Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, setembro 13, 2010

Ombudsmanato: uma visão crítica dos fatos

Em Off
AQUI VOCÊ ENCONTRA JORNALISMO DE VERDADE

IMPRENSA CEARENSE
Atualizado todas as semanas na segunda-feira

ANO X - ATUALIZAÇÃO N.º 513 - 13/09/2.010 - (03:30h)

OMBUDSMAN – A coluna dominical do Ombudsman (jornal O Povo), Paulo Rogério, abordou erros significativos. Em matéria publicada no caderno Vida & Arte, sobre o lançamento de um livro sobre um dos mais famosos repentistas cearenses – talvez o mais famoso – Aderaldo Ferreira de Araújo, nascido no Crato e que morreu aos 89 anos, em 1967, em Fortaleza. O jornal publicou uma foto que não era de Aderaldo, mas de Cego Oliveira, também cearense, ao lado do cineasta Rosemberg Cariry. “Saber um pouco de história teria ajudado a evitar o erro. Cariry nasceu em 1956. Cego Aderaldo morreu em 1967. Portanto o primeiro tinha somente 11 anos quando o repentista faleceu. Nem pensava em ser cineasta e ter o grande bigode que a foto reproduz”, escreveu o ombudsman.

OMBUDSMAN – Continuou o texto: “No Erramos, a editoria admitiu o engano alegando que houve falha na indexação das fotos enviadas pelo Banco de Dados, setor do jornal que fornece material de pesquisa para a Redação. Na verdade houve falha geral. Da indexação das fotos, escolha da imagem, composição da legenda até a revisão. O jornalista precisa estar atento a isto tudo, a todos os detalhes na hora da edição. Tudo é informação. Para o leitor não importa quem é o culpado. É o jornal que errou e pronto. Seja na Capa, na Economia ou nos Populares. Tudo tem um só nome: O POVO”. A velha terceirização da responsabilidade, mas, como bem frisou o ombudsman, todos erraram. Em jornalismo o erro não é solitário, é solidário.

OMBUDSMAN – Em seguida, discorreu sobre outros erros: “Falhas com dados históricos são preocupantes e revelam uma questão ainda maior no profissional de jornalismo - e de outras classes: a má formação escolar. São erros injustificáveis diante das facilidades que a Internet disponibiliza para seus usuários através de enciclopédias e gramáticas on line. Depois de chamar Tiradentes, em abril, de José da Silva Xavier, desprezando o Joaquim do primeiro nome, e colocando-o como ‘O homem do feriado’, O POVO simplesmente achou por bem mudar a história do Brasil Colônia. Ao noticiar como seriam as comemorações do Dia da Independência, comemorado no último dia 7, a editoria Fortaleza afirma, na edição de terça-feira, que a cidade de São Paulo nasceu às margens do riacho Ipiranga, mesmo local onde Dom Pedro deu o ‘Grito do Ipiranga’. Errado. O município de São Paulo foi fundado em 1554 e cresceu em torno de um colégio jesuíta, construído no alto de uma colina entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, hoje área central da capital paulista, bem longe do riacho do Ipiranga, zona Sul da cidade. Pior é que no mesmo dia, algumas páginas adiante, na editoria de Economia (página 24), O POVO muda totalmente o tradicional Dia de Nossa Senhora Aparecida de doze de outubro para dois de outubro. Uma antecipação de 10 dias. Tem explicação?”.

OMBUDSMAN – Infelizmente a reflexão parou por aí, na má formação escolar do profissional de jornalismo. Como bem frisou o ombudsman, com as facilidades hodiernas, erros ficam cada vez mais injustificáveis. A reflexão deveria ter ido bem além. Ora, se alguém passa por uma árvore e vê, no alto de um de seus galhos, uma tartaruga, com certeza ficará intrigado, pois tartarugas não sobem em árvores. Certamente, alguém a colocou lá. Profissionais de jornalismo despreparados e com má formação estão abarrotando as redações porque alguém os colocou lá. Como já exposto, o erro no jornalismo é solidário. O ombudsman poderia ter questionado o critério utilizado pelo jornal no recrutamento de seus profissionais. Mesmo com os propalados e festejados programa de “novos talentos”, etc., o episódio demonstra que a forma como os jornalistas são recrutados é muito mais falho e deficiente do que a formação escolar dos “profissionais” que acabam despejados nas redações. Afinal, qual o critério utilizado? Pouca formação para não ameaçar o posto de quem seleciona? A capacidade de ser um mero executor de ordens? Os erros se avolumam na mesma proporção da deficiência da formação escolar dos jornalistas e na forma distorcida como são selecionados por seus próprios pares.

OMBUDSMAN – Ainda sobre a coluna do Ombudsman d’O Povo, foi abordado o fato da matéria sobre o agora ex-técnico do Ceará Mário Sérgio, que teve rápida em tumultuada passagem pelo alvinegro. “Que o Ceará está em má fase no Campeonato Brasileiro ninguém pode negar, os resultados provam isso. Mas O POVO exagerou ao publicar, na primeira página da edição de sábado (4) a chamada ‘Duelo do amado contra o odiado’ ao se referir ao jogo entre Ceará x Vasco, no confronto dos técnicos PC Gusmão, ex-Alvinegro, e Mário Sérgio, que havia assumido a direção do time cearense cinco partidas antes. É muito pouco tempo - 20 dias - para alguém ser odiado por milhares de torcedores. Criticado, pressionado até que é compreensível, mas o termo odiado foi demais e provocou o protesto de alguns leitores/torcedores (...) Há de se levar em conta a paixão dos torcedores em cada crítica. Há certos arroubos da torcida, mas esse ‘odiado x amado’ não foi a opção mais correta, mesmo com Mário Sérgio sendo demitido uma semana depois”. Está correto o ombudsman.

OMBUDSMAN – Abstraindo-se da paixão do torcedor e ainda que a estratégia da diretoria e do ainda técnico tenha sido a de desviar o foco do fiasco do time, jogando a culpa na imprensa, é clara a forma como a maioria da “imprensa esportiva” tem exercido marcação cerrada no único time cearense na primeira divisão do futebol brasileiro. O problema é que, se por um lado o torcedor não consegue dissociar a paixão da análise da produção jornalística – o que é compreensível, porque o leitor em sua maioria é movido por paixão e, principalmente, não é jornalista para ter essa capacidade, percepção – por outro “profissionais da imprensa esportiva” não conseguem fazer o mesmo quanto ao seu trabalho. Por isso é danoso quando o profissional de imprensa explicita sua paixão na área na qual trabalha. Não muito difícil é comum ver repórteres, editores, narradores, comentaristas torcendo por seus times de coração em bares e restaurantes. Muitas vezes fazem isso durante a própria jornada de trabalho.

OMBUDSMAN – Dessa forma irá suscitar aos leitores/ouvintes/telespectadores o questionamento quanto à imparcialidade quando do trato do time pelo qual o profissional do meio não torce. Nessa carona embarcam cartolas e treinadores/jogadores, aproveitando a paixão do torcedor e a falta de profissionalismo dos que até fazem questão de explicitar sua preferência clubística e incitam situações para mascarar sua incompetência. Após a citada matéria a diretoria e torcidas organizadas resolveram aproveitar e deflagrar – ou pelo menos tentar – uma campanha de boicote à mídia esportiva, inclusive com logomarca e um manifesto: “Parece que o objetivo é realmente acabar com o Ceará. Tudo que o presidente do Ceará, Evandro Leitão, falou, acabou acontecendo hoje pela manhã nos jornais de grande circulação da cidade. Tanto o Jornal O POVO, quanto o Diário do NE, parecem que não ouviram a entrevista do presidente na FM, e preferiram publicar notícias de boatos que ouviram falar na imprensa local, um fato deplorável. Está na hora da torcida Alvinegra tirar suas conclusões. Como forma de protesto, a torcida do Ceará, em diversos segmentos, principalmente no Orkut, junto com o Ceará Unido, já criou uma campanha que está com uma adesão recorde, e pretende, além da criação de faixas em protesto aos dois sistemas de comunicação, fazer valer o seu grito. Uma imagem já foi criada e vem sendo divulgada intensamente na internet”.

OMBUDSMAN – Ora, é fato que abster-se de ouvir/ler/assistir quem teima em distorcer o mister jornalístico e se transforma em torcedor com microfone/caneta(teclado) na mão é mais do que um direito, é um dever do torcedor que preza pela boa informação, mas isso não pode, em hipóteses alguma, ser utilizado para mascarar a incompetência e o oportunismo. É fato que o time alvinegro vem sendo alvo de um problema que a atual gestão criticou e prometeu que não mais teria lugar – a exploração política, através dos presidentes da Executiva e do Conselho Deliberativo, respectivamente, Evandro Leitão e André Figueiredo, ambos candidatos a cargos eletivos –. O torcedor precisa ficar atento para não continuar sendo bucha de canhão nessa briga entre aproveitadores. É nítida a disputa de interesses entre os dois citados e o dublê de radialista/deputado estadual Gomes Farias.

CABO ELEITORAL – E o líder da banda Chiclete com Banana, chamado Bel, está aparecendo no horário eleitoral pedindo votos para a campanha de reeleição do deputado federal Marcelo Teixeira. A imprensa local até noticiou o fato, mas apenas como fato pitoresco. Mais um exemplo da superficialidade da mídia. Acaso tivesse tido o trabalho de dar uma pesquisada teria constatado que o fato não ocorre pela "amizade" que o "axezeiro" apregoa ter com o parlamentar, mas pelo favorecimento do deputado à banda baiana através de inúmeras emendas parlamentares que possibilitou com que prefeitos que fazem parte de seu esquema político realizassem festas com verba federal, via Ministério do Turismo. O peemedebista "mata" dois coelhos com uma cajadada só: atende prefeitos que lhe prestam apoio e reforça o caixa e a campanha através do uso da imagem do grupo baiano. Tudo bancado pelo contribuinte.

JUSTIÇA – Acaso houvesse, de fato, Justiça por essas plagas, a candidatura à reeleição do governador Cid Gomes seria impugnada por ter sido flagrado utilizando jatinho de empresa que mantém contratos com o Executivo estadual, o que é proibido pela lei eleitoral. Motivo mais do que comprovado, prova robusta com foto e tudo. Entretanto, vivemos num País onde Estado Democrático de Direito nada mais é do que uma peça de ficção. E foi preciso primeiro a imprensa nacional noticiar o fato para a local ir, forçadamente, a reboque.

CURANDEIRISMO – Na década de 50, o Brasil começou a tomar conhecimento da atuação de José Pedro de Freitas, conhecido pelo nome de “Zé Arigó”. O mineiro era considerado médium e dizia incorporar o espírito de Adolph Fritz, médico alemão morto durante a Primeira Guerra Mundial, e passou a realizar “cirurgias espirituais”. Foi o bastante para que, em 1956, a Associação Médica de Minas Gerais o processasse pela prática de curandeirismo, sendo condenado em 1958 a quinze meses de prisão. Teve a pena reduzida à metade e sequer chegou a ser preso, recebendo um indulto do então presidente Juscelino Kubitschek, que chegou a levar a filha, acometida de cálculos renais, para ser “atendida” pelo médium. Seis anos depois, novamente condenado – dessa feita por exercício ilegal da medicina –, Zé Arigó acabou cumprindo sete meses de prisão.

CURANDEIRISMO – Arigó fazia “operações” utilizando canivetes e facas. Sua atuação atraiu, obviamente, a atenção de políticos e o médium acabou se envolvendo politicamente com o então senador Carlos Alberto Lúcio Bittencourt, que aproveitou-se de sua popularidade para aferir ganhos eleitorais. O apanhado histórico foi feito para traçar um paralelo com o que hoje fazem os pastores e bispos que surgem nas telas de TV prometendo cura de todo o tipo de doença, de câncer à AIDS. Não é possível que Ministério Público e, principalmente, a mídia continuem se fingindo de cegos. Trata-se do cometimento do crime de curandeirismo e charlatanismo, previstos, respectivamente, nos artigos 284 e 283 do Código Penal. Entretanto, acintosamente, pastores e bispos surgem nos programas em emissoras de TV anunciando curas milagrosas.

CURANDEIRISMO – Existe um limite entre liberdade de culto e a prática criminosa do curandeirismo e do charlatanismo. Em nome de uma suposta liberdade de crença não se pode rasgar o que dispõe a lei, tampouco dizer que essas “curas” são obras demiúrgicas. Trata-se de uma das piores formas de se aproveitar da boa fé, da credulidade pública. Aproveitando-se das mazelas da população, das deficiências e ausências do Estado esses oportunistas acabam manipulando e engabelando incautos em busca de locupletação e, de quebra, também aferir dividendos políticos. Afinal o que tem “atado” as mãos do MPE e da mídia?

PARA REFLETIR – "A verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ver com novos olhos". (Marcel Proust)

link da coluna: http://emoffcearense.110mb.com/imprensace.htm

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima