Todos sabem reconhecer um mau gramado. Seja pela má aparência, pelos buracos, “montinhos artilheiros”, áreas carecas, piso duro ou pelas poças d’ água e lama. E, infelizmente, ainda vemos muitos gramados nessas condições nos jogos dos nossos campeonatos regionais, nacionais e intercontinentais. Mesmo nas Eliminatórias da Copa 2010, no jogo Brasil x Uruguai, em Montevidéu, o gramado se encontrava em péssimo estado de conservação.
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Fatores culturais e institucionais
Isso ocorre por fatores culturais, mas também, por falta de atuação das instituições do futebol (Sindicatos de Atletas, de Treinadores, Federações, Confederações, etc.).
Além disso, muitos de nossos estádios foram construídos há mais de 20 anos e seus campos foram executados em solos argilosos e sem o emprego das técnicas modernamente usadas em gramados esportivos. Assim, encontram-se defasados em termos de drenagem, irrigação e espécie vegetal usada.
O gramado é insumo básico para a prática do futebol. É, ou pelo menos deveria ser, o palco verde para os artistas da bola darem seu show. Deve ajudar a abrilhantar o espetáculo, propiciando condições para que o atleta de elite possa desenvolver todo o seu potencial.
A Copa 2014 pode e deve ser um marco, bem como uma grande oportunidade para virar esse jogo, melhorando a qualidade dos gramados nacionais. Incutir na consciência dos dirigentes esportivos, atletas e treinadores a cultura de se ter bons palcos, para que estes possam contribuir com o espetáculo, é essencial.
Um bom gramado começa com um bom projeto. Esse projeto é único e diferenciado para cada caso, haja vista vivermos num país de dimensões continentais, com climas, regimes de chuvas e características bem diversas. Claro que essas características regionais tem de ser levadas em conta na elaboração do projeto de um bom gramado de futebol.
E o projeto do campo, feito por engenheiros agrônomos com experiência em gramados esportivos, deve ser feito junto com o projeto do estádio, nos casos de construção de um estádio novo. Isso porque fatores como a cobertura do estádio, inclinação das arquibancadas, acesso ao campo, etc., afetarão o campo para sempre.
Topsoil
Um componente imprescindível para um bom gramado esportivo é o Topsoil. A um só tempo, esse solo preparado e que serve de substrato, arenoso, para o plantio da espécie vegetal, permite uma boa drenagem (alta condutividade hidráulica) e dá ao sistema radicular da grama as necessárias condições para desenvolvimento, crescimento, produção de massa verde e capacidade de suporte de cortes/pisoteio.
Irrigação e drenagem
Com este arcabouço bem projetado, a variedade de grama correta, drenagem e irrigação bem dimensionadas, tem-se uma situação privilegiada no sentido de se obter um gramado esportivo de boa qualidade.
A irrigação deve ser do tipo escamoteável (recolhida sob a grama) e automatizada. Dessa forma, de maneira ordenada e automatizada, a irrigação emerge no gramado, somente na hora de irrigar e pelo tempo determinado a aplicar a lâmina de água necessária, homogeneamente, sem excessos ou desperdícios.
Já a drenagem tem duas componentes principais. A drenagem superficial, que são os caimentos do terreno, do centro para as laterais e linhas de fundo, retirando o excesso de água da faixa central do campo, onde há a maior concentração do pisoteio. E a drenagem subsuperficial, ou drenos propriamente ditos, que ficam abaixo da camada do Topsoil, levando toda a água que infiltra a ponto de fuga seguro.
Variedade de grama
Hoje temos no Brasil uma boa gama de variedades de grama, que tem bom desempenho e aptidão para a formação de campos de futebol.
Dentre várias, destacam-se as bermudas híbridas (Tifton 419, Celebration, Tifeagle, etc). Essas variedades tem como características o rápido crescimento e produção de massa verde, alta capacidade de regeneração e de suporte de pisoteio e cortes.
Além das referidas, existem no mercado outras variedades, além de algumas propagadas por sementes, que podem ser usadas até em overseeding.
Durabilidade
Um campo de futebol bem projetado, bem construído e com uma boa manutenção tem uma durabilidade indefinida. Falar em 10 anos, 20 anos, não é exagero, quando se fala em durabilidade de bons campos de futebol.
Estética
E o campo de futebol, além de bom, pode e deve ser bonito. A manutenção moderna destaca-se também pela beleza do campo. Esse tema passou a ter grande importância, com o grande potencial mercadológico que as transmissões de futebol ganharam.
Assim, nós, técnicos da área, além da preocupação com a qualidade do piso, passamos a ter cuidados com a beleza do campo, empregando máquinas de corte eficientes e que auxiliam no visual do gramado.
Sustentabilidade
Não podemos, porém, esquecer que vivemos num planeta que vem sofrendo agressões através dos séculos.
Os técnicos conscientes, ao projetarem um estádio, bem como seu campo, tem de ter a temática da sustentabilidade como norteador de seus projetos.
Em termos dos gramados, além da consciência ecológica, por questões econômicas e de legislação, há muito que pensamos dessa forma, usando o mínimo possível de fertilizantes químicos, reutilizando água da drenagem para a irrigação, usando água de chuva coletada nas coberturas dos estádios na irrigação, usando irrigação automatizada para obter maior eficiência na aplicação da lâmina, restringindo o uso de agroquímicos, usando motores elétricos de alta eficiência nas moto bombas, utilizando máquinas de corte de baixo consumo de combustíveis, de lubrificantes e de baixa emissão de poluentes, etc.
*Artur Melo é engenheiro egrônomo, especialista em gramados esportivos.
Contato: artur.melo@gramadosesportivos.eng.br
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Benê Lima