Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, junho 22, 2010

Briga de Dunga não é contra o veículo; é contra a classe

* Thaís Naldoni é jornalista, graduada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com passagens pela Folha Online e Sportv, também atuou como repórter e secretária de redação da Revista IMPRENSA.

Tenho acompanhado de perto e atentamente o desenrolar da briga de Dunga com a imprensa, que teve seu ápice - e sua maior repercussão - quando a TV Globo exibiu editorial no "Fantástico" que criticava a postura dunga (1)do treinador, depois que ele, em coletiva de imprensa, resmungou palavrões ao jornalista da emissora, Alex Escobar, e manteve sua postura irônica ao responder perguntas de todos os jornalistas. Repito: de todos os jornalistas.

Em uma busca rasteira pelo Portal IMPRENSA, usando como termo a palavra "Dunga", de outubro de 2007 para cá aparecem 17 matérias, sendo que em 14 delas o treinador da seleção está reclamando da mídia, seja da cobertura do Estadão, ESPN, SporTV ou Folha. Até jornalistas dos Estados Unidos foram rechaçados por ele. 

Digo isso porque vejo um estardalhaço desmedido e uma polarização do desafeto de Dunga, como se a TV Globo fosse o único alvo e, sabidamente, não é. Tudo bem que, pela primeira vez, a emissora que detém os direitos de transmissão não tem seus privilégios na cobertura, não consegue as entrevistas exclusivas de praxe e, certamente, torce o nariz por isso e deixou claro em seu editorial. Mas não é possível ignorar o fato de que Dunga trata mal todos os jornalistas que se aproximam dele. Sempre com aquele sorriso irônico e feições de quem chupou limão estragado.

É natural para Dunga tratar mal a imprensa. Talvez, seja rescaldo da Copa de 90, quando ele foi apontado como um dos protagonistas do fracasso brasileiro. Sempre ouvi que "quem apanha nunca esquece". Ele apanhou e agora vê nas mãos a chance de "retribuir". 

Desde ontem, estive conversando com diversos colegas que estão na África do Sul. Todos eles, sem nenhuma exceção, têm alguma passagem em que foram hostilizados pelo técnico. E saliento: nenhum dos que procurei era ligado à Rede Globo.

Creio que, nesse caso específico da coletiva de domingo passado, juntou-se a fome com a vontade de comer. No Brasil, um país de torcedores apaixonados, durante a Copa do Mundo é o técnico da seleção a autoridade máxima, como o Rei Momo no Carnaval. Aliado a isso, existe o ranço de muita gente contra a TV Globo, que é mal falada, mas continua sendo a mais assistida por 69% dos telespectadores do país, segundo pesquisa encomendada pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal e publicada recentemente. 

Para mim, o apoio irrestrito que Dunga vem recebendo deve-se tão somente à boa fase em que está a seleção brasileira. Na semana passada, por exemplo, uma pesquisa da Predicta (consultoria especializada no comportamento do consumidor nos meios digitais) apontou que 71% dos posts do Twitter que mencionavam o técnico tinham conotação negativa. Caso o time tivesse perdido uma partidinha sequer, acredito eu, a solidariedade seria inexistente. 

Até domingo, confesso, até apoiava a decisão do Dunga de fechar os treinos e evitar aquele clima de "já ganhou" que acabou com a seleção de estrelas da Copa passada. Mas daí a apoiar que ele saia falando palavrões que vazam pelo áudio da sala de imprensa, e que constrangem não só um colega brasileiro, mas jornalistas do mundo todo, desculpem, isso não dá para apoiar. O cargo do Dunga exige certa liturgia e está incluída aí a necessidade de dar entrevistas, de contar sobre o treinamento, a agenda. A postura do treinador, não em fechar os treinos e não priorizar essa ou aquela empresa, mas de agir como um ditador soberano, se encaixa muito bem na seleção da Coreia do Norte. Quem sabe?

Torço demais - como apaixonada por esportes que sou - pelo sucesso do Brasil nesta Copa. Mas desafio você, leitor, a responder: caso o Brasil perca a competição, em quantos minutos se esvairá o apoio a Dunga? Não acho que demore muito para o #FORADUNGA alcançar os Trending Topics do Twitter. #prontofalei

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Benê Lima