Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

domingo, julho 25, 2010

Brasil tem falta de cursos nas áreas de gestão e marketing esportivo

RODRIGO CAPELO
Da Máquina do Esporte

QUEM É FERNANDO TREVISAN

Fernando Trevisan possui bacharelados em administração de empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP/FGV) e em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Mestre em marketing estratégico pela Cranfield University (UK), também é membro do conselho fiscal da Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Atualmente, comanda a Trevisan Escola de Negócios, por meio do cargo de diretor geral.

O Brasil irá receber nos próximos anos os dois maiores eventos do mundo: Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, em 2014 e 2016, respectivamente. Antes, ainda há a Copa das Confederações, agendada para 2013. Mesmo com as atenções de toda a mídia internacional voltadas ao país, contudo, ainda não há cursos em quantidade e qualidade suficientes nas áreas de gestão e marketing esportivo.

"Mesmo com tudo o que acontece, mesmo com a escolha do Brasil, ainda há muita carência de cursos", garante o diretor geral da Trevisan Escola de Negócios, Fernando Trevisan. A instituição está no mercado desde 2002 e tem apostado em parcerias nacionais e internacionais para se diferenciar. "Isso para nós é instigante", completa.

A boa formação, segundo o diretor, é essencial para aproveitar as oportunidades que irão surgir nesta década. Não apenas no plano individual, de pessoas que se interessarem pelo marketing esportivo, mas também no âmbito corporativo. "Empresas muito grandes têm feito investimentos e, portanto, precisam ter equipe preparada para gerenciar essa gama de ações e oportunidades que surgem com o patrocínio", explica Trevisan.

Para o empresário, os setores de construção civil, com as profundas reformas em estádios e mobilidade urbana, e de turismo, por meio da alta exposição no exterior e do súbito interesse de estrangeiros de visitar o Brasil, são os que possuem mais potencial para crescimento. Na área de serviços, ainda, Trevisan prevê dificuldades na recepção e atendimento de turistas devido à língua portuguesa e à falta de preparo dos atuais atendentes.

Confira a íntegra da entrevista a seguir:

Máquina do Esporte: Com a proximidade da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos no Brasil, houve aumento na procura por cursos e eventos relacionados ao marketing esportivo?

Fernando Trevisan: Tivemos, sim. Desde que abrimos a primeira turma em 2002, o crescimento, até por conta da profissionalização, aconteceu. Independente de sediar esses grandes eventos, já houve processo de profissionalização do setor e passou a ter mais gente interessada em seguir carreira na área. Mas é inegável que o privilégio de sediar os dois maiores eventos do planeta estimula a buscar a indústria do esporte como carreira.

ME: Com esse aumento na demanda, espera-se também aumento na quantidade de cursos. Há o receio de a qualidade de ensino diminuir?

FT: O mercado trabalha com a lei do capitalismo. Há a seleção daqueles produtos de maior qualidade. Não vejo problemas em aumentar. É a lei natural do mercado e cabe à sociedade escolher quem tem mais qualidade para atingir objetivos. Mas ainda vejo poucos cursos. Mesmo com tudo o que acontece, mesmo com a escolha do Brasil, ainda há muita carência de cursos e isso para nós é instigante, porque atuamos nesse mercado desde 2002.

ME: Como a Trevisan pretende se diferenciar das concorrentes?

FT: Temos vertente ligada à área de negócios, originada de empresa de consultoria e auditoria que inclusive já teve ao longo da história clientes da área esportiva. Auditamos o Corinthians, o Grêmio, já tivemos trabalhos com o Internacional, com a Federação Paulista de Futebol, com a Confederação Brasileira de Vôlei. Trazemos a visão prática do esporte. Além disso, temos parceria com o [José Carlos] Brunoro, uma das maiores referências do marketing esportivo no Brasil. Então isso agrega expertise em gestão de negócios e trabalhos na área de marketing esportivo, na prática do esporte, na gestão das quatro linhas, dentro dos campos, dos treinamentos, e isso dá ao nosso curso uma complementariedade muito bacana. A gente percebe que nossos alunos rapidamente encontram trabalho e que efetivamente percebem o que agregou a eles. Nossa procura é crescente. Estamos no caminho certo. Além disso, temos o módulo internacional, em parceria com o Milan, que permite ao aluno passar uma semana conhecendo as instalações do Milan, tendo palestras com profissionais do Milan, e isso agrega ainda mais à formação.

ME: A Trevisan possui parceria com a Brunoro Sports Business. Existem planos para desenvolver mais parcerias?

FT: Na área de informação, já temos um novo programa para oferecer às cidades-sede da Copa de 2014. Entendemos que são regiões que precisam de gente qualificada. Desenvolvemos com o Brunoro o curso de gestão aplicada ao esporte. Não é pós, é extensão. Nossa meta é até o final do ano que vem estar presente nessas cidades. Já começamos em Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, e, agora no segundo semestre, Salvador e Porto Alegre. Isso tudo em conjunto com o Brunoro. Outra parceria é com a Universidade de Parma, que assinamos recentemente em convênio de cooperação. Nossa ideia é fazer intercâmbio para trocar experiências.

ME: Para alunos que desejam ingressar no ramo do marketing esportivo, qual seria o melhor investimento a se fazer?

FT: Tudo depende dos objetivos da pessoa. Grande parte dos alunos não atua no esporte, então são profissionais de outros setores, como bancos, consultorias, construtoras, que hoje percebem o esporte como oportunidade de carreira, algo que não acontecia anos atrás. Já tem formação, pós em outras áreas, e aí sabem que precisam se qualificar para atuar nesse outro mercado, mas estão dispostos a mudar de carreira. Então a pós dá a titulação necessária. O aluno sai com certificado autorizado pelo Ministério da Educação, que confere titulação no currículo. Se o profissional precisa de algo mais rápido, intensivo, sem ter titulação, a extensão é melhor. É um certificado da Trevisan, mas que pode atender às necessidades imediatas, já que pós leva um ano e meio e é um curso mais denso, profundo, que requer dedicação maior do aluno, com trabalho de conclusão de curso, estudo mais intenso. Mas, ao final, tem titulação.

ME: O senhor acredita que companhias devem incentivar e patrocinar o ingresso de funcionários em cursos da área? Há retorno em curto prazo?

FT: Sim, sem dúvida. Principalmente as que estão entrando e que têm investido, mas que antes não faziam. É o caso da Marfrig, dona da Seara, que desde o início do ano atua fortemente no patrocínio esportivo à camisa do Santos e da seleção brasileira e patrocina as Copas do Mundo de 2010 e 2014. Então são investimentos muito grandes de empresas como essa, que tem, portanto, que ter equipe preparada para gerenciar essa gama de ações e oportunidades que surgem com o patrocínio. Como são empresas que antes não investiam, não necessariamente têm estrutura adequada para gerenciar e têm de levar profissionais para cursos. Outras, como a Hypermarcas, com atuação grande no Corinthians, vão ter que se preparar para gerir patrocínio esportivo, que é algo diferente.

ME: O senhor considera que as empresas estão preparadas para aproveitar as oportunidades da Copa?

FT: É um processo recente, então ninguém está 100%. Nem nosso curso. Todo ano renovamos, agregamos novos conceitos, porque é um ambiente em formação. Todos aprendem e tentam capturar experiência de fora, de gente que está à frente. Vai haver demanda por qualificação intensa e por isso a empresa deve procurar qualificar pessoal e buscar institutos que estejam preparados.

ME: Existe um movimento de agências de publicidade a marketing internacionais para o Brasil? Se sim, como isso afeta o mercado?

FT: A gente percebe esse movimento de empresas que vêm para o Brasil. É um movimento natural. Onde há oportunidades, as empresas buscam. É algo que de fato deve se intensificar na área de arenas. Há 15 anos, já havia atuação de estrangeiros com consultoria a nacionais na gestão para como torná-las sustentáveis, pensar em algo sustentável economicamente. É inevitável. Vão haver empresas estrangeiras sempre. Mas nossas empresas estão avançando rapidamente e se preparando para esse espaço. Temos todas as condições. E devem acontecer parcerias. As empresas internacionais não conhecem a realidade brasileira tanto quanto nós e o mais natural de acontecer são joint ventures, parcerias entre internacionais e nacionais. Por isso tem que ver como oportunidade para se jogar com o know how específico em setores que não temos e trazer a realidade do país para esse contexto, e aí sim oferecer serviço.

ME: Quais setores devem ser mais beneficiados com a realização da Copa do Mundo?

FT: Primeiro, construção civil. Todas as necessidades de infraestrutura, desde arena até mobilidade urbana, como aeroportos, rodovias, tudo gera muita oportunidade. Em conjunto com o mercado imobiliário, que vai acompanhar isso. Segundo, sem dúvida nenhuma e desde agora, o turismo pode ser muito beneficiado. Desde agora porque o Brasil faz parte da mídia internacional a partir do momento em que a Copa [da África do Sul] terminou. É previsível aumento na procura do nosso país pelos turistas estrangeiros de 79%, segundo a Ernst & Young. Até 2014. Dependendo de como for bem sucedido, vão surgir oportunidades. Ainda somos muito fracos em turismo internacional. Trazemos cinco milhões de turistas, enquanto o México atrai 21 milhões, e também é um país emergente. Há potencial inexplorado e estagnado. Então, se fizermos trabalho bem feito, vai ser o setor com maior potencial.

ME: Há deficiência no setor de serviços? Se sim, como o Brasil poderia superar essa dificuldade?

FT: Há a questão do idioma. Na África é o inglês, mas aqui nossa língua não é falada por outros países e nossos profissionais de recepção e atendimento direto, como táxi e restaurante, não estão preparados para uma segunda língua. Tem que haver esforço para isso. Segundo, qualificação na qualidade do atendimento. Temos em geral qualidade, principalmente em São Paulo. Na África os profissionais eram sempre muito atenciosos, simpáticos, falam a língua, mas tinham pouca informação. Lentos no atendimento. Isso é algo que estamos na frente. Mas há necessidade de qualificação pois teremos momentos de pico, aglomerações, situações para lidar.

Revisão: Benê Lima

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