Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Será?

Viva o espírito varziano

Antero Greco




O futebol no Brasil faz tempo tenta imitar o da Europa, porque acha que por lá tudo é chique. Mas continua a ter muito da velha e insuperável várzea. No que acho bacana e simpático, até. Fica mais humano. A noite de quarta-feira apresentou episódios que me fizeram acreditar que, apesar de ternos, entrevistas coletivas, carrões, marketing, uniformes nº 3, assessores disto e daquilo, clubes e jogadores do lado de cá do Atlântico não viraram robôs da bola.

Quer um exemplo? A reestreia de Jardel em rede nacional. Para quem não sabe, foi um dos pilares do grande Grêmio de Felipão nos anos 90 e goleador que fez fama e fortuna no Porto. Depois, a carreira desandou, o "super Mário" levou várias caneladas da vida, perdeu o rumo, jogou até em time de Terceira Divisão do Ceará. Reapareceu no Flamengo do Piauí. Fofo, fora de forma, mas com carisma e bom humor impecável.

Jardel entrou aos 47e30 do segundo tempo do duelo com o Palmeiras, deu um pique, não pegou na bola nos 35 segundos restantes do jogo, arrancou aplausos da torcida. Saiu de campo esbaforido e feliz. "Em São Paulo, vai ser diferente", avisou o atacante, de 36 anos declarados. "Até lá estarei bem melhor."

Mais comovido do que Jardel ficou Herivelton, que fechou o gol em Teresina e ajudou a provocar a segunda partida. "Foi uma vitória", comentou, comovido. "Só nós sabemos de nossas dificuldades." Tocante. E o Flamengo ainda ficou com a grana do jogo, mesmo derrotado.

Essa mesma partida apresentou outros detalhes que me enterneceram. O banco de reservas do Flamengo não era banco, mas cadeirinhas de plástico, daquelas que se usam em botecos de praia ou em churrascos no sítio. Coisa singela, prosaica. A turma ficou ali, à beira do gramado, no melhor estilo de jogo de fazenda. De quando as fazendas tinham campinhos. Nas arquibancadas, piauienses vestidos com a camisa do Palmeiras eram tão numerosos quanto piauienses com a camisa do time da terra. Convivência pacífica, sem brigas, como sempre foi possível na várzea.

Mas o grande episódio varziano aconteceu no Morumbi. Como todos sabem, o São Paulo é um time "diferente", como gosta de apregoar seu presidente ? no sentido de moderno, ousado, previdente e ao mesmo tempo surpreendente. O planejamento é seu ponto forte. Será mesmo?

Pois não é que o lateral Cicinho, o último emigrante a desembarcar de volta, chegou na quarta pela manhã, descansou um pouco à tarde e à noite se paramentou para ficar à disposição do técnico Ricardo Gomes? De quebra jogou uns 15 minutos contra o Monterrey, na abertura da Taça Libertadores.

Jogou pouco e mostrou falta de ritmo. Também o que se poderia esperar dele?! Só o Pelé (e olhe lá) seria capaz de resolver uma parada no mesmo dia em que se integrasse a uma equipe. Tem coisa que não dá pra entender. Não passa dia, desde que acompanho futebol ? essa mania começou nos anos 60 do finado século 20 ? que não tenha ouvido técnicos e jogadores alegarem a necessidade de preparo físico, de tempo para entrosamento, de cautela em escalação para evitar estragos.

Essas alegações me pareciam sensatas, até anteontem. Não me venham mais com esse papo, pois pra mim vai soar como conversa pra boi dormir. Também não adianta dizer que Cicinho estava bem, porque em atividade na Roma. Treinava, é verdade, mas só pegava banco e um ou outro joguinho menor. E treino é treino, jogo é jogo. Tem muita conversa fiada no futebol.

Ao escalar Cicinho quase no desespero, o São Paulo expôs seu lado frágil, a carência de elenco. (Não engulo a explicação de que foi uma forma de motivar o público a ir ao estádio.) Ao mesmo tempo, me fez ver que tem recaídas varzianas como qualquer clube brasileiro que se preze. Ainda bem.

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Benê Lima