Com bons resultados em campo, nova safra se consolidou no país |
Dominantes, técnicos novatos 'reciclam' os medalhões e revolucionam o mercado
No início da década a constatação era sempre a mesma. Um grupo restrito de técnicos se revezava entre os grandes clubes de um futebol brasileiro carente de renovação. Em 2010, o cenário é outro. A nova safra de treinadores derrubou a desconfiança inicial com resultados concretos, obrigou os ‘anciões’ a se atualizarem e hoje é soberana.
Se antes poucos clubes de tradição se arriscavam nas mãos de um inexperiente, hoje a aposta nos medalhões virou um verdadeiro risco, pois muitas vezes é mais caro e com métodos ultrapassados. A chegada de Antônio Carlos ao Palmeiras, com apenas nove meses de carreira, em substituição ao tarimbado tricampeão brasileiro Muricy Ramalho expressa bem a ‘nova cabeça’ dos dirigentes.
De um total de 19 clubes, considerando os mais tradicionais de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Bahia e Goiás, apenas quatro ainda são adeptos da chamada velha guarda.
O Atlético-PR tenta reviver os tempos áureos de Antônio Lopes com os títulos brasileiros de 1997 (Vasco) e 2005 (Corinthians) e a Libertadores pelo Vasco em 1998. O xará mineiro ainda acredita no que a marca Vanderlei Luxemburgo pode render, enquanto o Sport resgatou Givanildo Oliveira, que teve a primeira passagem por Pernambuco em 1983. Dos quatro clubes, só o Botafogo está em ‘lua de mel’ com Joel Santana após a conquista da Taça Guanabara.
As explicações inicialmente simplistas para a opção pelos novatos, baseadas nos custos mais baixos em uma época de vacas magras e a maior disposição, ganharam argumentos fortes com os resultados em campo e uma relação mais próxima com os jogadores.
Essa é a visão de Antônio Carlos. “Temos algumas vantagens. A maior delas é que parei de jogar há dois anos, tenho mentalidade e consciência de jogador, sei o que posso falar para ele. Os atletas não são iguais e tento passar minha experiência a eles”, avaliou.
No ano passado, o então auxiliar Andrade pegou o Flamengo desacreditado, envolto em problemas financeiros e com divergências no elenco para chegar ao título do Campeonato Brasileiro. "É uma mudança natural, mas chama a atenção porque os clubes estão procurando um novo perfil. Essa nova geração é muito boa", analisou.
Há mais de dois anos em seus clubes, Mano Menezes e Adilson Batista são casos expressivos de longevidade. Mano conquistou a Série B, o Paulista e a Copa do Brasil pelo Corinthians, enquanto Adilson chegou à decisão da Libertadores depois de vencer dois estaduais. Dorival Júnior segue a linha dos contemporâneos com bons trabalhos em Cruzeiro e Vasco. Agora comanda o ‘time da moda’ Santos. Paulo Silas traça o mesmo caminho no Grêmio após uma boa campanha no Avaí.
Por tudo isso os novatos ganharam confiança. "Já conquistamos o espaço. Nos fixamos nos clubes mais rapidamente do que os antigos. Os técnicos mais jovens têm mais capacidade de diálogo com os jogadores. Somos mais amigos e sabemos o que cada um pensa", disse Vagner Mancini, outro integrante da nova geração, agora no Vasco.
Velha guarda em alerta
Antes em situação bem confortável, os anciões se sentem cada vez mais ameaçados e fazem o que podem para se segurarem. Os casos mais emblemáticos são de Joel Santana e Vanderlei Luxemburgo.
Pentacampeão brasileiro, o técnico do Atlético-MG passou de unanimidade a 'rejeitado', e se escora na fama para tentar manter o status anterior. Os resultados recentes deixam a desejar para quem custa quase R$ 800 mil mensais: seu último título foi o Paulista de 2008 pelo Palmeiras, mas em nível nacional Luxemburgo levou apenas o Brasileiro de 2004 com o Santos.
Joel Santana também não é soberano. Em sua passagem conturbada pela África do Sul, sentiu o gostinho do ‘quase’ de disputar a Copa do Mundo de 2010, acabou demitido e foi criticado até pelo seu inglês um tanto quanto inusitado. Mas o caso de amor com o Rio de Janeiro perdura.
O chamado 'papai Joel' (por fazer do grupo uma família) saiu do Flamengo ovacionado – mesmo com uma despedida amarga na eliminação histórica na Libertadores para o América do México em 2008 – voltou nos braços da torcida do Botafogo e se consagrou no último fim de semana com a conquista da Taça Guanabara. A receita do sucesso: se atualizar.
"Não tem outra maneira senão me atualizar. Não tem como não mudar com o tempo, pois as cabeças mudam. Tenho de saber lidar com os jovens do meu time. Contudo, sou um treinador das antigas. Passo para eles como é a vida e tenho a experiência ao meu lado. A nova geração é muito boa, mas sempre tem meu espacinho aí”.
* Com ajuda de Rodrigo Farah e do escritório do Rio de Janeiro
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Benê Lima