Quem te viu, quem te vê, demitido Vanderlei Luxemburgo…
Os olhos vermelhos.
A voz embargada.
A demissão por telefone.
O senhor de 58 anos encarou a realidade.
A goleada por 5 a 1.
Os R$ 6 milhões da multa rescisória não mudarão sua vida: é milionário.
Talvez não paguem a tristeza de ser apontado como derrotado, decadente.
Ele envergonhou não só a torcida do Atlético Mineiro, mas quem o viu por décadas ser um vencedor.
Foi um homem que trabalhou muito.
Conseguiu ter o respeito do Brasil todo.
Quem não sonhou ter Wanderley Luxemburgo de treinador.
Antes era assim: com w e com y.
Sua idade era outra.
Tudo mudou por causa da CPI do futebol.
Ele tinha a Seleção Brasileira principal e a olímpica nas mãos.
Foram tantas as acusações, a pressão.
O escárnio, as gozações...
Renata Alves...
Depois de um vexame na Olimpíada de Sydney foi demitido.
Perdeu a chance de levar a Seleção para a Coreia e o Japão.
Felipão levou e foi pentacampeão.
Enquanto isso, Luxemburgo depois de uma grande depressão tentou se reerguer.
Fez um trabalho brilhante no Cruzeiro.
Outro no Santos.
Foi para o Real Madrid e foi traído pelo despreparo e pela fraca Comissão Técnica que escolheu para acompanhá-lo.
Sim, sua cara Comissão Técnica sempre foi fraca.
Mas era formada por homens que não o questionavam, pelo contrário, insistiam que ele é o melhor técnico do mundo.
Fora outros funcionários que só têm duas funções na vida: a primeira bajulá-lo.
A segunda vigiar quem ousa falar mal de Luxemburgo.
Não bastasse o fracasso no Real Madrid, ele resolveu criar um instituto de futebol.
Por videoconferências, ele ensinaria como trabalhar nos quatro cantos do Brasil.
O Instituto Wanderley (sim, ele estava com saudade do w e do y) Luxemburgo foi um fracasso.
Envolvido em mil atividades, não teve como acompanhar o trabalho dos seus sócios no instituto.
Outra decepção.
Depois surgiu Palmas.
E a proposta para sair candidato a senador.
Outra situação mal encaminhada que não deu em nada, a não ser expor sua ambição.
Veio o Palmeiras, da Traffic, do seu irmão Jota Hawilla.
A Libertadores, o fracasso.
A demissão por insubordinação por causa de Keirrison.
Belluzzo o desmoralizou dizendo que queria mandar no clube mais do que o presidente.
Voltou para o Santos prometendo a Libertadores.
Outro retumbante fracasso.
Foi tentar ser cabo eleitoral de Marcelo Teixeira.
Com a derrota na eleição do seu presidente, Luís Álvaro o baniu da Vila Belmiro.
Nenhum clube paulista, carioca ou gaúcho se manifestou.
Só o Atlético Mineiro do empolgado Alexandre Kalil.
Se encantou com a possibilidade financeira do banco BMG.
Montou o time que quis.
Escolheu jogadores rodados, vividos.
Mas vaidosos e sem a menor ligação com os clubes que defenderam.
Para eles tanto fazia jogar de preto e branco, amarelo, roxo, verde.
O importante era o alto salário no final do mês.
Luxemburgo ganhou de presente o Campeonato Mineiro, quando Adílson Batista resolveu escalar um Cruzeiro reserva nas semifinais.
Ele estava preocupado com a Libertadores.
O resultado óbvio foi a conquista do Campeonato Mineiro, competição de dois clubes.
Depois de toda a festa, veio o Brasileiro.
E a verdade cruel.
O Atlético Mineiro é caro, formado por jogadores que detestam marcar e adoram ser tratados como estrelas.
E com péssimo preparo físico.
Luxemburgo fazia de conta que não via os sinais.
Ele nunca mexeria no seu preparador físico de confiança, Antônio Mello e sua caixa de areia.
O time foi perdendo, perdendo, perdendo.
A cada derrota, a confiança dos jogadores foi diminuindo.
Luxemburgo parecia ter perdido o encanto.
Sua neurolinguística não funcionava.
Ele gritava na hora errada e conversava quando não deveria.
Responsável pelos jogadores caros que trouxe, ele não tinha como sacá-los do time.
O Atlético Mineiro de Luxemburgo foi a equipe que mais perdeu no Brasileiro.
Conseguiu a façanha de vencer seis vezes, empatar três.
E ser derrotado 15 vezes.
A última, ontem, que culminou com sua demissão foi deprimente.
O time se escancarou contra o Fluminense.
Tomou gols infantis, típicos de equipes mal orientadas.
Jogadores experientes corriam como se estivessem em uma excursão pela praia e não lutando para salvar o Atlético Mineiro.
O Fluminense misturou piedade com falta de pontaria.
5 a 1 foi um placar acanhado demais para quem viu a partida.
Para quem não viu foi uma goleada vergonhosa.
O placar é mesmo chocante: o milionário Atlético Mineiro de Luxemburgo goleado por 5 a 1.
Depois, o telefonema de Alexandre Kalil ao diretor de futebol Eduardo Maluf.
Por telefone, Luxemburgo estava na rua.
Envergonhado, se despediu dos jogadores.
A demissão virou uma constante na sua carreira.
Cruzeiro, Real Madrid, Palmeiras, Atlético Mineiro.
É um profissional em plena decadência.
Suas palestras não funcionam, não motivam mais ninguém.
Parece um mágico amador em um congresso de mágicos profissionais.
Só durou tanto tempo no Atlético Mineiro por causa do seu passado vitorioso.
Mas o último título importante que ganhou foi em 2004, o Brasileiro com o Santos.
Depois alguns estaduais e só.
O pior em tudo isso é que existe uma pessoa muito iludida.
Ele mesmo.
A amigos, nos seus jantares com gente importante da imprensa, ele dizia que ainda seria o treinador do Brasil na Copa do Mundo de 2014.
Muita gente concordava apenas para não perder o amigo que aprendeu a escolher vinhos tão bem.
A paixão pelo pôquer também o complicou.
Perdia horas importantes jogando quando poderia estar estudando o que fazer com seu time.
Mas quem ousaria questioná-lo.
O que é mais lamentável é que Luxemburgo tem uma visão privilegiada de futebol.
Deus lhe deu esse dom.
Mas infelizmente não lhe deu a visão para se cercar de pessoas competentes.
Nem a humildade.
Ele vive de afagos diários no seu ego.
É uma compensação pela vida dura que teve como jogador ruim.
"Só ficou tanto tempo no Flamengo porque era um craque no carteado", revelou Zico.
Luxemburgo saiu do Engenhão prometendo fazer uma reciclagem, ver onde está errando.
Se ele tiver coragem de se livrar de muita gente que o cerca ele estará dando o primeiro passo certo.
Depois, largar o pôquer.
Não usar nunca mais a palavra com que se enrolou nos últimos anos: manager.
Parar também de apelar para esse tal de 'projeto'.
Viver o dia a dia do futebol.
Voltar a ter fome de conquistas.
Parar de arrotar vinho de R$ 5 mil a garrafa.
Querer mostrar para o mundo o quanto é sofisticado com seus ternos importados.
Esquecer o botox.
E se voltar para o dom que Deus lhe deu.
Se preocupar apenas em treinar uma equipe.
Comer de bandejão com os jogadores.
Não querer calar cada crítico seu.
E sim não dar motivos para crítica.
Ter uma vida mais espartana.
Eu pessoalmente tenho saudade do homem apaixonado por futebol que conheci no Bragantino.
Às vésperas da final do Campeonato Paulista de 1990, contra o Novorizontino de Nelsinho Baptista.
Entusiasmava a todos que fossem entrevistá-lo.
Queria vencer na vida, decorar cada plano tático dos melhores times do mundo.
Sonhava que as suas equipes seriam as mais ofensivas do Brasil sem serem vulneráveis.
Tanta dedicação se refletia em campo.
Foi um técnico brilhante.
Pena no que se transformou: alguém sem foco, sem conteúdo, sem paixão pelo futebol.
Envelhecer lhe fez muito mal.
Ainda mais cercado de inúteis sanguessugas.
Os mesmos que hoje de manhã estão lhe dizendo o quanto foi injustiçado no Atlético Mineiro.
Fazem isso com medo de perder a sua melhor fonte de renda.
Mas fica o conselho de um ácido crítico do homem em quem você se transformou, Vanderlei.
Volte a olhar as fotos amareladas do homem de cabelo black power, camisa aberta e medalhão no peito.
Esqueça a breguice das roupas.
Preste atenção no brilho dos olhos.
Aquele homem sabia o que queria da vida.
Bem diferente desse que saiu demitido por telefone do Engenhão...
Depois de uma humilhante goleada por 5 a 1 para o Fluminense.
E passou esta madrugada em claro, de tanta vergonha...
http://www.youtube.com/watch?v=a62maWloQHQ
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Benê Lima