Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, agosto 24, 2010

“Em Off” on line [a coluna] – o ombudsmanato

Em Off
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IMPRENSA CEARENSE
Atualizado todas as semanas na segunda-feira

 

ANO X - ATUALIZAÇÃO N.º 510 - 23/08/2.010

ESTRANHO – Estranho como mesmo diante de tantos indícios, provas, fatos o Ministério Público – e a Polícia – ainda não pediu a quebra do sigilo bancário e telefônico dos diretores da torcida organizada Cearamor. Somente a pasta de cocaína apreendida na sede da quadrilha foi avaliada em R$ 1,5 milhão. Para se fundamentar mais as provas e, principalmente, descobrir a capilaridade que essa gangue possui no cometimento de ilícitos, essa atitude é indispensável.

ESTRANHO – Não é possível que o MPE e a Polícia pensem que apenas o preposto do real mandatário da Cearamor, Jeysivan dos Santos é o único e, pior, o principal articulador de toda a gama de ilícitos praticados pela “torcida organizada”. R$ 1,5 milhão em pasta de cocaína não é algo que bandido pé-de-chinelo tenha condição de movimentar. Evidentemente a torcida era usada como fachada para que pessoas explorassem o crime. Cabe identificar quem são – além dos que praticamente todos já conhecem – e colocá-los no lugar que lhe é de direito: a cadeia.

ESTRANHO – Jeysivan, o “Jey”, já responde processo por homicídio e tentativa de homicídio. Do outro lado o presidente da TUF, Mexicano, também responde a processo por homicídio. Zairton Cavalcante dos Santos Filho, fundador e ex-presidente da torcida Jovem Garra Tricolor, está preso cumprindo pena por ter assassinado dois torcedores, um do Ceará e outro do Paysandu (PA). O que quer mais o MPE para se convencer de que as torcidas organizadas se transformaram, há muito tempo, em quadrilhas organizadas?

ESTRANHO – O fato é que não houve nenhuma surpresa com o resultado da ação da Polícia na sede da torcida organizada, tampouco no que já se apurou no inquérito. Infelizmente continua a omissão da “imprensa esportiva” (?) local – para se ter uma idéia, matéria publicada pelo jornal O Povo semana passada, sobre crimes resultantes da ação das “organizadas” simplesmente omitiu que Mexicano assassinou um torcedor do Botafogo no mesmo instante em que torcedores do alvinegro carioca interceptaram e invadiram ônibus da TUF, no Rio de Janeiro –. Medo, conivência, omissão ou tudo isso junto?

ELEIÇÃO – No Rio de Janeiro uma passeata realizada no domingo, dia 22/08, reuniu humoristas que protestaram contra uma lei em vigor desde 1997, que os proíbe de fazerem piadas que denigram a imagem de detentores de mandatos eletivos, a partir de noventa dias antes da eleição. Ainda que se possua um discurso de censura, tolhimento é preciso analisar a legislação por dois prismas. A argumentação é de que a lei fere o direito constitucional de liberdade de expressão, que se trata de uma mordaça. É possível, mas o outro lado, evidentemente, não foi enfatizado pelos humoristas.

ELEIÇÃO – O ato foi apoiado e incentivado pelos meios de comunicação de massa. Obviamente, interesses pessoais corporativos. Afinal, o problema é que um determinado programa de humor pode escolher determinado(s) candidato(s) para se tornar alvo das piadas que denigrem ou até mesmo de enaltecimento, transformando-se em apêndices dos programas políticos do horário eleitoral no rádio e TV, que a própria mídia insiste em dizer que é gratuito sem sê-lo.

ELEIÇÃO – Os críticos dessa lei podem, ainda, argumentar que a Justiça está aí para dirimir dúvidas, julgar querelas e evitar abusos. Ora, com a “rapidez” da Justiça nesse país – e com especial ênfase, a Justiça Eleitoral – os abusos seriam coibidos depois, mas bem depois que os resultados efetivos ocorressem. Desse tipo de distorção, por exemplo, surgem os “profissionais de imprensa” que utilizam o espaço que possuem para fazer campanha política subliminar, muitas vezes até de maneira aberta, descarada.

ELEIÇÃO – Dessa forma surgem os “Fagundes”, com a aquiescência e a vista grossa do Ministério Público Eleitoral. O maior deles, Alan Neto, mais uma vez usou sua coluna dominical para puxar o saco dos já tradicionais bajulados: Tasso Jereissati, Eunício Oliveira, Alexandre Pereira, Salmito Filho. Desse último, escreveu o “brilhante” tópico: “AO VIVO E EM CORESBorbulhante avenida Dom Luiz, esquina com Virgílio Távora, o presidente da Câmara Municipal, Salmito Filho, colava adesivos nos carros da dupla Cid e Dilma. Era surpreendido com a pergunta – ‘É você mesmo, Salmito?’. Ao vivo e em cores”. De uma vez babada de ovo em Salmito, Cid Gomes e, de quebra, a presidenciável petista. Triste.

PASSADO – A coluna Política (jornal O Povo, edição do dia 22/08, assinada por Kamila Fernandes) trouxe o seguinte comentário: “Nesta campanha, outro exemplo. O presidenciável José Serra (PSDB) surge na propaganda eleitoral sorridente e sendo chamado de Zé, com uma trilha sonora bem nordestina de fundo. Tudo como forma de tentar apagar a imagem que ficou da eleição de 2002, quando foi desbancado por Lula. Na época, Serra, sisudo, foi considerado antipático, antinordestino, anti-Lula, o que, convenhamos, não é um adjetivo que qualquer político queira carregar. Tanto que agora ele apela até ao próprio Lula e se compara a ele, demonstrando que há mais elementos que os aproximam do que os afastam. Mas como aplicar essa fórmula sem parecer absolutamente artificial? Serra, sim, e não o Zé, ainda não conseguiu esse feito. E, para piorar, enfrenta uma candidata sem história e, por isso mesmo, com todas as possibilidades abertas de formar qualquer imagem de si, o que vai ser determinado a partir de seus erros e acertos. Serra já errou no passado e isso não dá para ser apagado como num passe de mágicas. A memória das pessoas individualmente pode não ser lá muito boa, mas o imaginário carrega significações que vão dando sentido a cada ação, por mais que o tempo passe. Transformar demanda tempo, não bastando só a boa mão de um marqueteiro. As próximas pesquisas vão dizer se essa minha impressão está certa”.

PASSADO – Dizer que Dilma Roussef é “uma candidata sem história e, por isso mesmo, com todas as possibilidades abertas de formas qualquer imagem de si” é rasgar o que a história registrou. O passado da agora petista é bem conhecido. Dilma fez história na guerrilha, participando de ações de organizações, digamos, esquerdistas, como assaltos e sequestros. Também é de conhecimento público o engajamento dela no apoio ao então presidente Fernando Collor de Melo, quando sofria processo de impeachment, no início dos anos 90. Naquela época, brizolista e pedetista roxa, seguiu o comando do chefe, Leonel Brizola, que manchou seu currículo com o apoio ao presidente que acabou passando para história como o primeiro a sofrer processo de impeachment e ter seu mandato cassado pelo Congresso.

PASSADO – A postulante do PT à presidência também fez história no Ministério das Minas e Energia, onde por dois momentos garantiu que não haveria apagão no País e, dias depois, ele acabou ocorrendo. As possibilidades estão abertas para que os marqueteiros de sua campanha forjem outra imagem dela, diferente da registrada nos anais da história. Aliás, a própria redatora reforça a imagem da neo-petista quando escreveu que “a memória das pessoas individualmente pode não se lá muito boa, mas o imaginário carrega significações que vão dando sentido a cada ação, por mais que o tempo passe”. Seria como dizer, por exemplo, que o então jovem Joseph Ratzinger não participou da Juventude Hitlerista, do Partido Nazista Alemão, durante o III Reich, aos quatorze anos. Até porque seu pai, também chamado Joseph, era oficial de Polícia do Reich. Dois anos depois sentou praça no exército nazista alemão.

PASSADO – As possibilidades citadas pela colunista incluem, ainda, a produção de um currículo fraudulento, onde a candidata petista disse ter doutorado em teoria economia e também doutorado em economia monetária e financeira. Não tem, nem um nem outro, tampouco mestrado. É apenas graduada em economia.

INOCÊNCIA – Comentando a cobertura do jornal sobre as prisões e apreensões efetuadas na sede da torcida Cearamor, o ombudsman d’O Povo, Paulo Rogério, escreveu: “Não houve a preocupação de ouvir as torcidas organizadas de outros times e a presunção da inocência foi esquecida”. Militante durante bom tempo na editoria de esportes, o ombudsman parece ter estendido a prática para o “ombudsmato”. Acertou quanto à oitiva de outras torcidas, até porque a Cearamor não é a única no Estado e não é a pioneira nem exclusiva em denúncias do cometimento de ilícitos, mas derrapou quanto à exortação da presunção de inocência. Ou acha que as drogas, armas, balança de precisão caíram de mansinho do céu? Ou que o carro roubado acabou se dirigindo e entrando sozinho na sede da torcida?

FILME – E o jornal O Povo conseguiu a proeza de confundir o filme “Os inquilinos”, brasileiro, dirigido por Sérgio Bianchi e estrelado por Caio Blat com “O inquilino” (Le locataire), do diretor Roman Polanski, onde ele interpreta um polonês radicado na França que aluga um apartamento onde uma mulher havia se suicidado. Resultado: a confusão foi grande entre os que usam o jornal como instrumento para programar o final de semana. Ao ombudsman o editor adjunto do Núcleo de Cultura & Entretenimento (parece título daquelas secretarias e/ou ministérios criados para não funcionar e empregar aliados), Rodrigo Rocha, creditou o erro aos próprios cinemas, afirmando que o cinema em questão, localizado no Iguatemi, envia apenas o nome dos filmes, com salas, horários, mas sem nenhuma outra indicação.

FILME – O caso lembra outro que ocorreu no próprio jornal O Povo, quando uma repórter do Vida & Arte disse que o diretor espanhol Luis Buñuel havia nascido na região da Andaluzia, no sul da Espanha, por ele ter dirigido o filme “Um cão andaluz”, sua primeira obra, em 1928 – dentre outras obras primas o espanhol dirigiu o inesquecível “Belle de jour” –. Na verdade Buñuel nasceu em Calanda, região de Aragão, leste da Espanha. A moça viu no currículo do diretor esse filme e deduziu que ele teria nascido na Andaluzia. O que se deve “lamentar” – como se expressou o editor adjunto ao ombudsman – não é o fato dos cinemas enviarem apenas o nome dos filmes, sem mais informações, mas o despreparo, desconhecimento e, pior, irresponsabilidade dos jornalistas que têm a obrigação de saber sobre aquilo que escrevem.

PARA REFLETIR – “Feliz aquele que vence o egoísmo, alcança a paz, encontra a verdade. A verdade liberta-nos do mal; não há no mundo libertador igual. Confia na verdade, mesmo que não sejais capazes de compreendê-la, mesmo que no começo vos pareça amarga a sua doçura” (Buda).

 

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Benê Lima