Em uma semana de setembro de 2010, a Uefa reuniu em Madri, capital da Espanha, treinadores e diretores das suas 53 federações filiadas. O motivo: a IX Conferência de Selecionadores Nacionais da Europa, que teve como anfitriã a Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF). Na Conmebol, que tem a CBF como uma de suas principais afiliadas, não houve qualquer tipo de movimentação neste sentido, pós-Copa do Mundo na África do Sul.
Entre os temas centrais de debate no cenário europeu estiveram o sucesso das seleções locais e a experiência que a fase final proporcionou aos comandantes. O evento já compõe o calendário da entidade que comanda o futebol no Velho Continente desde 1994, quando houve a sua primeira edição. Desde então, a cada dois anos, após a fase final de um Mundial ou uma Eurocopa, ele é reproduzido.
“A conferência pretende refletir sobre a fase final recentemente concluída. Analisamos os padrões relativamente ao futuro, tanto em termos de Euro, quanto Champions League. É uma oportunidade para os selecionadores se juntarem e partilharem ideias e pontos de vista num ambiente mais descontraído”, indicou o diretor técnico da Uefa, Andy Roxburgh.
Na agenda também há apresentação de estatísticas e prêmios do Mundial, uma aula sobre a escola de futebol espanhol – concentrando-se no trabalho de desenvolvimento que tem levado aos sucessos mais recentes do futebol da Fúria – e um debate sobre o futuro do futebol de equipes representativas dos países. Algo com que o futebol sul-americano – e o Brasil, por consequência – não é contemplado.
Em um dos raros encontros entre profissionais do futebol, o Footecon (Fórum Internacional de Futebol, realizado anualmente, no Rio de Janeiro) serviu de mote para que Mano Menezes assumisse uma condição de “protagonista” entre os treinadores, assim como sua seleção pretende desempenhar nos duelos diante dos principais rivais estrangeiros.
“Os treinadores das séries A e B [do Campeonato Brasileiro] precisam discutir mais futebol. Temos aqui o Zagallo, um dos técnicos mais vitoriosos do futebol, da seleção, e nunca falei sobre futebol com ele. Isso é um absurdo”, citou o comandante. “E essa proposta tem de partir da confederação (CBF), o que certamente vai melhorar o nosso trabalho em muitos aspectos”.
Na avaliação dele, os clubes brasileiros têm demonstrado mais condições financeiras do que em temporadas passadas, algo aque inverte a equação e faz com que mais jogadores importantes atuem em sua terra natal. Isso tudo tem influência na estrutura do futebol nacional, indica o treinador gaúcho, mas há uma necessidade latente de se preencher as lacunas do debate técnico sobre o jogo.
“Acho que o Brasil precisa evoluir muito nas questões de formação de seus profissionais do futebol. A demanda é muito grande, e a formação está muito atrasada em relação a outros centros. Há poucos anos temos a EBF (Escola Brasileira de Futebol); já na Europa, há muitos anos a Uefa forma seus profissionais”, argumentou na mesma linha Rafael Vieira, analista de desempenho da seleção brasileira.
O profissional formado em Educação Física, com larga experiência na área de treinamento esportivo e tecnologia, vê sua função – auxiliar ao trabalho do treinador principal – moldada nas universidades e praticada nos clubes. E sua difusão deve ocorrer com mais força a partir dos próximos anos.
“Para formar um analista é necessário ser um bom observador, assistir muitos jogos e criar seus parâmetros de análise. Também acho que esse profissional deve ter na sua experiência prática de futebol, seja o nível que for, mas o contato com o esporte favorece a leitura do jogo. Ressalto também que em qualquer profissão é necessário preparo e talento para realizá-la de forma a alcançar a excelência”, completou Rafael, que trabalha com Mano desde os tempos de Grêmio e Corinthians.
Com o olhar voltado a décadas passadas, é interessante também o relato do professor José Teixeira, que em 2010 completou 50 anos de carreira ligada diretamente ao futebol. Primeiro preparador físico da história do São Paulo, ele sempre enalteceu os estudos acadêmicos para pautar suas atividades de campo.
“Queria pesquisar, mas não havia uma literatura consolidada. Não tinha referências bibliográficas ou outras pessoas da área para trocar ideias. Achei em um livro, de Alberto Langlade, do Uruguai, que fazia a seguinte questão: “como você se auto-avalia?”. E eu me reprovei”, relembrou Teixeira.
“Passei a detectar minhas deficiências. Primeiro: não sabia falar em público, e fui fazer um curso de oratória. Depois disso, outro de relações públicas, psicologia, de massagista, de árbitro, estudos específicos que me dessem condições de pelo menos entender melhor o meio. Sempre fui muito exigente comigo. Procuro desenvolver novos planos, estudar, dar palestras, etc. Dou muito valor à base científica e às pesquisas”, completou.
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Benê Lima