Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, junho 05, 2010

Futebol Feminino em Foco

“Quem não sonhou em ser uma jogadora de futebol?!”
Há consciência e lucidez de jovens mulheres para discernir que a esfera do trabalho ainda se configura em um território a ser conquistado
Osmar Júnior

A adequação do verso da música da banda Skank ao gênero feminino passa a fazer sentido, ainda que de forma tímida, na sociedade brasileira nos tempos atuais.

Algo que em um passado não tão distante seria impensável, hoje reflete um processo que reposiciona a mulher no universo futebolístico, adentrando os gramados e reivindicando seu espaço, não apenas na esfera do lazer, mas principalmente do trabalho.

Neste passado não tão distante, cabe ressaltar a árdua trajetória de lutas contra obstáculos que compreenderam desde os argumentos infundados calcados nos preceitos da medicina da primeira metade do século XX, que advertia para as ‘deformações’ do corpo feminino e para os riscos de esterilidade provenientes da prática do futebol pela mulher, até os desdobramentos deste discurso, que repercutia na proibição legal da prática do futebol por mulheres, resolução¹ esta que perdurou de 1965 a 1979.

Felizmente, hoje em dia já é mais raro encontrar alguém que acredite que o futebol é prejudicial à saúde da mulher, mas muitas das frentes de batalha da mulher em relação ao futebol ainda se encontram inabaláveis, ou alguém em sã consciência ousaria afirmar que o futebol feminino é uma realidade no Brasil?

Nos dias 21 e 22 de janeiro deste ano, a equipe do Santos realizou uma “peneira” com o intuito de selecionar algumas garotas que poderiam compor seu elenco para a temporada de 2010. O cenário desta peneira reflete de forma contundente as afirmações tecidas anteriormente.

Inscreveram-se para os testes mais de 1.500 meninas com idades entre 14 e 20 anos. De acordo com o site do clube, dos 26 estados brasileiros mais o Distrito Federal, os únicos que ainda não tiveram garotas cadastradas foram: Amazonas, Alagoas, Acre e Amapá. Compareceram efetivamente à peneira 1.128 das inscritas, sendo selecionadas apenas cinco participantes.

Durante os testes, tive a oportunidade de entrevistar 19 das participantes, procurando compreender como estas meninas entendem questões como: o estágio atual do futebol feminino no país, o papel da mídia no desenvolvimento da modalidade e quais as possibilidades e limitações que a mulher encontra hoje no futebol nas esferas do lazer e do trabalho.



Os dados destas entrevistas ainda não foram analisados de forma mais aprofundada, contudo, de uma maneira geral, posso sinalizar que na esfera do lazer, ao menos no ambiente vivenciado pelas entrevistadas, o futebol já se encontra em um estágio bastante avançado. Ou seja, hoje em dia, as meninas já se organizam para jogar futebol de maneira relativamente autônoma, deixando os rachões dos campos e quadras espalhados pelo país, privilégios exclusivos do “sexo forte”.

Em contrapartida, fica claro que as entrevistadas têm a consciência e a lucidez para discernir que a esfera do trabalho ainda se configura em um território a ser conquistado, tendo em vista que a maioria não vislumbra grandes oportunidades de viver exclusivamente do futebol no país.

Este panorama pode ser bem representado pela fala de uma das entrevistadas que afirma que o futebol feminino no Brasil hoje se encontra em um estágio que não pode ser entendido nem como amadorismo nem como profissionalismo. A atleta ilustra tal depoimento, contando que, jogando por uma equipe de Curitiba-PR, viveu a experiência de atuar em campeonatos amadores da cidade e participar da Copa do Brasil enfrentando o Santos F.C com a presença da melhor jogadora do mundo, Marta.

Se para os meninos o sonho de ser um jogador de futebol implica na superação de uma série de obstáculos, para as meninas este sonho parece estar ainda mais distante, afinal de contas não é nada fácil encontrar exemplos de jogadoras bem sucedidas profissionalmente, ou melhor ainda, de clubes que mantenham equipes femininas bem estruturadas como o Santos, que possam alimentar este sonho de sobreviver do futebol.

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1 - Deliberação CND 7/65:
N° 1 – Às mulheres se permitirá a prática de desportos na forma, modalidades e condições estabelecidas pelas entidades internacionais de cada desporto, inclusive em competições, observado o disposto na presente deliberação.

N° 2 – Não é permitida a prática de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo aquático, pólo, rugby, halterofilismo e baseball.

*Osmar Moreira de Souza Júnior é professor do Departamento de Educação Física e Motricidade Humana da UFSCar


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Benê Lima