O Humanismo, sem nomes e fatos
Este título nos remete à idéia de que nele haverá omissão de nomes ou fatos, mas omissão não seria uma palavra adequada. Comportamento, consciência e inconsciente coletivo não exigem pessoas e fatos para serem analisadas sem julgamento. Este é o papel da reflexão humana e da filosofia: analisar e refletir sobre o ser humano, suas compreensões e incompreensões em relação a si mesmo, ao seu meio e à vida. Ter um ideal não é o mesmo que buscar o ideal, mesmo porque, se fixar num ideal é puro egoísmo. Errarmos em nossas escolhas pessoais, quando muito, afeta a nós mesmos e os que estão próximos. No entanto, quando assumimos um ideal e o divulgamos com a intenção de agregar o maior número de simpatizantes e adeptos a esse ideal, nossa responsabilidade aumenta na proporção dessa abrangência. E o que eu chamaria de responsabilidade? É a velha máxima de Saint-Exupéry "Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas". Pela lei do retorno - que difere da visão ocidental simplista e dogmática de Karma, mas sim à completa lei da ação e reação - estamos criando sonhos nas pessoas. E ao criarmos sonhos, estamos também criando expectativas, relacionadas a uma outra frase de Exupéry: "Se tu vens, por exemplo, às 4, desde as 3 eu começarei a ser feliz".
É por isto que, ao incentivarmos reflexões ao invés de receitas prontas, não corremos o risco de influenciar pessoas e de disparar reações contrárias. Na verdade, estamos inseminando uma idéia em sua mente, evitando plantar respostas e soluções. Isto não é uma transferência de culpa ou responsabilidade, mas um incentivo ao exercício do livre-arbítrio.
O ser humano tende à liberdade e à felicidade. Isto é óbvio, desde que não nos preocupemos em analisá-los dentro das peculiaridades e dos valores do indivíduo, a tão falada ordem de valores de cada um. Excluindo-se os masoquistas e os agentes do mal, considerados exceções, a unidade de objetivo se manifesta na paz, na harmonia e no amor, respeitada a senda de cada um. Dentro dessa diversidade de caminhos que compõe cada senda, todos eles se unem numa palavra inequivocamente unânime que é o HUMANISMO.
Humanismo não pode ser representado por grupos políticos rotulados por siglas partidárias. Seria o mesmo que tentar registrar direito de propriedade sobre sentimentos em cartório. O humanismo é muito mais do que um conjunto de regras de comportamento. Humanismo é sensibilidade suave e não uma paixão. Humanismo é fraternidade agregada à essência do ser, diferente de bondade e caridade. Humanismo é a consciência sentida e não uma obrigação assumida. Humanismo é SER e não TER ou ESTAR.
E aí viria a pergunta: "Posso dar ordens à minha essência?". É lógico que isto não é possível e eu não eliminei a importância das palavras conhecimento, compreensão e conscientização. Elas são os principais ingredientes que formarão o amálgama dessa essência (ou da alma). E por que não também as nossas ações? Porque se as ações não estiverem ligadas aos sentimentos da essência, não passarão de formas de conduta, impulsionadas por leis atribuídas a deidades, santos e seres iluminados, figuras normalmente utilizadas em religiões e crenças para criar figuras hierarquicamente superiores, tornando seus valores espirituais propositadamente inalcançáveis. Não estou negando a existência passada ou atual desses avatares iluminados, seja no plano físico ou no espiritual, mas apenas questionando a autenticidade de seus sucessores.
O humanismo não condiciona ninguém à uma idéia de punição baseada na aceitação incondicional ou resignação em relação às verdades impostas. O humanismo não imputa sentimento de culpa, mas de compreensão das nossas limitações sem, no entanto, desestimular a busca das nossas próprias verdades. Humanismo é sentimento interior do bem comum.
Aceitar algo incoerente com o sentimento de bem comum é tentar se convencer de que podemos ser felizes isolados da humanidade. Chegar na sua rua e cumprimentar seus vizinhos, entrar em casa e olhar para seus pais, mulher e filhos exige muito mais do que simplesmente deixar seus problemas lá fora. Sua paz interior não lhe espera no cabide ou na gaveta do seu guarda-roupas, junto com a sua roupa de dormir.
Desta forma, sem citar nomes e situações reais, quando não nos sentimos bem com determinadas pessoas e fatos, que procuremos ao menos dar a devida atenção que esse sentimento merece, sem buscar justificativas que nos tirem esse "incômodo" de ter que refletir. Que a gente possa discernir instinto de sentimento e intuição. Enquanto os instintos privelegiam a SOBREvivência, o sentimento e a intuição privilegiam a vida.
É mais do que SER humano... é SER humanizado.
Fonte: Pura Relexão / Zé Cláudio
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima