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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, setembro 18, 2010

Rivaldo valoriza conhecimento empírico e minimiza importância dos treinadores

Presidente do Mogi Mirim desde 2008, campeão mundial dá apenas 20% de importância aos técnicos

Equipe Universidade do Futebol

Ex-melhor do mundo e campeão mundial com a seleção brasileira em 2002, Rivaldo, agora aos 38 anos, falou, em entrevista ao portal IG, sobre sua carreira como jogador, timidez diante das câmeras e até sobre sua relação com treinadores pelos times que passou.

Além de apontar Wanderley Luxemburgo, atual técnico do Atlético Mineiro, como melhor treinador com quem já trabalhou, o ex-camisa 10 da seleção canarinho exaltou o conhecimento empírico de jogadores, citando em especial seu período como comandado de Louis Van Gaal no Barcelona.

“Ele [Van Gaal] é um grande treinador, mas é muito cabeça dura e teimoso. Ele é um técnico que não jogou bola. Foi jogador de time de terceira divisão e queria ensinar tudo. A gente discutia por isso. Treinador tem que ter inteligência para saber que não sabe tudo. Muitos jogaram em segunda divisão, não ganharam nada e quando viram técnicos querem ensinar. Isso é até um desabafo, viu [risos]? Com todo respeito, como um cara desses vai querer me ensinar? Como vai querer ensinar o Messi? Na minha opinião, técnico tem 20% de importância num time. Quem decide são os jogadores”, revelou em declaração ao site.

Ainda sobre o assunto, Rivaldo fez questão de exaltar a postura de Josep Guardiola, companheiro de time na época de Barcelona e atual treinador da equipe catalã, quanto ao sucesso dos campeões espanhóis dentro de campo. Segundo ele, Guardiola concede o mérito de suas conquistas apenas aos jogadores.

“Então, ano passado eu fui ao Barcelona fazer uma visita. Encontrei o Guardiola, que jogou comigo. Fui falar com ele e já cheguei parabenizando, porque ele tinha ganhado tudo na temporada. Ele virou para mim sério e disse: “Parabéns para mim? Dá parabéns para os caras, Rivaldo. Eu não faço nada. Olha o que é o Messi. Ele pega a bola e decide. O Daniel Alves joga hoje e amanhã quer treinar. Os caras estão voando. O Xavi mete a bola onde quer.” Se é outro técnico se aproveita e pega o mérito todo para ele”, enalteceu Rivaldo, que afirma ainda ter condições de atuar dentro das quatro linhas.

Confira entrevista

Entrevista com Rivaldo: "Nunca gostei de fazer gols em propaganda na TV"

Ao iG, meia diz que ainda não parou de jogar e que não se arrepende de ter fugido dos holofotes. Para ele, o Palmeiras de 1996 foi o melhor time em que jogou e os técnicos têm apenas 20% de importância numa equipe

Paulo Passos, iG São Paulo

A cada pergunta, Rivaldo passa a mão no rosto. Antes de responder, encosta os dedos como quem vai rezar e olha para baixo.  A frieza que demonstra nos gramados some quando a missão do jogador é falar. Ele não está na sede Fifa, na Suíça, onde há 11 anos recebeu o prêmio de melhor do mundo. Nem em Yokohama, local da conquista da Copa, em 2002.

A cena acontece na sala de imprensa do Mogi Mirim. Rivaldo, aos 38 anos, fala como presidente do clube, cargo que ocupa desde 2008, para seis jornalistas que foram à entrevista coletiva do anúncio oficial da parceria da equipe paulista com o Mallorca, da Espanha, na última quarta-feira.

“Para dar uma entrevista é duro, você viu. Eu fico suando. Não sou de ficar aparecendo, só falei por ser presidente”, confessa. Após o evento, o meia-atacante conversou com a reportagem do iG. Em uma entrevista de mais de 40 minutos, ele falou sobre as carreiras de jogador e agora dirigente e jurou que, apesar dos 38 anos, ainda não se aposentou.

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Campeão mundial, em 2002, Rivaldo diz que ainda quer jogar futebol

Para voltar aos gramados, ele terá que resolver um impasse com o Bunyodkor, seu último time. Por enquanto, está impedido de atuar profissionalmente, pois ainda tem contrato com o clube do Uzbequistão.

Tímido confesso, Rivaldo está longe de ser um fenômeno de marketing, apesar de reconhecido como um dos maiores jogadores de todos os tempos. Aparições na TV são raras. Nem mesmo no auge da carreira, quando atuava no Barcelona, era um freqüentador assíduo de campanhas publicitárias. “Prefiro ser reconhecido pelo que fiz em campo. Nunca gostei de fazer gols em propaganda”, brinca o meia-atacante.

Nos últimos meses, ele encontrou um meio de se expressar com mais facilidade. Rivaldo aderiu ao twitter. “Virou moda, né? Ali é fácil, atrás do computador, sozinho eu até brinco com o pessoal”, conta o jogador, que tem mais de 55 mil seguidores. “Eu estou começando. Logo, logo chego no Kaká. Ele tem 2 milhões”, completa, com uma risada tímida.

Confira a entrevista: 

iG: Você chegou a comentar que gostaria de voltar para o Palmeiras. Já conversou com o Luiz Felipe sobre isso?
Rivaldo: Não, nem falei com ele sobre isso. Mas pelas entrevistas que ele deu, acho que vai ser difícil. Mas eu respeito, cada um é cada um. Ele está fazendo o trabalho dele lá, tem os jogadores dele. O que eu vou falar do Felipão? Ele me levou para a Copa do Mundo, quando muitos diziam que eu estava machucado. Fui campeão graças à oportunidade que ele me deu.

iG: Você imaginava que seria um dia presidente de um clube?
Rivaldo: Eu nunca imaginei. Tem coisas na vida que você não espera e elas acontecem. Eu não imaginei ser o melhor jogador do mundo ou ganhar uma Copa. As coisas vão acontecendo e você vai vendo que tem condições de chegar lá. Nunca sonhei que 16 anos após chegar aqui em Mogi Mirim, vindo de Recife, eu ia ser presidente do clube.

iG: Você é muito admirado em Barcelona. Acha que o reconhecimento na Europa é maior do que aqui?
Rivaldo: Antes da Copa eu poderia dizer isso. Mas depois de 2002, isso mudou. Até hoje, recebo o carinho das pessoas por causa daquele Mundial. Tem gente que pede para eu jogar em 2014 [risos]. Agora, acontece que meu auge foi no Barcelona. Joguei cinco anos lá. As pessoas têm um carinho enorme. Até nessa semana lembraram de mim, porque o Messi fez dois gols e ultrapassou uma marca que eu tinha no clube. Eu fico feliz de ter feito história lá.

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No Barcelona, Rivaldo jogou por cinco anos. "Foi o meu auge", diz o meia

iG: Ao mesmo tempo, comparado com outros jogadores do seu nível, você tem pouca projeção em marketing e propaganda. É algo que você nunca deu bola, se arrepende?
Rivaldo: Nunca me interessou. Eu sempre procurei, em toda minha vida como jogador, conquistar as coisas dentro de campo. Não sou contra quem gosta e sabe aparecer. Hoje, para dar uma entrevista como presidente de clube é duro. Eu fico suando. Eu não sou de ficar aparecendo. Acho que agora, como presidente, vou ter que aparecer mais, porque tenho uma responsabilidade e tenho que divulgar o clube.

iG: Ainda lhe incomoda aparecer?
Rivaldo: Sim, se fosse como jogador eu não faria essa entrevista. Não sou de falar, de querer me promover. Nunca precisei disso, por ser tímido. É uma coisa minha mesmo. É da pessoa. Tem gente que gosta de estar na televisão, em programas ou propagandas. Eu até fiz uns comerciais. Antes, eu sempre perguntava o que eu tinha que fazer. Tinha que me preparar antes. Mas eu não me arrependo de ser assim. Eu nunca precisei disso, mas não sou contra quem faz. Cada um sabe o que é melhor. Sei que isso pode ajudar muito para ser reconhecido e tal. Mas eu quero ser reconhecido pelo que fiz dentro de campo no Palmeiras, Corinthians, Mogi Mirim, na Copa do Mundo e em todos clubes que passei, e não por estar em televisão. Eu fico feliz quando sou lembrado pelos torcedores que dizem o que eu fiz como jogador. Nunca gostei de fazer gols em propaganda.

iG: Qual o melhor técnico com que você trabalhou?
Rivaldo: Eu sempre vou falar que para mim foi o Vanderlei Luxemburgo. Eu aprendi muito com ele. Muitos podem não gostar dele, mas para mim é o melhor. Mesmo passando por esse momento no Atlético-MG, eu tenho plena confiança de que ele vai sair dessa posição. Vai ficar no meio da tabela ou subir mais. No Campeonato Brasileiro você ganha três jogos seguidos e muda tudo. Tenho certeza que os jogadores do Atlético-MG não fazem corpo mole, com ele não tem isso. Quando jogava com ele, eu corria por ele, porque sabia que o cara era gente boa. Ninguém no time quer que ele vá embora. Até os que estão no banco gostam dele. Isso não existe em outros lugares que passei. Seja Barcelona ou qualquer outro time. O cara tá no banco fica com raiva do treinador. O Luxemburgo sabe levar o grupo.

iG: Na Europa você teve problemas com alguns técnicos. O Louis  Van Gaal, na época do Barcelona, foi o mais difícil de trabalhar?
Rivaldo: Com ele, foi só um problema de trabalho. Ele é um grande treinador, mas é muito cabeça dura e teimoso. Ele é um técnico que não jogou bola. Foi jogador de time de terceira divisão e queria ensinar tudo. A gente discutia por isso. Treinador tem que ter inteligência para saber que não sabe tudo. Muitos jogaram em segunda divisão, não ganharam nada e quando viram técnicos querem ensinar. Isso é até um desabafo, viu [risos]? Com todo respeito, como um cara desses vai querer me ensinar? Como vai querer ensinar o Messi? Na minha opinião, técnico tem 20% de importância num time. Quem decide são os jogadores.

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Para o meia, Van Gaal é um grande técnico, "mas muito cabeça dura e teimoso"

iG: Você acha que os técnicos são muito valorizados?
Rivaldo: Então, ano passado eu fui ao Barcelona fazer uma visita. Encontrei o Guardiola, que jogou comigo. Fui falar com ele e já cheguei parabenizando, porque ele tinha ganhado tudo na temporada. Ele virou para mim sério e disse: “Parabéns para mim? Dá parabéns para os caras, Rivaldo. Eu não faço nada. Olha o que é o Messi. Ele pega a bola e decide. O Daniel Alves joga hoje e amanhã quer treinar. Os caras estão voando. O Xavi mete a bola onde quer.” Se é outro técnico se aproveita e pega o mérito todo para ele.

iG: E tem muito disso, na sua opinião?
Rivaldo: Claro. Cara que diz que ensinou tudo. Vai ensinar o que para o Messi? Isso prejudica muito. Treinador tem que ter o comando das coisas, mas não pode querer ensinar tudo para o jogador que tem talento. Tem que deixar o cara livre. Quem decide são os jogadores. Eles são 80%. Vejo técnico que era goleiro e quer mudar o jeito do seu lateral cruzar a bola. Eu não entendo isso. O cara deixa de jogar e aprende tudo. Às vezes dá vontade de pedir para ver o vídeo dele, para saber se ele fazia tudo o que tava dizendo.

iG: E você não dá conselhos para os garotos aqui do Mogi Mirim?
Rivaldo: Eu sempre, quando venho aqui nos treinos, falo alguma coisa, mas com humildade. Digo que errava que nem eles. Quando é novo, você tem que dizer o que é melhor fazer. Mas tem técnico que quer mudar o jogador quando ele já é formado. Só porque acha que sabe tudo.

iG: Você atuou com grandes jogadores. Qual foi o melhor?
Rivaldo: Djalminha, Ronaldo e Ronaldinho. Acho que foram esses, dos que joguei junto. Agora, que enfrentei foi o Zidane. Ele sempre disse que se preocupava comigo nos jogos e eu também ficava atento com ele. Principalmente nos jogos do Barça contra o Real Madrid, em que a pressão era grande. Ele sempre me deu muita moral. Eu respeitava ele dentro de campo. É um cara que você tem que ir com cuidado, até para não passar vergonha.

iG: Dava medo jogar contra ele?
Rivaldo: Respeito, né? Você olha e só dá o bote nele na boa. Se tenta ir antes roubar a bola, pode cair sentado com a bunda no chão. Aí passa vergonha e vocês da imprensa vão cair em cima, tirar sarro. Você viu na Copa do Mundo que ele deu um chapeuzinho no Ronaldo? Se fosse eu, segurava e não ia com fome para cima dele não [risos].

iG: E time, qual foi o melhor que você atuou?

Rivaldo: Aquele Palmeiras de 1996. A gente se divertia em campo. Tudo era festa. Essa época foi muito boa. Também teve um time muito forte nos primeiros dois anos do Barcelona.

iG: E a seleção de 2002?
Rivaldo: Era um grande time. Quando se ganha, tudo é maravilha. Eu participei de duas Copas e foi a mesma alegria. Em 1998 foi a mesma coisa, mas como não venceu não teve aquilo de família Scolari. Mas era um grande time, com certeza.

iG: O Felipão chegou a dizer, em uma entrevista ao jornal O Globo, que precisou ter uma conversa com você e o Ronaldo, porque havia uma disputa entre os dois para ver quem fazia mais gols. Isso aconteceu?
Rivaldo: Nunca teve esse conversa. Ou o repórter entendeu errado ou o Felipão se confundiu. Eu lembro da minha chuteira que meu pai me deu, não vai ser de algo de 2002 que vou esquecer.

iG: E como você está vendo a situação do seu ex-clube Santa Cruz, eliminado da Série D do Campeonato Brasileiro?
Rivaldo: É triste, eu tenho carinho grande pelo clube. Eu sou Santa Cruz de sangue, minha família toda  é. Torcida eles têm. Estão na quarta divisão e conseguem colocar 60 mil torcedores no estádio. Isso é uma força muito grande. Eu até me ofereci para ajudar. Falei com o pessoal para emprestar jogadores do Mogi Mirim, mas ninguém deu atenção. Acontece que dirigente, às vezes, quer ter o mérito só para ele. Não quer que ninguém ajude. Eu ia colocar jogadores lá, mas o pessoal não deu bola. Depois até falaram na imprensa de Recife que eram jogadores fracos que eu estava oferecendo. Mas eles nem vieram aqui. Acho que os dirigentes do Santa Cruz nem sabem onde é Mogi Mirim. O goleiro que eu ofereci para eles está em Portugal. Eu queria ajudar, ia pagar os salários. Fico triste de ver o clube assim. Tentei ajudar, mas não adiantou.

iG: Você é assumidamente uma pessoa tímida. Entretanto, no Twitter, tem conversado bastante com torcedores, dado sua opinião. Como é isso?
Rivaldo: Sentado na cama, atrás do computador o cara se solta. Na verdade, foi um cunhado meu que fez para mim. Mas ai passou seis meses e eu nunca tinha mexido. Um dia entrei com a minha esposa e ela começou a escrever, usando o meu nome. Ai um dia eu disse agora eu vou começar a escrever. E gostei da brincadeira, viu? Hoje tenho 55 mil seguidores. Daqui a pouco eu chego no Kaká, que já tem dois milhões [risos].

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Benê Lima