longo prazo para sua carreira. Ah, faltou uma coisa: rica.
* Lucia Faria é jornalista, pós-graduada na Universidade de São Paulo (USP) em Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas. Com mais de 20 anos de experiência no mercado, comanda desde 2002 sua própria agência, a Lucia Faria Inteligência em Comunicação.
Comentários
“sem dúvida!”
Jorge, concordo com você. Também adoraria ver grandes talentos se sobressaírem nessa indústria. Mas eles não têm vez. Infelizmente.
Lucia Faria - 16/08/2010 14:47
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“Eu só acho que nada é o que parece!”
Pois , pois... Doutora Lúcia, respeitosamente eu quero complementar dizendo que eu também não sou fã vertente popularesca do axé. Porém quero salientar que dentro desse gênero existem marcas importantes:
1. A Banda Chiclete com Banana (a mais antiga com sucesso) construiu um império. Além do enorme patrimônio, uma legião de seguidores só vista em grandes bandas de rock . embora tenha virado extremamente pobre musicalmente;
2. A Daniela Mercury ao lado da top Gisele Bündchen e da atriz Sônia Braga, é a brasileira com a marca internacional mais forte. Com feitos extraordinários em Portugal, Argentina, França e Uruguai;
3. A Margareth Menezes, uma negra sulamericana falando português quebrou a barreira das rádios americanas. Antes mesmo de fazer sucesso fora da Bahia;
4. O Cantor Gerônimo, embora precursor do gênero popularesco é um dos maiores compositores a versar sobre matrizes afro-brasileiras.
A lista vai longe, uns com sucesso mercadológico, outros com êxito no campo simbólico. Porém, não posso me calar frente ao sucesso atingido através de uma fórmula perversa, que claro não tem origem na Ivete Sangalo, mas é responsável pela distorção do uso de meios de comunicação com concessão pública. A disputa ilegal, feroz, por espaço midiático gerador de fortunas, emburrece, empobrece, destrói carreiras de outros artistas espetaculares e suas expressões muitas vezes singulares. As cantoras Márcia Short e Carla Visi, por exemplo, erraram mercadologicamente ao flertar com a qualidade musical e não ficaram milionárias. Embora, qualquer um com bom senso perceba o potencial artístico acima do geral na história do gênero consagrado como axé. Como tudo é disputa de poder, tenho que me manifestar a favor de como desejo o mundo das coisas, aparentemente fúteis, mas que envolve milhões. A Gal Costa, aquela iconográfica ao lado da Bethânia (sucesso empresarial) e da Elis Regina, teve que mostrar os seios num show para polemizar... coisas de mercado, ou, como seria dito na Bahia inventada por Caymmi e seu sotaque inventado para novelas: "pós-mudernidade". Esse vazio a que me referi antes.Jorge - 16/08/2010 11:46
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“Muito axé”
Oi Jorge, não conheço nenhuma delas tão a fundo. Foi apenas uma maneira de chamar atenção para alguém que tem uma veia tão empresarial. Aliás, cá pra nós, acho o axé um gênero bastante chato
Lucia Faria - 16/08/2010 10:19
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“Ivete não melhorou o axé, nem freiou Cláudia Leite”
Ivete Sangalo não conseguiu manter a qualidade da Daniela Mercury e são cantoras com ambições diferentes. Ivete também ajudou a música baiana a ser mais banal e menos ligada a identidade local, desprezou os bons costumes e valorizou o uso de palavrões. É pós-moderna sim e relaciona-se com os fãs adolescentes de forma manipuladora através muitas vezes de venda de falsas promoções. Tornou seu trabalho tão inconsistente que a sua cópia de mercado tem realizado produções mais rebuscadas.
Atualmente a Daniela Mercury alcança consagração internacional, com prestígio e respeito. A Cláudia Leitte prepara-se para uma carreira de longo alcance. Enquanto a Ivete Sangalo optou por virar uma empresária do entretenimento. Eu não gostaria de ser igual a ela, ao final se torna uma nova Xuxa, muito dinheiro e vazia de sentido.Jorge - 14/08/2010 17:26
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