Rodrigo Azevedo Leitão
Aumento ou diminuição de riscos será sempre dependente das características dos jogadores e do tipo de jogo que pode ser construído a partir dessas características
Existe uma ideia, quase um consenso, de que quando uma equipe de futebol está atacando, o número de jogadores que ela mantém atrás da linha da bola, pode definir o sucesso ou o fracasso de suas transições defensivas.
Em linhas gerais, o pensamento central é de que, mantendo um número maior de jogadores atrás da linha da bola, é possível, ao perder sua posse (da bola), correr menos riscos defensivos em um contra-ataque rápido, e até, recuperá-la mais rapidamente.
Ter mais jogadores na retaguarda da bola, porém, faz com que, necessariamente, menos jogadores estejam participando efetivamente do ataque da equipe.
A questão aqui é que com menos jogadores participando efetivamente do processo ofensivo, tanto o número de apoios absolutos, quanto as possibilidades de ação para retirar a bola de zonas de pressão (sem regredir no campo de jogo) diminuem.
Isso pode não ser um problema, se a dinâmica e movimentação criada pelo reduzido número de apoios absolutos compensar relativamente a menor quantidade de jogadores, aumentando o número de possibilidades de jogo, tanto na ocupação dos espaços (ou na indução do adversário a erros), quanto na vantagem nos confrontos 1vs1.
Há de se pensar, porém, se não seria vantajoso ter um grande número de jogadores à frente da bola, se esses forem capazes de aumentar exponencialmente o número de possibilidades de jogo dentro do processo ofensivo (sem perder minimamente os apoios de retaguarda).
Apesar de um quase consenso, de que aumentar o número de jogadores participando efetivamente dos ataques não significa aumentar as chances de que as sequências ofensivas de uma equipe resultem em finalização, proponho que relativizemos a questão.
Sob os óculos das teorias sistêmicas, ter mais, ou ter menos jogadores atrás, ou à frente da linha da bola, é apenas uma variável do problema; variável que, quando manipulada, traz a necessidade de compensações (que geram novos problemas, novas manipulações e, por fim, mais e novas compensações).
Quando o “risco” defensivo que se quer correr é o principal norteador do sistema, as decisões e os ajustes caminharão em certa direção. Se a orientação sistêmica for outra, outras também serão as decisões e os ajustes.
O fato é que o aumento ou a diminuição de riscos será sempre dependente das características dos jogadores e do tipo de jogo que pode ser construído a partir dessas características.
Posto isso, a capacidade de uma equipe em controlar o jogo sem que necessite de muitas compensações pode determinar a magnitude de seus riscos nas transições defensivas e definir as necessidades numéricas de jogadores atrás e à frente da linha da bola.
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Benê Lima