Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, agosto 30, 2010

“Quando o discípulo está pronto o mestre aparece” – Em Off

AUTOR: CLARIMUNDO D’OITIVA (pseudônimo)

Em Off 
AQUI VOCÊ ENCONTRA JORNALISMO DE VERDADE

ANO X - ATUALIZAÇÃO N.º 511 - 30/08/2.010 - (03:30h)

PARCIAL – Existem empresas de comunicação e “profissionais de imprensa” que defendem o direito de se posicionarem publicamente sobre suas preferências políticas. Tomam como base os Estados Unidos, onde empresas e profissionais de comunicação expressam publicamente suas preferências. O modelo norte-americano, inclusive, torna extremamente benéfico e lucrativo o período eleitoral: como não existe horário eleitoral lá os candidatos que desejam publicidade são obrigados a pagarem pela mídia que utilizam. Esse também é o sonho de consumo por aqui, muito embora o horário eleitoral – que as empresas de comunicações e seus lacaios nas redações tentam dizer que é gratuito – tenha uma contrapartida em isenção fiscal como compensação pelo horário utilizado no rádio e na TV.

PARCIAL – Como cidadão, todo jornalista tem o total direito de optar politicamente por quem desejar, por ideologia que quiser, por partido de sua preferência, mas não pode, em hipótese alguma, deixar que essa opção se sobreponha ao mister jornalístico, que se transforme em instrumento de privilégio e de obtenção de vantagens e satisfação de interesses pessoais. Os defensores dessa “liberdade” costumam tachar a imparcialidade jornalística de utopia, mas não se referem à corrupção desse princípio, presente de maneira implícita – muitas vezes explícita mesmo – em matérias redacionais e notas em colunas.

PARCIAL – Foi o que aconteceu semana passada, em matéria publicada na edição do dia 25/08/10 do jornal O Povo, assinada por Ítalo Coriolano, que teve o título “Cid Gomes supera Lúcio e Tasso na geração de empregos”. O texto versava sobre dados apresentados pelo governador e candidato à reeleição no debate promovido pela TV O Povo, do mesmo grupo do jornal, segundo os quais em sua gestão teriam sido criados mais empregos do que nos governos de Lúcio Alcântara e Tasso Jereissati. Independentemente da exatidão ou frieza dos números, sua exposição simples sem contextualização é uma forma de reverberar discursos eleitoreiros.

PARCIAL – O texto trazia: “Para ajudar o eleitor a ter uma noção clara sobre esse tema crucial para a vida da população – geração de empregos -, O POVO decidiu fazer o “tira-teima” sobre os dados com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E constatou que o governador Cid Gomes estava certo”. A matéria, entretanto, não trouxe uma análise sobre a conjuntura na qual esses dados foram aferidos. Jogar simplesmente os números foi reforçar o discurso e a campanha do governador. E isso veio através do uso da matéria no programa eleitoral de Cid no rádio e na TV. O jornal, evidentemente, não se manifestou pelo uso eleitoral dado a seu material.

PARCIAL – Na matéria coordenada publicada na mesma edição, do mesmo autor, a reverberação: “Com dados tão positivos, a geração de empregos vem sendo constantemente explorada pela propaganda eleitoral do governador Cid Gomes (PSB), que tenta mais quatro anos à frente do Palácio Iracema”. No próprio texto uma constatação: os empregos gerados pelas obras públicas são sazonais e destinadas aos trabalhadores da construção civil.

PARCIAL – Três dias depois o jornal publicou uma matéria sobre pesquisa de intenção de voto para o Senado, feita pelo instituto Datafolha, apresentando o senador Tasso Jereissati como detentor de 52% das intenções de voto. A estratégia segue a mesma utilizada por emissoras de rádio e TV quando divulgam sua performance nas pesquisas de audiência. Emissoras como a Verdes Mares AM, por exemplo, apregoam possuir até 90% da audiência. Em número relativos, esse percentual confere, mas não traduz a realidade do posicionamento da emissora. Para isso é necessária a análise dos números relativos. Mas a emissora omite isso para dar a impressão de que 90% da população de Fortaleza e escuta. Quando comparado com os números relativos, vê-se que a parcela que ouve rádio não excede 5%, e desse percentual é correspondente os 90% da VM. Como o ouvinte e, principalmente, o anunciante não tem acesso a esses números e não sabe interpretar as pesquisas, fica com a informação distorcida... Com a conivência de agências de publicidade e propaganda.

PARCIAL – Segundo os números da pesquisa, publicados na matéria, 62% dos eleitores ainda não definiu o voto completo para o Senado. Isso significa que o senador tucano dispõe de 52% do eleitorado que já se definiu, minoria diante da base total de cálculo. Sobre a matéria envolvendo números de geração de empregos, o candidato Lúcio Alcântara publicou em seu blog na rede mundial de computadores um texto que enviou ao editor de política do jornal O Povo, Gualter George. “Estranhei a manchete ‘Cid Gomes supera Lúcio e Tasso na geração de empregos’, apenas ecoando o discurso eleitoreiro do candidato à reeleição. Essa análise superficial, sem contextualizar historicamente as diferentes épocas comparadas, não faz jus à tradição de bom jornalismo do O Povo. Como um sofisma da área de comunicação da candidatura do PSB ainda se justifica. Mas, aceitar o discurso oficial e estampá-lo como manchete é discutível”. Sem se imiscuir na intenção eleitoral da manifestação, a interpretação do ex-governador e candidato é correta e o questionamento procedente.

PARCIAL – Continuou o candidato do PR: “A matéria faz simplesmente um balanço quantitativo do número de vagas geradas durante as gestões de Tasso, Lúcio e Cid - e declara que o atual governo já conseguiu gerar 2 vezes mais empregos que Tasso - e afirma que conseguirá - até o final do ano - superar o número de empregos somados de Tasso e Lúcio. Qual foi mesmo a política econômica desenvolvida por este governo para geração de emprego? O jornal não apontou. O Governo Federal, por exemplo, alega que a geração de emprego se deve à política nacional”. Em termos jornalísticos os questionamentos são absolutamente pertinentes. Citando a mesma fonte utilizada pelo jornal para embasar a matéria, o candidato afirmou: “Se compararmos o primeiro ano do primeiro governo Lula (que coincide com o início da gestão Lúcio) e o primeiro ano do segundo governo Lula (junto com Cid) podemos verificar que em 2003, enquanto o Ceará gerou 18.645 vagas de emprego, o Brasil gerou 645.433. Já em 2007, enquanto o Ceará gerou 39.722, o Brasil gerou 1.617.392. Também é fácil visualizar que a tendência de crescimento era igual em todo o país, e não somente no Ceará. (Fonte: MTE/Caged)”.

PARCIAL – Em época de eleição o cuidado dos meios de comunicação devem ser redobrados quanto a matérias que podem suscitar questionamentos sobre a isonomia de tratamento aos candidatos. Exceto se a empresa tiver deliberadamente o desejo de sobrepor interesses particulares sobre o jornalístico.

OMISSÃO – A edição d’O Povo do dia 29/08/10 trouxe uma matéria intitulada: “Relatório aponta impunidade de policiais envolvidos em grupos de extermínio no Ceará”, que trouxe uma grave omissão no texto. Foi publicado: “Entre os casos analisados pelo relatório, o mais notório é o de uma rede de farmácias que contratou quatro policiais militares e sete civis ‘para agredir e eliminar adultos e adolescentes acusados de roubar as lojas da rede’. O documento analisa episódios de tortura e homicídio, inquéritos e processos judiciais de cinco mortes e mais 19 vítimas de lesão corporal”. A “rede de farmácias” é a Pague Menos, cujo nome foi omitido pelo jornal. Incrível como a mídia local se omitiu e se omite nas questões que envolvem a empresa de Deusmar Queiroz. O sítio Em Off denunciou o grupo contratado pelo empresário e liderado pelo capitão PM Castro dois anos antes do caso ganhar as manchetes da mídia local.

OMISSÃO – O texto trouxe o depoimento de Roberto Freitas Filho, representante da Associação Nacional de Defensores Públicos: “os grupos de extermínio, no Ceará fazem o serviço sujo de muita gente importante. Nós temos um gravíssimo desvio de função do efetivo policial do estado. Tem gente contratando serviço policial terceirizado para fazer o ilícito. É o desmonte do efetivo do Estado nas suas funções próprias”. Não é de hoje que se sabe da participação de policiais atuando como “capangas” dessa tal “gente importante”. Cabe identificar policiais e “figurões” que montam esquemas de execuções no Ceará, mas para isso é preciso vontade de fazer e determinação para cumprir o dever institucional.

INCOERENTE – Depois de passar anos esbravejando no programa Cidade 190 que o Ceará não tinha segurança pública, que a Polícia não cumpria seu papel institucional eis que o apresentador do programa, deputado estadual e candidato a deputado federal Edson Silva surge no horário eleitoral dizendo que nenhum governo investiu tanto em segurança como o atual e que o “trabalho” precisa ter continuidade. Típico comportamento oportunista: tinha um discurso no programa e outro – ou melhor, nenhum – na Assembléia, onde não abordava o assunto, exceto quando, acertadamente, o secretário Roberto Monteiro determinou o cumprimento do preceito constitucional da preservação de imagem de pessoas sob a custódia do Estado, para criticá-lo. Está mais do que na hora do eleitor dar uma resposta a todos os aproveitadores, oportunistas e espertalhões que utilizam a mídia como trampolim eleitoral.

PARA REFLETIR: “A política é prática e objetiva: negocia-se com o criminoso, se ele tiver o que você deseja” (CaioSemprónio Graco, senador romano)

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Benê Lima