Francisco Eduardo Del Rio Andrade
Depois do trabalho no Botafogo de Ribeirão Preto, outros clubes nos chamaram para prestar serviços. Não falei no artigo anterior, mas éramos um Consórcio formado por um tripé: administração financeira, marketing e futebol. O Consórcio – Futinvest – nunca chegou a ser veiculado. Talvez por uma falha nossa. Esse nome e a logomarca foram minhas criações. Só em alguns jornais esse nome foi publicado. A primeira perna, administrativa financeira era o Banco Axial. Um pequeno banco de um único dono, o suíço Pierre Landolt, um excêntrico bilionário que gostava de futebol e de música popular brasileira.
Ele é quem levava artistas brasileiros para os festivais na Europa. Tinha um castelo em Vevey na Suíça e uma fazenda em Patos na Paraíba… Outra perna, a do futebol era a Brunoro Sports, com o José Carlos Brunoro. Era sem dúvida o cara que tinha o carisma para a isso. O case Palmeiras Parmalat era a sua bandeira. Dispensava apresentação. E a terceira perna era o marketing esportivo. Nessa época eu era sócio de uma empresa a NetSports Marketing, com Sérgio Freixo (que acabou falecendo) e Paulo H.D. Mira.
Mas, o desgaste entre as pessoas nesse trabalho foi muito grande. E acabou por acabar com o Consórcio. No total desse trabalho eram por volta de 18 a 20 pessoas entre todos os envolvidos direta e indiretamente. No final de 2.000, Brunoro me convidou para ir com ele atender a um chamado do Santa Cruz F.C. no Recife. Fomos em janeiro de 2.001 e acabaram contratando os meus serviços de marketing. Acabei morando em Recife por um ano inteiro. A estrutura de lá era bem melhor e com mais força política do que em Ribeirão. Arregacei as mangas e comecei a trabalhar. A estrutura do marketing era meu vice-presidente e eu e foi assim até o final. O vice-presidente (filho do presidente João Mendonça) nunca apareceu para trabalhar no clube.
Graças ao apoio que tive de João Caixéro, figura maravilhosa e historicamente um grande abnegado (no sentido positivo da palavra). Logo no início dos trabalhos, comecei um levantamento no Arrudão (Estádio José do Rego Maciel) com capacidade atual de 65.000 assentos (chegou a ser o 2º. do Brasil e 4º. do mundo – o maior público foi no Jogo das Eliminatórias da Copa do mundo em 93 quando a seleção brasileira ganhou da seleção boliviana por 6×0. Neste jogo estavam presentes nada menos que 93.200 espectadores). Era uma cidade em tamanho. Essa preocupação foi motivada por me alertarem que se eu conseguísse diminuir a evasão de torcedores em dias de jogos, já seria de bom tamanho… Pois bem, nesse levantamento encontramos uma família morando dentro do Estádio já há 3 anos… morando em um barraco que construíram embaixo das arquibancadas… era uma área afastada e dificilmente (muito dificilmente) alguém ia até lá.
Primeira providencia sob o protesto do chefe da família que residia lá, colocamos todos para fora, com auxílio da prefeitura local. Não bastasse esse absurdo, um cara ir de São Paulo para Recife e descobrir isso, existiam ainda outros até maiores… Até o dia que assisti ao primeiro jogo no Arruda. Fiquei chocado com os produtos que eram içados de fora para dentro do estádio. Com o pessoal que pulava os muros. Enfim, uma bagunça. Imaginem que encontrei no estádio um dos únicos mega telão do país (na época) e para variar quase todo queimado. Providencei os reparos e colocamos para funcionar. Só com ele as receitas começaram a aparecer. Refiz o lay-out das placas de publicidade e contratei uma agência (Aliança Comunicação) para comercializar, bem como, lançamos diversas campanhas para vendas antecipadas, sócios, etc. Mexí nos contratos em vigor de Licenciamento e conseguímos atrair uma série de contratos novos. Reativamos a boutique interna. Contratos de uniformes. Lançamentos de novas camisas. É importante comentar que o Santa Cruz é o clube mais querido pelo povão pernambucano.
O Sport e o Náutico são mais elitizados. A maior facilidade no clube é realmente seu envolvimento político. Bastava um telefonema de um dos diretores para que portas se abrissem na iniciativa privada e governamental. Minha passagem por lá aconteceu quando o vice-presidente da República do Brasil era simplesmente o sr. Marco Maciel, filho do nome do estádio Arruda. Isso era uma facilidade e tanto. Para o contrato de patrocínio da camisa tivemos simplesmente a visita do mega empresário italiano sr. Sérgio Cragnotti (que foi dono da Bom Bril, Cirio, Peixe) e assinamos um acordo com a Peixe.
No Santa Cruz particpei de reuniões inclusive para solucionar os problemas no time, que tinha excesso de atletas (mais de 50) e tinha que reduzir o elenco. Lembro bem que um desses dispensados era o Grafite… (!)
Lá também agi como no Botafogo. Saia da minha sala, comprava meu ingresso e sentava depois no camarote do clube. Que com o tempo comecei a evitar porque o que se bebia nesse local, não tá escrito. E os diretores em geral viravam pit-bulls em rinha de cachorro grande. E por falar nisso, aproveito para comentar minha grande idéia para solucionar de vez os problemas de evasão no estádio. Aliás foi um sucesso enquanto durou. E não durou muito para minha desilusão. Nos levantamentos que fiz, percebi que no entorno do estádio, havia uma série de espaços entre os muros e a estrutura do estádio.
Perguntei ao Caixéro se ele conhecia algum tratador de cachorros na cidade. Conseguí uns cinco endereços e chamei os caras. Nos vários espaços existentes, contratei cachorros rottwailer, pit-bulls e pastores alemães. Em cada espaço uns 3 cachorros soltos com um tratador. Tinha gente que no dia do jogo ficava pendurado nos muros para assistir os cachorros latindo para evitar as invasões. Nos tres jogos daquele mês, foi um sucesso. Nos resultados das bilheterias era fácil comprovar que de fato a evasão tinha diminuído e muito. As vendas de bebidas e lanches, os resultados eram outros. Positivos. Até que no final do mês, os responsáveis pelos canis, foram receber o que tínhamos combinado e contratado. Quando a responsável pelos pagamentos pegou a nota fiscal, olhou o valor e viu que era sobre a contratação dos cachorros que ela mesma havia elogiado dias antes, soltou um grito de horror…: -“ os cachorros vão ganhar mais do que eu que estou aqui já há dez anos…” pronto, isso bastou para colocar em xeque a boa idéia versus o salário praticado pelo próprio clube. E como um clube é um clube, um dos diretores me aconselhou a acabar com a cachorrada.
Outra coisa que no final acabou por me deixar muito chateado foi quando fui apresentar meu planejamento para os Conselhos (tinham tres Conselhos – o Deliberativo, o Fiscal e o de antigos presidentes) e entre o power point com as ações e a planilha de excel que provava por A + B que disputando e dando prioridade para o Brasileirão, o clube teria um superavit de (aqui é como exemplo já que os números são cofidenciais) R$ 500 mil e ao contrário, ficando de fora da série A e disputando o campeonato estadual, teriam um deficit de R$ 300 mil. Para a minha incredulidade e aprendizado ouvi como comentário geral: – “esqueça o Brasileiro, aqui o que conta é o estadual…“. Pois bem, é complicado mostrar o resultado que tive com esse trabalho depois de ouvir o que eu acabei ouvindo. “E vocês em Sun Paulo não sabem disso..”. Mas i que motivou minha vinda definitiva para Sun Paulo, foi o fato de que eu recebia no final do mês o cheque correspondente ao meu trabalho. A coisa foi apertando para o clube e eles começaram a me pagar com dinheiro vivo, logo depois de apurarem a arrecadação dos jogos… Imagine seu salário em cedulas de 2 e 5 reais. Por menor que seja, o volume é bem grande e o clube me oferecia dois seguranças com fuzis que me acompanhavam até o hotel que estava morando. Na terceira vez que isso aconteceu, achei, melhor pedir demissão e voltar para casa antes que eu fosse alvo de sequestro, ou coisa pior…
Foi um dos melhores anos de minha vida. Recife é simplesmente deslumbrante. Restaurantes, bares, mulheres, passeios, praias, um calor da porra, mas a brisa quando bate é mil. Uma coisa que estranhei é que as cinco da tarde já era noite. Até acostumar levou um tempo. Morei em Olinda e depois na Boa Viagem. Quando dava, fugia até Porto de Galinhas. Agora assistir a um Santa Cruz x Sport no Arrudão não tem preço…
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Benê Lima