Alcides Scaglia
Penso ser a última etapa do processo de iniciação ao futebol um período de transição. Não entendo como a transição do processo de iniciação para o de especialização, mas sim o término de um currículo que culminará com duas opções de trânsito.
Por analogia, entendo que este período seria similar ao ensino médio da educação básica, pois ao chegar ao seu final depois de conhecer uma gama de conteúdos sistemazidos, opta-se por uma das inúmeras possibilidades de formação superior.
Por exemplo, pensando na matemática – valendo-me de um exemplo dado pelo professor Roberto Paes em meu primeiro ano de faculdade -, na antiga primeira série aprendemos contas de soma e subtração, para depois compreender, na segunda, multiplicação e divisão. Na terceira, fração, e assim sucessivamente, passando pela potenciação e equações até chegar à trigonometria no ensino médio.
Vale destacar que com este exemplo não quero falar em linearidade, pois o mesmo princípio da soma da primeira série é a que aprece na trigonometria, porém o grau de complexidade e seus contextos de aplicação são muito diferentes.
O mesmo acontece com o currículo da iniciação que gostaria de finalizar com este texto, pois não estou falando em primeiro aprender a passar para depois driblar e só depois jogar. Quero mostrar que todos os fundamentos (relação com a bola) com suas respectivas contextualizações lógicas presentes no jogo são aprendidos ao mesmo tempo em que se aprende a jogar futebol.
Isto acontece pelo grau de complexidade que os pequenos, médios e grandes jogos vão ganhando com o avançar dos anos no processo de iniciação e também depois no de especialização. Logo, o passe dos pequenos e grande jogos da turma de 7 anos é o mesmo em termos conceituais que o do futebol oficial (jogo/esporte futebol), porém este (o passe) ganha muito em complexidade.
Sendo assim, continuando a analogia com a educação básica, no final do ensino médio, cada aluno decide o que fará com tudo o que aprendeu ao longo dos vários anos escolares. Alguns vão para a universidade fazer, por exemplo, um curso na área de exatas (se gostar de cálculos), ou para área de humanas, ou mesmo biológica. Outros optam por um curso profissionalizante, ou até não continuar estudando.
Por que enfatizo tanto isto nesta crônica pedagógica? Simplesmente para que todos entendam de uma vez por todas: a iniciação não tem por fim último ser um funil por onde ao final do processo só passem alguns selecionados. A iniciação tem um currículo com conhecimentos básicos de futebol a todos (como acontece na aula de matématica básica) do começo ao fim.
Depois desta importante consideração, quero elencar os conteúdos que complementariam a formação básica (inicial) dos alunos que adentram no processo de iniciação.
As competências essênciais gerais seriam:
Na estruturação do espaço
– Dominar o espaço do campo oficial;
– A estruturação do espaço com a utilização da regras de impedimento;
– O jogo com a trave oficial.
Na comunicação na ação (ênfase maior desta etapa):
– Dominar as regras oficiais;
– Compreender agora a lógica do jogo de futebol com a regra do impedimento e ao mesmo tempo o jogo coletico;
– Reconhecer a necessidade e os porquês da existência das plataformas táticas;
– vivência das diversas posições táticas do jogo (do goleiro ao ponta esquerda, passando pelo suplente);
– Conhecer e e reconhecer na prática as plataformas táticas (estratégias) básicas (4-3-3; 3-5-2; 4-4-2);
– Compreender a função que cada jogador deve desempenhar ao jogar em certa posição numa determinada plataforma;
– Aperfeiçoamento da compreensão da lógica do processo organizacional sistêmico do jogo de futebol. Ampliando suas respectivas competências interpretativas, para que fique cada vez esclarecido a necessidade de se mudar as ações táticas (meios táticos) e até plataformas, em função do contexto (situação) do jogo.
Na relação com a bola
– Aperfeiçoar ainda mais as habilidades específicas básicas e derivadas, sempre no contexto do jogo, tornando-as cada vez mais eficientes;
– Início da preocupação com as noções do condicionamento físico. Porém sempre com bola e respeitando as especificidades requeridas pelo jogo de futebol.
Portanto, é exatamente a preparação para esta transição que digo acontecer nesta fase. Pois alguns irão para a “universidade da bola” tentar se especializar e profissionalizar no futebol, porém outros podem optar por continuar a jogar (até competindo), mas sem o objetivo de se profissionalizar, e sim de continuar a ter prazer jogando futebol com outros amigos, a partir dos conhecimentos básicos sobre futebol adquiridos envoltos pelos preceitos do esporte educacional.
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Benê Lima