Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, julho 27, 2010

Fifa na contramão do mundo

Mesmo com erros graves da arbitragem nos últimos anos, a entidade insiste em ignorar o uso da tecnologia

Eduardo Fantato

Erros de arbitragem

Caro amigo, sabe quando um ator famoso, um político, ou mesmo um jogador de futebol, faz tanta, mas tanta besteira, que a gente até dúvida? E por vezes nos pegamos pensando se não o fazem pelo simples prazer de aparecer? E mais, já que não conseguem destaque só pelo que fazem de normal e coerente, acabam tomando atitudes que são totalmente contrárias ao bom senso?

Pois é. Imagino que a Fifa tenha adotado esta estratégia. Em nota do dia 21 de julho, a federação que rege o futebol divulgou que vai intensificar os testes com dois assistentes extras com vistas à melhoria da arbitragem.

Na nota referente ao encontro realizado no País de Gales na última semana, a International Football Association Board aprovou solicitações para a realização de testes com dois árbitros assistentes a mais no campo de jogo para as temporadas de 2010/2011 e 2011/2012.

Num mundo onde a capacidade intelectual, isto é, as pessoas (que aqui chamaremos de recursos humanos) está cada vez mais sendo valorizada e especializada, tirando-lhe o fardo de trabalhos que podem ser feitos com maior precisão e velocidade por recursos tecnológicos, a International Board vai na contramão.

Aqui faço um pequeno recorte no texto para justificar o parágrafo anterior. Muitas pessoas pensam, erroneamente, que a tecnologia vem substituir o ser humano. Seria um erro maior ainda atribuir essa afirmativa a incapacidade das pessoas de compreender o fenômeno, pois a primeira vista numa fábrica onde um computador substitui o trabalho de quatro funcionários, essa premissa estaria correta, concordam?

A questão é que devemos esquecer um pouco aquele pragmatismo que nossas professoras nos ensinaram nas tenras séries escolares, de que não era possível subtrair maçãs e somar abacaxis ao mesmo tempo.

Na verdade, o mundo contemporâneo exige que as maçãs subtraídas sejam comparadas com os benefícios dos abacaxis somados no processo. E antes que o amigo tome “guela abaixo” essa vitamina, explico. Quando um computador faz o trabalho de quatro funcionários, ele está fazendo o trabalho que podemos chamar de braçal, repetitivo, de pouco teor intelectual, ou ainda o trabalho complexo , que demoraria um bom tempo para nós seres humanos realizarmos (só lembrando que complexidade não é sinônimo de inteligência como infelizmente alguns pensam).

O que para alguns significaria a perda destes quatro funcionários, o mundo hoje deve encará-los como o ganho de quatro novos recursos intelectuais, ou seja, quatro pessoas que podem ser atualizadas e capacitadas para desempenhar atividades muito mais intelectuais do que braçais, envolvendo criatividade, solução de problemas, inclusive elaboração de novas máquinas e recursos tecnológicos.

E nesse sentido que a Fifa vai na contramão do mundo, ao invés de adotar recursos mais precisos e confiáveis do que o ser humano (embora alguns insistam em não perceber, o ser humano é passível de erro), prefere colocar novos assistentes ao e ignorar o fato de que a tecnologia é no mínimo um paradoxo do avesso.

Se para eles mais duas pessoas podem ajudar a minimizar os erros, como conduzir as diferenças nas interpretações de mais duas pessoas envolvidas no processo. Imaginemos uma bola que teria ultrapassado a linha de gol, dependo do ângulo, do posicionamento e da intenção do arbitro ou assistente, as opiniões serão diferentes ao passo que adoção de um recurso tecnológico tornaria o lance preciso e claro.

A entidade ainda fixou os seguintes critérios para o teste que visa a adoção dessa “inovação”, de acordo com o disponibilizado no próprio site da Fifa

1. Que ele seja realizado nas ligas e competições profissionais das federações nacionais ou em nível de confederação continental (apenas competições de clubes).
2. Que ele seja concluído a tempo de permitir que uma decisão seja tomada em 2012.
3. Que os custos adicionais de tal experimento sejam de responsabilidade da liga, federação nacional ou confederação continental em questão.
4. Que todas as partidas da competição em questão sejam apitadas com dois árbitros assistentes adicionais.

Para não nos alongar, me atenho a provocar o amigo a refletir sobre o item 3.

Um dos grandes argumentos daqueles que defendem é que a tecnologia não deve entrar na arbitragem por que encarece o futebol e seria privilégio apenas das ligas mais ricas, o que fere o tão transparente espírito democrático do futebol.

Assim que diferença tem em investir em desenvolvimento de tecnologia e aplicação do que adotar dois novos árbitros, em termos de custo um pode ser mais alto agora, mas ao longo do tempo é diluído já que o mais caro é o investimento inicial (tecnologia), enquanto o outro (dois árbitros) exige também custos de treinamento e capacitação num primeiro momento, mas não tem possibilidade de diluição ao longo do tempo.

Enfim, enquanto todos reduzem custos e aperfeiçoam processos, investindo em tecnologia e, consequentemente, em recursos intelectuais, o futebol descarta os recursos tecnológicos “investindo” em trabalho passível de erro, afinal, segundo dizem, o erro é um charme no futebol. Que não me venham falar isso quando meu time for prejudicado.

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