Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, julho 21, 2010

Campanha TT “Tira Teixeira”

Ex-presidente da Bovespa, Eduardo Rocha Azevedo lança o movimento: “Tira Teixeira”

A Rodrigo Martins

icone.jpgPela primeira vez em mais de 20 anos, Teixeira enfrentará um movimento de resistência encampando pela sociedade civil. O articulador da campanha “TT”, de “Tira Teixeira”, é Eduardo Rocha Azevedo, ex-presidente da Bovespa e um dos fundadores da BM&F. “O pessoal que hoje dirige a CBF não tem credibilidade para fazer uma Copa do Mundo”, avalia.

CartaCapital: Por que promover uma campanha pela renovação da CBF?
Eduardo Rocha Azevedo
: Porque quem está no poder é incompetente. Basta avaliar o desempenho da seleção brasileira, que foi à Copa sem comando. Todos os erros que foram cometidos no passado se repetiram e qual é a desculpa? “Ah, 2014 será a nossa Copa”. Como? O pessoal que hoje dirige a CBF não tem credibilidade para fazer uma Copa do Mundo.

CC: A crítica se concentra exclusivamente no desempenho da seleção?
ERA
: Não, é pela falta de transparência, pela ausência de democracia. O Brasil só conseguiu crescer depois que nós trouxemos de volta o sistema democrático, com alternância de poder. A CBF não cresceu. Ela cresceu em arrecadação, na cota de patrocínio, mas mantém essa dinastia arcaica. O feudo vem de João Havelange, que passa o poder ao genro. E lá se vão 50 anos com o mesmo pessoal. Ninguém mexe com eles. Perdeu a Copa? No máximo a culpa é do Dunga, é do Jorginho, é do Felipe Melo. Para mim, não. A culpa é de quem manda, é do Ricardo Teixeira.

CC: Daí o slogan do movimento...
ERA
: Exato. Se quisermos fazer uma Copa em que o povo brasileiro possa acreditar, tem que ser pelas mãos de uma outra pessoa. Não pode ser esse senhor ai. Por isso eu comecei com a campanha “TT”, “Tira Teixeira”, e espero que as pessoas a espalhem pelo Twitter, por blogs, do jeito que der. Quem não consegue organizar uma seleção não pode organizar uma Copa. Outro dia, vi no jornal uma coisa que até me assustou. Como o Brasil é muito grande, a Fifa quer dividir o País em quatro centros para as seleções não terem que viajar muito. Teixeira vai dividir o Brasil em capitanias hereditárias, resta agora saber quem serão os donatários. Outro absurdo é a composição do Comitê Organizador Local (COL), na qual apenas cinco pessoas apitam além do Teixeira: sua filha e quatro parceiros de longa data.

CC: Qual é o risco que corremos?
ERA
: Desperdiçar dinheiro público. Porque não é só estádio. É estrada, transporte coletivo... Não temos a mesma capacidade de investimento de um país desenvolvido, mas querem que o Brasil construa arenas monumentais. Estive na África, e o choque cultural é uma barbaridade. Eu achei que tinha melhorado com essa história da Copa, mas não. Ou então era muito pior.

CC: Que choque é este que o senhor presenciou?
ERA
: Há uma diferença muito grande entre negros e brancos. Mas a população pobre, independentemente da cor, não tem nada, é miséria absoluta. Então a Fifa impõe que a cidade faça um novo estádio, gaste bilhões de dólares. Veja o caso do Brasil. Cuiabá é uma cidade-sede, vai fazer um estádio ao custo de uns 400 milhões de reais, num lugar que não tem nem futebol. Quantos times do Mato Grosso estão jogando na série A do Campeonato Brasileiro? Não tem. Ao invés de pegar esse recurso e gastar com outra coisa, que vá suprir as necessidades da população, vão gastar num estádio. Para quê? Como a Fifa exige que o Brasil faça um mundial como se nós fossemos os EUA? Ela não está nem aí para o interesse público. E alguém tem de enfrentar essa situação.

CC: A Fifa não tem compromisso com o interesse público?
ERA
: Ela não está nem aí. Quer apenas fazer um campeonato mundial bonito e depois ir embora. E também não tem transparência. Teve transparência o Pan-Americano de 2007, no Rio de Janeiro? Alguém sabe quanto se gastou?

CC: Orçado em cerca de 400 milhões de reais, saiu por 4 bilhões. Dez vezes mais que o previsto inicialmente.
ERA
: Teve transparência? Alguém viu essa conta? A CBF é uma entidade civil, não é uma entidade pública. Não tem compromisso com a transparência. E o Comitê Organizador Local, composto pelo staff da CBF, faz parte dessa dinastia. Foi divulgado pela imprensa que a obra no Maracanã poderá custar 1 bilhão de reais. Pô, um bilhão é muito dinheiro em qualquer lugar do mundo. E fica essa propaganda em cima da população brasileira dizendo que a Copa de 2014 será um grande evento, o Brasil arrecadará, em 2014, 180 bilhões de dólares. Como se faz essa conta?

CC: Tiraram o número da cartola?
ERA
: Só pode, e fica essa onda de torcer pelo Brasil, a “pátria de chuteiras”. Eu sou obrigado a ligar a televisão e ver a mãe do jogador dando entrevista, como se o sujeito fosse um soldado. Uma parte da população não está nem ai se a Seleção ganha ou perde. Mas deveria se preocupar com o custo dessa Copa.

CC: O governo também não está sendo omisso?
ERA
: O governo é engraçado, porque o presidente falou outro dia que ninguém poderia ficar mais de oito anos no comando do sindicato, na CBF, de qualquer entidade da sociedade civil. Mas a CBF teve de enfrentar, uns tempos atrás, uma CPI no Congresso. E a bancada governista ajudou a enterrar as investigações.

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Benê Lima