futebol na rede
Saudemos os "Professores Pardais"
HUMBERTO PERON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O futebol é extremamente conservador. É nítido como todos que vivem no esporte são extremamente arredios as novidades. Nem vou falar em pequenas mudanças nas regras do jogo ou o uso de tecnologia para acabar com os erros que mudam a história dos campeonatos. O conservadorismo se manifesta de maneira muito forte nos conceitos de como os técnicos armam e treinam suas equipes.
Graças a esse repúdio ao novo somos obrigados a conviver com duas frases que, de tanto serem usadas ao longo do tempo, parecem que se tornaram verdades universais.
A primeira delas é:
"time que ganha não se mexe".
É lógico que uma equipe precisa ter entrosamento, mas não existe nenhuma lógica que os mesmos 11 jogadores, com o mesmo estilo de jogo, terão o mesmo desempenho contra times diferentes. Pelo menos, de uma partida para outra é necessário, no mínimo, uma alteração do posicionamento das peças.
A outra frase retrógada é a famigerada:
"é melhor acertar a defesa primeiro".
Desculpe isso é declaração de técnico que vai armar uma retranca para tentar não perder suas partidas no novo time. Na mesma proporção que um treinador precisar acertar a defesa - o que é relativamente fácil - é preciso que ele encontre uma maneira de fazer a sua equipe ter alternativas ofensivas.
Muitas vezes, as pessoas que trabalham no futebol são tão arredias ao novo, que quando surge um treinador que queira fazer algo diferente do comum já vira motivo de piada. Já existe até um apelido - também antigo - para os técnicos que tentam fazer inovações: Professor Pardal - lembrança ao inventor criado por Walt Disney nas histórias em quadrinhos.
Eu particularmente adoro esse tipo de treinador. Gosto de um treinador que tenta adaptar seu time para aproveitar os pontos fracos do adversário, nem que para isso precise fazer mudanças no esquema tático ou mudar as posições dos jogadores.
Esses técnicos também são sempre ousados nas substituições. Nunca caem na mesmice de trocar um lateral por um meia quando o time está perdendo, ou substituir um atacante por volante nos últimos minutos com a sua equipe vencendo. As trocas desses técnicos, muitas vezes fazem uma revolução na equipe. Uma simples substituição faz com que três ou quatro jogadores precisem mudar seu posicionamento no gramado.
Isso é o trabalho do treinador. Tentar surpreender o adversário e mudar o destino do jogo com suas modificações. É lógico que nem sempre as mudanças não dão certo, algumas vezes os resultados são trágicos - para alegria dos reacionários. Mas, o positivo é que os "Professores Pardais" sempre buscam uma maneira diferente para mudar o jogo.
Talvez, o único problema que enxergo nesse tipo de treinador que tenta escapar do padrão é que muitas vezes ele se torna escravo e se sente na obrigação de fazer uma revolução em cada mudança tática ou substituição. Muitas vezes isso não é necessário.
Para aqueles que querem sempre o mesmo padrão de treinadores, com suas receitas prontas - acho que só no Brasil rotulamos técnicos como especialistas em "mata-mata", "pontos corridos", "acesso de divisão", "tirar times do descenso" - não custa nada dizer que alguns treinadores que sempre foram criticados pelas suas "invenções" estão fazendo sucesso no Campeonato Brasileiro.
São eles: Adilson Batista (Corinthians), Cuca (Cruzeiro) e Paulo César Carpegiani (Atlético-PR). Ainda há o iniciante Sérgio Baresi (São Paulo), que foi motivo de vários comentários irônicos ao dar treinos nada ortodoxos, mas faz o São Paulo sair de um período péssimo.
Que se aumente a quantidade "Professores Pardais" nos bancos dos nossos times. Só assim vão se quebrar alguns conceitos que já estão superados, mas que poucos técnicos com medo de perder espaço, têm coragem de mudar.
Até a próxima.
DESTAQUE
Com o fim - na verdade quase, pois faltam duas partidas - do primeiro turno, já é possível prever que a disputa pelo título não vai ficar restrita entre Fluminense e Corinthians. Times como Santos, Cruzeiro e Internacional já estão se aproximando dos líderes e devem embolar a classificação já no meio do returno. Bom para o campeonato, que, mais uma vez, terá um final emocionante.
ERA PARA SER DESTAQUE
O excelente trabalho de PC Gusmão na primeira fase do Campeonato Brasileiro. O treinador não perdeu nas 18 partidas que fez. Antes da Copa, o técnico levou o limitado Ceará a brigar pela liderança do torneio. No Vasco, com os reforços que recebeu acertou a equipe e colocou o time na parte de cima da tabela.
Humberto Luiz Peron, 41 anos, é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a Folha.com às terças-feiras.
- E-mail: futebolnarede@grupofolha.com.br
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Benê
ResponderExcluirEste artigo não se aplica ao outro Pardal o MArio Sérgio não se enquadra em nenhum dos exemplos, ele é Pardal na pior das manifestações, inventa e dá tudo errado, demorei a achar hoje estou convicto!