A influência industrial da complexa relação entre o treinador da seleção e os veículos midiáticos
Oliver Seitz
Os xingamentos murmurados do Dunga e a reação editorial da Globo são apenas as faces mais visíveis de um antigo confronto entre o técnico brasileiro e a imprensa. Confronto este que ganhou maiores contornos e colocou em pauta a discussão sobre a relação da Rede Globo com a seleção brasileira.
Existem duas maneiras de se analisar o caso e de extrair dele algo de produtivo, que - convenhamos, é algo bastante raro em discussões que permeiam o futebol. A primeira maneira é entender esse confronto sob a ótica da indústria do futebol, coisa que esta coluna tende a fazer sempre que possível.
Para a indústria do futebol, o jornalismo esportivo, em si, não existe. O que existe são veículos de mídia que reproduzem e se retroalimentam do conteúdo produzido por uma partida, um time ou um campeonato. Esse organismo é fundamental para a indústria, já que ele fomenta o interesse público para o jogo. Sem ele, a indústria do futebol certamente não teria o tamanho que ela tem hoje. Afinal, é apenas através desses meios que torcedores podem acompanhar as infinitas histórias que envolvem seus times, clubes, jogadores, técnicos, diretores e afins diariamente.
Normalmente, essa retroalimentação de conteúdo é de certa forma controlada pela disseminação da demanda por informação entre diversos clubes pertencentes ao mesmo sistema. Ou seja, por mais interessados que existam, eles direcionam seus esforços para diferentes clubes, o que ajuda a facilitar todo o processo. Em um sistema com cinco clubes, por exemplo, ao invés de 100 veículos focarem em um clube só, 20 veículos focam em cada time. Isso permite uma geração de informação bastante suficiente para alimentar os 100 veículos sem ter que precisar tomar medidas mais extremas em busca de conteúdo.
No caso da seleção, isso não acontece, já que esses 100 veículos se preocupam com informação provida apenas por uma fonte. Não apenas isso, o tempo de exploração do conteúdo nas plataformas se expande, já que em período de Copa o interesse do público pelo objeto em si também se multiplica. Mas não há informação suficiente para abastecer tamanha demanda. Então, para suprir a necessidade da retroalimentação de todo o processo, algumas informações são exageradas como forma de compensar a ausência de novos conteúdos. Ou então inventadas, o que não é raro acontecer.
Como a demanda por informação é enorme, a fonte da organização se coloca no direito de cobrar pela exploração midiática. Assumindo que essa operação é fundamentada em um caráter privado, isso é bastante justo. A quem paga, a fonte se abre e permite uma exploração mais profunda de seu conteúdo. É a lógica básica da venda de direitos de transmissão de qualquer evento, esportivo ou não. Daí, portanto, a percepção de privilégio exclusivo que a Globo possui, e que outros canais também deveriam ter. E daí também a sua revolta quando não os obtém ou então quando um de seus profissionais é xingado em público pelo técnico da seleção, que falha gravemente ao não se adaptar ou compreender o caráter de ampla exposição do seu cargo e do time que dirige, do qual ele mesmo já fez parte e sofreu com aquilo que pode ser considerada uma falha de oferta de informações. Como técnico, ele é pago pela CBF, que recebe dinheiro da FIFA, que, assim como a própria CBF, recebe dinheiro da Globo, direta e indiretamente.
Entretanto, a discussão foge da análise exclusivamente industrial uma vez que, no Brasil, existe muita confusão sobre o real caráter do futebol e da seleção brasileira, o que leva à segunda forma de análise do conflito entre Dunga e imprensa. Sob a análise privada, tudo isso que foi escrito acima é válido. Mas se o futebol e a seleção brasileira são considerados algo maior do que um produto gerador de conteúdo e possuem uma legitimidade de representação de todo Estado brasileiro, tudo isso acima precisa ser descartado. Afinal, se é um bem público, não pode haver privilégio. Se é um bem público, é preciso que exista o jornalismo, ainda que não obrigatoriamente caracterizado como esportivo. Se é um bem público, toda informação deve ser acessível a qualquer cidadão através de qualquer meio existente.
Um consenso a respeito do caráter público ou privado da seleção brasileira está muito longe de existir, se é que um dia existirá, e, enquanto isso não acontece, cada lado faz uso daquilo que melhor se concilia com seus próprios interesses. Com isso, o conflito continuará a existir, seja ele técnico x imprensa, técnico x Globo ou Globo x imprensa. E continuará, também, a fazer vítimas. Que, neste caso específico, são principalmente a polidez e a língua portuguesa.
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O Dunga expôs o que grande parte dos brasileiros sente com relação à Globo: "ESTAMOS CANSADOS DE LIXO ENTRANDO EM NOSSA CASA ATRAVÉS DA TV"; só bastava alguém com voz ativa e coragem pra dizer NÃO!
ResponderExcluirPorque que a globo tem que ter exclusiva com jogador?
Porque que a Senhora "Borner" tem que ir com a seleção no ônibus?
A resposta é só uma: "NÃO TEM" - É isso aê Dunga TOCA O TERROR!!!
NÃO ESQUEÇAM QUE HOJE É "O DIA SEM GLOBO" - se depender de mim a globo perde pra TV GAZETA - KKKK
André,
ResponderExcluirGrato pelo comentário.
Em relação a este caso, procurei oferecer diferentes visões aos internautas. Tenho a minha opinião - obviamente - mas prefiro conhecer a de ouvintes do meu programa de rádio e a dos leitores deste blog.
Abraço.
Benê Lima.