Copa elege emoção e cultura como legados
GUILHERME COSTA
Da Máquina do Esporte, em Pretória (África do Sul)
Quase sempre que o termo "legado" é usado para falar sobre a Copa do Mundo de 2014, que será realizada no Brasil, ele integra análises sobre obras ou intervenções estruturais que o país pretende fazer para receber o torneio. Na África do Sul, contudo, isso foi colocado em segundo plano. Com atraso em uma série de setores, o país elegeu as transformações que o evento causará no espírito e na cultura esportiva da população como principais resultados da competição.
A ideia permeou o discurso de Jacob Zuma, presidente da África do Sul, no último domingo. O dirigente participou de entrevista coletiva em Pretória, capital administrativa do país, acompanhado por Joseph Blatter, presidente da Fifa.
"Nós estamos nos preparando desde 15 de maio de 2004, quando Sepp Blatter removeu de um envelope o nome do nosso país para sediar a Copa do Mundo de 2010. Naquele momento, nós soubemos que a África do Sul jamais seria a mesma", disse Zuma.
O primeiro legado citado por Zuma, visível antes mesmo do início da Copa do Mundo, é o desenvolvimento de um sentimento de unidade nacional: "A explosão do orgulho nacional é um benefício impagável". O presidente disse que a bandeira da África do Sul passou a ser o item mais lembrado nas listas de compras dos moradores do país. Nas ruas, é comum ver o artefato em carros (sobretudo como cobertura de retrovisores).
"O entusiasmo, a alegria e a emoção que tomaram conta do país nas últimas semanas não tinham sido vistos desde que o presidente Mandela foi libertado da prisão", continuou Zuma. O ex-líder rebelde e principal dirigente da história do país deixou a cadeia em 1990, quase 28 anos depois do início da reclusão.
A questão emocional foi recorrente no discurso de Zuma, mas também apareceu nas palavras de Blatter. "A coisa mais importante sobre a competição foi o que o presidente disse. Foi um longo caminho para criarmos uma Copa do Mundo na África, mas nós conseguimos. Trata-se de uma competição de toda a África, e esse é o motivo para o investimento que fizemos aqui. Não em estrutura, mas no desenvolvimento do futebol e do sentimento popular. Esse é o legado da Copa do Mundo, e não a estrutura", adicionou o mandatário da Fifa.
O técnico Carlos Alberto Parreira, comandante da seleção da África do Sul, também tem dado ênfase à questão emocional da Copa do Mundo. Segundo o treinador, o torneio aproximou os habitantes da seleção e fomentou o desenvolvimento do orgulho nacional. Não por acaso, o brasileiro adotou esse termo na frase "Make us proud!" ("Deixe-nos orgulhosos!", em tradução livre), que virou praticamente um slogan dele para a equipe.
Existe ainda outro fator intangível que a Copa do Mundo elegeu como legado: a mudança que o torneio causará na cultura futebolística da África do Sul. Essa é a aposta das autoridades locais, por exemplo, para evitar o desuso de aparatos como o Soccer City, estádio construído para o evento, cuja capacidade é superior a 90 mil espectadores - a média de público da primeira divisão local é inferior a 15 mil.
"O que nos deixa animados é que provavelmente chegaremos à abertura da Copa do Mundo com 97% dos ingressos vendidos, número superior ao da Alemanha na edição passada, e 75% desses tíquetes foram comprados por pessoas da África do Sul. O interesse tem sido enorme", analisou o presidente do comitê organizador local do torneio de 2010, Irvin Khosa.
Depois da Copa do Mundo, a estrutura esportiva da África do Sul deve sofrer uma mudança considerável. Estádios como o Soccer City devem passar a sediar rodadas esportivas duplas, sempre com jogos de rúgbi e futebol na sequência.
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