por Luiz Zani
Sinto uma expectativa como havia muito não era vista em torno de um amistoso da seleção brasileira. Estávamos acostumados a ver nesses jogos meros caça-níqueis, um jeito de a CBF explorar (no bom e no mau sentido) o seu melhor produto, aquele mais vendável em qualquer praça, o time que os locutores de antanho chamavam de “escrete canarinho”, lembram?
Pois bem, parece que o amistoso de hoje com os Estados Unidos tem outro caráter. Como se alguma coisa diferente fosse acontecer e por isso nos desperta do tédio habitual com os amistosos da seleção. É que se trata de um primeiro passo, talvez, rumo a uma nova filosofia de trabalho. Expectativa de um time mais jovem, que jogue mais no ataque, seguindo mais de perto um estilo de jogo que nos consagrou no passado e que apreciamos até hoje. Um time que seja “mais” do vínhamos obtendo há muitos anos.
Os sinais dessa carta de intenções de Mano Menezes estão presentes na boa convocação que fez, dando oportunidade aos jovens valores do futebol brasileiro. Rapazes que, por sua idade, poderão fazer parte da equipe olímpica e, em especial, da seleção que terá a responsabilidade de tentar um título mundial aqui mesmo, em casa, em 2014. O desafio será formar um time que encare esse desafio jogando bem – quer dizer, jogando com estilo e eficiência. Uma coisa não vai sem a outra. Hoje será a hora de tirar do papel essa carta de intenções e colocá-la na prática, no campo de jogo.
No entanto, eu não espero muita coisa dessa primeira partida. Claro, Mano pode escalar jogadores habituados a jogar juntos em seus clubes, como é o caso da dupla Ganso & Neymar, ou mesmo colocar junto o quarteto santista, completado por André e Robinho. Mas é claro que o time, em seu conjunto, não está habituado a jogar junto e deve se ressentir da natural falta de entrosamento. Além disso, não vai pegar nem um bobinho pela frente – quem viu os Estados Unidos jogarem na Copa sabe que se trata de uma seleção enjoada, dura de vencer. Tivemos confrontos complicados com eles no passado, como na Copa do Mundo que jogaram em casa, em 1994, e também na última Copa das Confederações.
Então é preciso ter calma com o novo time. Calma com Mano. De minha parte, a única coisa que espero desse primeiro amistoso é ver já o time jogando em estilo brasileiro. Vamos deixar o estilo europeu para os europeus que, aliás, jogaram de maneira mais ofensiva e bonita que os sul-americanos nesta última Copa, não por nada vencida pela Espanha, com seu futebol cheio de estilo. Neste primeiro jogo da seleção brasileira espero uma única coisa: ver que a era dos brucutus foi abolida de vez e o futebol brasileiro voltou a um padrão civilizado.
Muita calma
Calma também é o que deve ter a torcida do Palmeiras. Com mais este empate do fim de semana já comecei a perceber as primeiras críticas a Luiz Felipe Scolari. Estou distante de São Paulo, a trabalho na serra gaúcha, mas até por aqui já comecei a ouvir cornetas alviverdes soando ao longe. Há certa impaciência na torcida, natural até pelas expectativas criadas quando da contratação do técnico badalado, o favorito para assumir a seleção brasileira. Por mais que a gente diga e insista que não existem milagreiros, e que os “professores” só conseguem fazer seu trabalho quando dispõem de material humano de boa qualidade, sempre alguns deles trazem consigo a aura de salvadores da pátria.
Cada vez menos isso dá certo. Vejam o caso de Luxemburgo no Atlético Mineiro. Depois de o Galo estar a seis jogos sem vencer e 440 minutos sem marcar um único gol, Luxa se limitou a diagnosticar: falta fome de bola ao time.
Convenhamos: “fome de bola” é uma metáfora interessante do futebol e é mesmo fundamental que uma equipe tenha vontade de jogar e vencer. Mas a ausência da tal fome é pífia explicação vinda de profissional tão badalado e tão bem pago. Dele espera-se mais e é evidente que essa crise do Galo tem raízes mais profundas do que uma hipotética inapetência do elenco. Técnicos são parte do problema e também da solução, nos casos felizes. Mas não são a única explicação para os misteriosos e complexos caminhos do futebol.
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Benê Lima