Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, setembro 21, 2010

Álcool no limite

Durante um jogo de futebol, 70% da energia gasta resultam em produção de calor. Somente 30% representam a energia gasta com contração muscular

Caroline Buss e Fernanda Mendonça*

O consumo excessivo de álcool é uma grande ameaça ao bem-estar, agravando problemas sociais, contribuindo para grande parte dos acidentes de trânsito, levando a comportamentos de risco e perda de produtividade.

Para o atleta de futebol, além disso, o álcool não faz parte de um estilo de vida compatível com o alto rendimento, pois prejudica o desempenho, já que ocasiona perda de concentração, coordenação, fadiga e desidratação.

Perigos do álcool
Ao consumir uma bebida alcoólica, as primeiras sensações são de euforia, conversa solta. À medida que continuamos bebendo, o nível de álcool no sangue vai aumentando, afetando nosso raciocínio e julgamento, coordenação motora, controle e consciência, podendo, em situações extremas, levar ao coma e até a morte.

Danos em longo prazo
O consumo regular de quantidades consideráveis de álcool prejudica o fígado, o coração e o cérebro, provocando danos permanentes a estes órgãos. O excesso de álcool também pode causar diferentes tipos de câncer.

Efeitos do álcool sobre o cérebro
As células cerebrais são particularmente sensíveis à exposição excessiva ao álcool. O cérebro diminui mesmo em pessoas que bebem moderadamente. A extensão da retração é proporcional à quantidade ingerida.

Abstinência, junto com uma boa nutrição, reverte alguma lesão cerebral, ou toda ela, se o beber em excesso não se estendeu por mais alguns anos. Contudo, beber além da capacidade de recuperar-se por períodos prolongados pode causar dano severo e irreversível à visão, memória, capacidade de aprendizado e a outras funções.

Qualquer um que tenha tomado uma bebida alcoólica experimentou um dos efeitos físicos causados pelo álcool: aumento da produção de urina. Isso acontece porque o álcool deprime a produção de hormônio antidiurético pelo cérebro. A perda de água corporal leva à sede. O único líquido que aliviará a desidratação é a água, mas se as únicas bebidas disponíveis contiverem álcool, cada drinque pode agravar a sede. O “bebedor” inteligente, então, alterna as bebidas alcoólicas com escolhas não alcoólicas e usa as últimas para aplacar a sede.

A água perdida durante a depressão hormonal leva com ela minerais importantes, como magnésio, potássio, cálcio e zinco, diminuindo as reservas do organismo. Esses minerais são vitais para o balanço hídrico e para a coordenação nervosa e muscular. Quando o beber acarreta perdas, os minerais devem ser repostos no dia seguinte para que as deficiências não se agravem.

O poder engordativo do álcool
As calorias do álcool devem ser consideradas como gordura na dieta, porque no organismo ocorrem interações metabólicas entre a gordura e o álcool. O organismo ao receber gordura e álcool armazena a gordura e se livra do álcool tóxico, queimando-o como combustível. O álcool pode promover armazenamento de gordura, particularmente na área abdominal central – a “barriga de cerveja”, observada nos consumidores moderados de álcool.

O que é uma dose?
As bebidas alcoólicas contêm uma grande parte de água e algumas outras substâncias, bem como o álcool etano. A dose de uma bebida varia conforme seu teor alcoólico, ou seja, a concentração de álcool. Confira:

Essas medidas padrão podem, no entanto, não corresponder aos drinques servidos em bares. Muitos copos de vinho contêm facilmente 180 a 240 ml de vinho, por exemplo.

Ressaca
Uma sensação horrível de dor de cabeça, sensações desagradáveis na boca e náusea que a pessoa sente na manhã seguinte depois de beber demais – é uma forma branda de abstinência de droga. As ressacas são causadas por diversos fatores. Um deles são os efeitos tóxicos dos congêneres - substâncias químicas outras que não o álcool, responsáveis por alguns dos efeitos fisiológicos das bebidas alcoólicas, como o gosto e o pós-efeito.

A desidratação do cérebro é um segundo fator: o álcool não somente faz o corpo perder água, como também reduz o conteúdo de água das células cerebrais.

Outro contribuinte para a ressaca é o formaldeído, que vem do metanol, um álcool produzido constantemente por processos químicos normais em todas as células.

Tempo, unicamente, é a cura de uma ressaca. Os remédios “populares” claramente não funcionam: vitaminas, aspirina, beber mais álcool, respirar oxigênio puro, exercitar-se, comer ou beber alguma coisa ruim, são todos inúteis. A reposição de líquidos pode ajudar a normalizar a química do organismo. Dor de cabeça, sabor desagradável na boca e náusea da ressaca são consequências do beber demais.

Efeito do álcool sobre a nutrição
O abuso do álcool também causa dano indiretamente por meio da desnutrição. Quanto mais álcool uma pessoa bebe, é menos provável que ela consuma alimentos suficientes para obter os nutrientes necessários. Como o açúcar e a gordura puros, o álcool fornece calorias vazias, ele remove nutrientes. A cada 150 calorias gastas em álcool, o indivíduo não recebe nenhum valor nutricional em troca. Quanto mais calorias são gastas dessa maneira, menos sobram para gastar com alimentos nutritivos.

O abuso de álcool também atrapalha o metabolismo de nutriente de cada tecido. As células do estômago secretam em excesso ácido e histamina um agente do sistema imunológico que produz inflamação. A cerveja, em particular, pode irritar o estômago, estimulando-o a liberar mais ácido e abrindo caminho para úlceras gástricas e esofágicas. As células intestinais deixam de absorver tiamina, folato, vitamina B6 e outras vitaminas. Os hepatócitos perdem a capacidade de ativar a vitamina D e alteram sua produção de bile. Os bastonetes de retina, que normalmente processam a vitamina A (retinol) para a forma necessária na visão, processam álcool no lugar. As células hepáticas também sofrem uma redução na capacidade de processar e usar a vitamina A. Os rins excretam magnésio, cálcio, potássio e zinco.

Os produtos intermediários do álcool interferem também com o metabolismo da vitamina B6. Eles desalojam a vitamina de sua proteína protetora de tal modo que ela é destruída, levando a uma deficiência que reduz a produção de hemácias.

Mais dramático é o efeito do álcool sobre o folato. Quando há excesso de álcool, o corpo expele ativamente o folato de todos os seus sítios de ação e armazenamento. O fígado, que normalmente contém folato suficiente para satisfazer todas as necessidades, escoa seu folato para o sangue. À medida que o folato sanguíneo eleva-se, os rins acabam excretando-o como se estivesse em excesso. O intestino, em situações normais, libera e recupera folato continuamente, mas torna-se tão danificado pela deficiência de folato e toxicidade do álcool que não consegue recuperar o seu próprio folato e deixa escapar qualquer folato do alimento também.

O álcool também interfere na ação de qualquer quantidade pequena de folato que ainda esteja presente. Isso inibe a produção de novas células, em especial as células de divisão rápida do intestino e do sangue.

Deficiência de nutrientes constitui, assim, uma consequência virtualmente inevitável do abuso de álcool, não apenas porque o álcool substitui o alimento, mas também porque ele interfere diretamente no uso dos nutrientes pelo organismo, tornando-os ineficazes mesmo que estejam presentes. Ao longo de uma vida, beber em excesso produz déficits de todos os nutrientes.

Álcool e reposição de líquidos
O álcool exagera o efeito desidratante do exercício em um ambiente quente, age como poderoso diurético por deprimir a liberação do hormônio antidiurético pela hipófise posterior e por amortecer a resposta da arginina-vasopressina. Esses efeitos poderiam deteriorar a termorregulação durante o estresse térmico, fazendo com que o atleta corra um maior risco de lesão térmica durante o exercício. Além disso, como muitos atletas consomem bebidas que contêm álcool após o exercício e/ou a competição desportiva, uma questão seria se o álcool afeta a reidratação durante a recuperação.

Durante um jogo de futebol, 70% da energia gasta resultam em produção de calor. Somente 30% representam a energia gasta com contração muscular. Para manter a temperatura constante, nosso organismo perde água pela sudorese. Esta perda é que determina a manutenção da temperatura corporal.

Ao final da partida, então, o corpo apresenta menor quantidade de água do que no início da partida. Agora, se você adicionar a qualquer bebida alcoólica (a cerveja, inclusive), vai perder mais água ainda. O resultado dessa história pode ser desde um mal-estar transitório até uma complicação mais grave por alteração da funcionalidade do sistema cardiovascular.

O álcool é culpado não somente pelas mortes por problemas de saúde, mas também pela maioria das demais mortes de pessoas jovens, incluindo acidentes de carro, quedas, suicídios, homicídios, afogamentos e outros acidentes.

Atletas de futebol mundialmente reconhecidos já prejudicaram sua carreira e arriscaram seu patrimônio em função de hábitos antidesportivos fora dos gramados. O consumo de álcool prejudica o trabalho dos diferentes profissionais envolvidos com a preparação do atleta (nutricionista, preparador físico, psicólogo, fisiologista), pois interfere no organismo como um todo, diminuindo o rendimento no campo. A maneira mais segura de escapar dos efeitos nocivos do álcool é, evidentemente, não beber.

Dê um pontapé no álcool e maximize o seu desempenho!

Referência bibliográfica

Sizer, F., Whitney E. Nutrição – Conceitos e Controvérsias. 8a. Edição, Editora Manole, 2003.
McArdle, W., Katch F., Katch V. – Nutrição – Para o Desporto e o Exercício. Editora Guanabara Koogan, 2001.
Fonte: Nutrifit - Nutrição Personalizada -
www.nutrifit.ntr.br

*Caroline Buss é nutricionista formada pela UFRGS, especialista em Medicina Esportiva e Ciências da Saúde (PUC-RS). Além disso, é mestre em Epidemiologia (UFRGS), doutoranda em Fisiologia e Fisiopatologia (UERJ), professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretora da Nutrifit. Presta ainda consultoria em diferentes modalidades esportivas e Programa de Qualidade de Vida -caroline@nutrifit.ntr.br.

Fernanda Mendonça é nutricionista formada pela Universidade do Vale dos Sinos, graduada em Educação Física pela UFSM. É também especialista em Medicina Desportiva e Ciências da Saúde pela PUC-RS e em nutrição clínica pelo IMEC e diretora da Nutrifit, com trabalho na equipe juvenil de tênis da AABB (2000-2003) e no Grêmio Foot-Ball Portoalegrense (1998-2005) - fernanda@nutrifit.ntr.br.
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Benê Lima