Temporadas ruins e eliminações precoces nem sempre são parâmetros para se avaliar um planejamento
Eduardo Fantato
Nas últimas semanas a discussão sobre a equipe do São Paulo foi intensa, muitos se perguntam o que teria acontecido com o clube mais planejador do país. A resposta mais simples que vi e que não deixa de ter sua verdade é que quando os resultados aparecem, o planejamento é bom, quando não, ainda que seja o mesmo, tudo foi por água abaixo, o planejamento não existiu.
O foco só no resultado absoluto de dois ou três jogos, ou mesmo de uma temporada única, não serve para avaliar um planejamento. Para aqueles que não concordam, basta olharmos os técnicos do Arsenal e do Manchester, as equipes não ganham todos os anos, e em alguns inclusive sofrem fortes decepções, inesperadas desclassificações em fases preliminares da copa dos campeões.
O São Paulo demitiu Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro com o clube, com a justificativa das eliminações nas Libertadores de que disputou. Neste ano, Ricardo Gomes pagou pela eliminação na semifinal frente ao Internacional, que seria mais tarde campeão do torneio.
Enfim, se compararmos os últimos 5 anos das equipes mencionadas, acredito que possamos dar mais clareza a discussão.
O amigo poderia questionar minha crítica ao planejamento observando que o São Paulo mesmo com as trocas efetuadas, mantém um cenário de destaque, porém, o que gostaria de discutir, sem ficar na especulação de onde poderia ter chegado se tivesse mantido um determinado treinador, é justamente o perfil da relação clube-treinador no Brasil.
Existem temporadas que são de transição, para um elenco que vem de um período em alto nível competitivo é inevitável que se faça essa transição com a reformulação do elenco. Será que os técnicos brasileiros não conseguem fazer isso, ou os projetos não duram mais do que três anos porque é o prazo máximo no Brasil?
Sabemos que existe uma saturação entre o relacionamento técnico-atleta, porém a renovação pode ser feita paulatinamente, como o próprio São Paulo foi fazendo na era Muricy, ora mantinha a defesa, ora o meio ou o ataque, mas aos poucos havia uma renovação natural no elenco. O Corinthians vem na mesma perspectiva, basta ver que a escalação da equipe na serie B 2007 em relação à atual. Mudou, porém, paulatinamente, e na cabeça do torcedor e da imprensa é um time com a espinha dorsal mantida.
No Brasil, felizmente, alguns clubes já vem alongando a vida do técnico independente de resultados específicos de alguns jogos ou uma temporada, o Adilson Batista, hoje no Corinthians, ilustra isso com sua passagem longa (para os padrões brasileiros) no Cruzeiro.
A questão é perceber que a renovação de elenco não precisa passar necessariamente pela troca de técnico. Uma eliminação numa fase semifinal ou mesmo na final de uma Libertadores deve ser considerada como um resultado de fracasso? Chegar sempre nas fases decisivas de uma dessas competições é fracasso? Mesmo a oscilação que resulta numa eliminação precoce pode ser entendida se estiver alinhada com uma política de renovação mais forte no plantel, uma política de reconstrução do plantel.
Basta observamos que o quadro de resultados do São Paulo é muito similar ao do Arsenal e do Manchester, talvez o erro possa estar na obsessão que o título da Libertadores trás aos dirigentes brasileiros, que acaba por avaliar um trabalho como insuficiente com base na falta do título do torneio intercontinental.
Que nossos dirigentes, que já vem percebendo aos poucos a importância da manutenção de elencos e treinadores, comecem a perceber melhor o papel de suas equipes nos cenários nacionais e internacionais para e, a partir disso, avaliarem os cursos e percursos do planejamento da equipe.
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Benê Lima