Novamente volto a discutir sobre o currículo de formação na iniciação ao futebol. É necessário, para não falar imprescindível, que as escolas de futebol organizem e sistematizem o processo de iniciação.
Não se pode chamar escola se não tem, por exemplo:
- professores com boa formação e remuneração;
- estruturas físicas mais adequadas possíveis;
- materiais de boa qualidade e em quantidade suficiente para o desenvolvimento do projeto;
- materiais de apoio pedagógico (que podem ser disponibilizados em sites das escolas e/ou blogs dos professores, por exemplo);
- planejamentos semanais, mensais e anuais;
- reuniões pedagógicas semanais;
- uma coordenação pedagógica, responsável pela organização, controle e acompanhamento da aprendizagem ao longo do processo;
- um projeto pedagógico que determine as diretrizes, os princípios e as condutas pedagógicas dos professores, para que os mesmos possam saber onde devem chegar e o que ensinar para cada uma das idades.
Como já ressaltei em textos anteriores, e pode ser verificado nas colunas “Os conteúdos que as crianças de sete anos devem aprender numa escola de futebol” e na crônica pedagógica “O que as crianças de oito e nove anos devem aprender numa escola de futebol”, para se determinar os conteúdos a serem desenvolvidos deve-se levar em consideração as competências essenciais dos jogos coletivos.
Entendo, conjuntamente com as novas tendências teóricas em pedagogia do esporte, que as competências essenciais devem ser entendidas como: estruturação do espaço, comunicação nas ações e relação com a bola.
A estruturação do espaço diz respeito aos conhecimentos (habilidades) sobre as noções de espaço e tempo, que acontecem em interação sistêmica com as ações táticas e os domínios técnicos no interior dos pequenos, médios e grandes jogos.
Já a comunicação nas ações acontece em meio ao desenvolvimento da competência interpretativa dos jogadores (alunos) sobre o jogo. Ou seja, estou falando a capacidade de fazer e compreender a lógica dos mais diversificados jogos. A interpretação da lógica do jogo é condição imprescindível para construção de conhecimentos que levem os alunos a ficar mais inteligentes de corpo inteiro para o jogo, pois no momento que todos conseguem ler a lógica do jogo, as ações coletivas serão muito mais eficazes e a médio e longo prazo mais eficiente.
A relação com a bola é de mais fácil entendimento, porém distante da interpretação da construção da relação com a bola pela metodologia tecnicista, ela precisa se explorada e desenvolvida sempre em contexto de jogo.
Desse modo, os conteúdos que as crianças de 10 e 11 anos devem aprender segundo a matriz curricular que assumimos para o processo de iniciação ao futebol, consonância com os estudos do professor João Batista Freire, especialmente no livro “Pedagogia do futebol”, seriam:
Estruturação do espaço
- Domínio do espaço de meio do campo, transitando para um espaço maior (um pouco menor que o campo oficial – sugestão de campo de grande área à grande área, mantendo a largura oficial);
- Domínio e exploração de traves que têm um tamanho próximo a 6 X 2 metros (ou seja, um pouco menores que a oficial).
Comunicação na ação
- Aperfeiçoamento das respectivas competências interpretativas dos alunos (tomada de consciência das ações desenvolvidas no jogo);
- Os alunos devem ficar mais tempo na zona do campo que mais lhe agrada (zona do meio campo, da defesa e do ataque – entendendo zona não como posições clássicas dos jogadores, frente às plataformas táticas básicas);
- Continuar o processo de compreensão do processo organizacional sistêmico dos jogos (a lógica do jogo, mais estimuladas em jogos médios e grandes)
- Compreender a lógica tática da defesa, meio campo e ataque
- Enfatizar as formas adaptadas de jogo (segunda parte aula – ver crônica que aborda a organização das aulas nas escolinhas de futebol).
Relação com a bola
- Preocupação maior como aperfeiçoamento das habilidades específicas (transitar do gesto eficaz, para deixá-los mais eficientes). Habilidades específicas básicas: passe, chute, controle, condução e drible/desarme.
- Explorar as habilidades derivadas, entendidas como o lançamento, cruzamento, cobranças de faltas, cobranças de pênalti e cobrança de escanteio.
Portanto, este seria o currículo a ser desenvolvido para as crianças que se encontram num nível básico (intermediário) nas escolinhas de futebol. Logo, não se está preocupado com a especialização, mas sim com os conhecimentos básicos sobre futebol, explorados sempre a partir de jogos (pequenos, médios e grandes).
Vale ainda destacar que os conteúdos atitudinais (relativos às atitudes, comportamentos e valores) não podem nunca ser esquecidos, e devem ser preocupação constante dos professores com suas condutas pedagógicas.
Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
CALOUROS DO AR FC
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Alcides Scaglia
O que as escolas de futebol devem ensinar às crianças de 10 e 11 anos
Para determinar os conteúdos a serem desenvolvidos, deve-se levar em consideração as competências essenciais dos jogos coletivos
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