A influência direta dos resultados no sentimento do torcedor e consequentemente no rendimento financeiro de um clube
Oliver Seitz
Quando você vai a um estádio de futebol, você provavelmente sabe dizer por que você está indo. Agora, você sabe dizer por que os outros milhares de torcedores também estão lá?
Cada um tem lá sua razão específica pra torcer para um clube. Pode ser por influência familiar, por aversão ao time do vizinho, por causa de um atleta específico, por morar do lado do estádio e por outras tantas coisas mais. E todas essas coisas foram estudadas e identificadas.
Existem inúmeras razões pela quais uma pessoa escolhe torcer por um time. E existem outras mais que fortalecem ou enfraquecem o laço entre o torcedor e o seu clube. A mais comum delas foi denominada por alguns pesquisadores de Basking In Reflected Glory (BIRG), que significa algo como “orgulhar-se com a glória refletida”, que é o fenômeno que ocorre quando um time ganha um jogo e o torcedor diz (e sente) que “nós ganhamos a partida”. Com o BIRG, quanto mais um time ganha, mais orgulho ele gera e mais pessoas se apropriam do status de vencedor gerado pelas vitórias.
O BIRG é, evidentemente, o principal laço da relação entre clubes e torcida no Brasil. Isso acontece muito por conta da impossibilidade ambiental de desenvolver outras relações, principalmente dos laços mais profundos com a comunidade local de cada torcedor, já que as comunidades locais do Brasil são ainda muito recentes e carecem de maiores vínculos com os seus habitantes. Com isso, há pouco vínculo social entre clube e torcida, deixando que o BIRG se apodere da intermediação do processo.
Por conta do BIRG, quando o time está ganhando, a torcida se torna fanática, lota estádios e compra produtos. O grande problema é que o BIRG traz em sua essência outro processo psicológico oposto, que foi denominado de Cutting Off Reflected Failure (CORF), que significa algo como “romper com o fracasso refletido”, que ocorre quando o time perde e o torcedor diz (e sente) que “eles perderam a partida”. Com o CORF, quanto mais um time perde, mais torcedores se afastam do time para evitar absorver o status de fracasso. Ou seja, quando um time perde uma partida ou um campeonato, os torcedores param de consumir produtos e de ir aos estádios como forma de evitar parecer que eles também são perdedores. Com o BIRG, “nós ganhamos”. Com o CORF, “eles perderam”.
Como esses dois fenômenos são predominantes na relação entre times e torcedores no Brasil, os clubes ficam excessivamente reagentes ao sucesso em campo. Afinal, a derrota significa não apenas o fato esportivo em si, mas cria também um grande impacto nas receitas e na administração do ambiente político do clube. Com isso, exerce-se uma enorme pressão por sucessos imediatos e constantes, onde vitórias devem ser obtidas a qualquer custo e derrotas são suficientes para motivar mudanças completas na estrutura do clube. Isso acaba gerando uma situação em que é impossível desenvolver o mínimo controle financeiro e torna o fluxo de receitas e despesas algo absurdamente instável, impossibilitando qualquer manutenção de parâmetros de gestão de longo prazo.
O BIRG e o CORF explicam muito sobre como funciona a indústria do futebol brasileiro e por que o buraco financeiro vai ficando cada vez maior. A boa notícia é que existem métodos para tentar minimizar o impacto que esses fenômenos causam nos clubes. A má notícia é que aqueles que tem poder para aplicar esses métodos de controle são justamente aqueles que mais se deixam influenciar por eles.
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Benê Lima