O treinar do futebol deve conter uma atmosfera repleta de variáveis, especialmente na formação esportiva
Rodrigo Vicenzi Casarin e Dênis de Lima Greboggy
Novamente, este espaço será utilizado com objetivo de gerar alguns questionamentos e reflexões para todos que buscam a transcendência acerca das várias dimensões inerentes ao futebol. O conteúdo a ser hoje discutido será relativo à alguns pressupostos sobre a variabilidade de prática (conteúdo estudado nas disciplinas Aprendizagem Motora, Pedagogia e Metodologia do Esporte dos cursos de Educação Física). Entretanto, antes de dar-se início, há uma necessidade do entendimento breve de alguns conceitos que, infelizmente ainda são desconhecidos, e logicamente por pessoas que permanecem com o pensamento de que "no futebol já está tudo inventado". TUDO inventado mesmo? Será?
Que o futebol tanto pode, quanto deve ser ensinado, não restam dúvidas. Entretanto para um ensino eficiente e com eficácia, há um fator preponderante a ser compreendido com unanimidade por todos que trabalham ou desejam trabalhar neste esporte: conhecer a natureza do futebol e entendê-lo como um fenômeno. Desta forma, será que os conteúdos ensinados vêm sendo feitos de maneira atual e cientificamente correta? E qual a relação de tudo isto com a variabilidade de prática no ensino-aprendizagem/treinamento?
Pois bem, veja-se: o futebol é um jogo desportivo coletivo de invasão. Em seu contexto, percebe-se num olhar macro a existência de situações como, equipes em constante relação de oposição e cooperação, onde o objetivo maior (ou a lógica do jogo) é de marcar o gol e evitar de levá-lo. Ao adentrar-se na visão micro, tem-se então sub-estruturas conectadas entre si. Esta observação micro pode nitidamente ser desenvolvida quando há um entendimento realmente aprofundado do futebol, por exemplo, nas observações de antecipações, tomadas de decisão, jogadas imprevisíveis, sprintscom trocas de direção, passes, finalizações, enfim, constantes variáveis que estão incontestavelmente inter-relacionando-se a todo instante e são interdependentes umas das outras.
No partir então da ótica que no futebol tudo está inter-relacionado, e seus acontecimentos são de natureza não-linear, há a necessidade de se aprender o processo de interpretação destes acontecimentos não-lineares com "outros olhos", através da luz da complexidade. Assim, com esta maneira de pensar (e que sempre deveria existir no futebol), chega-se a conclusão de que a complexidade pertencente ao jogo gera um alto nível de variabilidade prática (maneiras diferentes e inúmeras de se executar os comportamentos tático-técnico-físico-psicológico do jogo). Desta forma, usando uma dedução simples, chega-se a um núcleo comum: o treinar do futebol deve conter uma atmosfera repleta de variabilidade, especialmente na formação esportiva (entendam-se escolas de futebol).
Neste sentido, quais das duas tabelas de ensino-aprendizagem/treino abaixo contêm maior variabilidade?
Parece simples interpretar qual dos dois modelos possui maior variabilidade de prática, mais muitos irão interpretar com confusão as tabelas acima, de acordo com a visão e o entendimento relativo a o que é futebol? E o que deve-se ensinar em futebol? Entretanto, aprender o futebol é acima de tudo aprender a pensar! O futebol para ser ensinado necessita de alguém que o conheça bem, e que essa pessoa desenvolva nos atletas um jogar com plena autonomia. É principal lembrar que cada sessão de treinamento ou cada aula deve ser interdependente, e que durante um processo de longo prazo, a somatória dos treinamentos trará os objetivos determinados. Assim, deve-se perceber que a máxima monotonia, estereotipia, correspondendo à uma mínima variabilidade, resultará também, a mínima compreensão do contexto do futebol. Então de nada adianta cobrar veemente algo (aos "berros" escandalosos à beira do gramado) durante o jogo, se o treino não proporcionou um ambiente repleto respostas a serem escolhidas por uma tomada de decisão reflexiva, feita com um questionamento socrático , para o aluno entender e resolver os problemas diversos e imprevisíveis que o jogo apresenta, porém, embasado em uma forma de jogar.
Por fim, somando-se à variabilidade de prática, uma ação mediadora do professor, com boas instruções em forma de descoberta guiada , causará um grande engrama congitivo-motor de respostas que irão permitir aos atletas compreenderem criticamente o jogo de futebol.
¹Reflexão acerca de assuntos conduzindo o aluno a se questionar sobre suas tomadas de decisão e fazer com que este seja reflexivo com os companheiros de equipe.
²Espécie de mediação com intuito de hierarquizar tomadas de decisão (mais eficaz e menos eficaz), sem apresentar uma resposta pronta ao aluno.
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Benê Lima