Por Erich Beting
“O futebol feminino não precisa de ajuda, mas de projeto.”
A ladainha continua a mesma desde 2004. A cada bom resultado da seleção brasileira, ou a cada eleição de Marta como melhor jogadora de futebol do mundo, uma reunião entre a nossa melhor representante da bola com o presidente da República, o pedido para que o futebol feminino tenha mais atenção do governo, da mídia e dos patrocinadores e por aí vai.
Este ano, com uma presidente da República, então, o cenário voltou a ser de promessas e de pedidos para resolução de problemas.
Afinal, como podemos nos conformar com a Marta atuando apenas dois ou três meses por aqui e o restante do ano nos EUA? Ou, pior, como é que só ela é capaz de ganhar dinheiro com o futebol feminino, enquanto nossas outras atletas praticamente pagam para jogar? E a mídia, que assiste a tudo isso e não dá a menor bola, não transmite jogos, não se interessa em mostrar o esporte?
Com tudo isso, fica impossível, obviamente, um patrocinador se interessar pela modalidade, e aí temos o círculo vicioso que tanto atrapalha o crescimento do futebol feminino no Brasil.
O discurso, porém, já virou mais choradeira do que, de fato, algo prático e efetivo para melhorar a situação do futebol das mulheres no Brasil.
O futebol feminino não precisa de ajuda, mas de projeto. Enquanto não se trabalhar para sairmos do discurso e irmos para a formatação de um plano de melhora do esporte no Brasil, nada vai mudar.
E isso passa, necessariamente, pela revisão da alta gerência do esporte, que faz com que a modalidade seja gerenciada pela CBF, a Confederação Brasileira de Futebol, entidade que já cuida da seleção masculina, das categorias de base e, ainda, do Campeonato Brasileiro das Séries A, B, C e D e da Copa Kia do Brasil.
Esse é o cenário que prejudica, e muito, o desenvolvimento do futebol feminino. A CBF está ocupada demais com outros projetos mais consolidados e rentáveis do que se esforçar em crescer a modalidade.
Não é por acaso que a situação falimentar das mulheres é muito diferente daquela vivida no futsal e no futebol de areia, que têm seus campeonatos mundiais controlados pela Fifa, mas que possuem, aqui no Brasil, entidades que funcionam sem depender da CBF.
O primeiro passo que o futebol feminino precisa dar no Brasil é de independência. Só assim as mulheres conseguirão deixar de depender da boa vontade alheia para desenvolver suas competições.
O potencial de crescimento existe. A mídia adora falar sobre o tema, os patrocinadores gostam daquilo que tem exposição na mídia, jogadoras de qualidade surgem em bom número por aqui. O que precisa, agora, é arregaçar as mangas e, em vez de buscar toda hora o microfone para reclamar, trabalhar para mudar a realidade. Esse é, sem dúvida, o passo mais difícil de ser dado.
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Benê Lima