Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, julho 26, 2010

Editorial: uma Universidade do Futebol para o Brasil

Uma condição para nos transformarmos verdadeiramente em um centro de excelência em futebol

João Paulo S. Medina*

Em pleno século XXI e em meio a um processo acelerado de globalização, dizer que o Brasil – e só ele – é o "país do futebol" parece um pouco de exagero, alimentado por um sentimento nacionalista exacerbado muito comum entre nós. Sentimento que não se sustenta quando se verifica cuidadosamente a evolução do futebol ocorrida em outros países, bem como quando se constata que este fenômeno esportivo cada vez mais é também capaz de despertar as mais inusitadas emoções em povos de diferentes culturas, ideologias e religiões pelo mundo afora.

Como afirma o destacado treinador francês Arsène Wenger, “o futebol pertence a todos nós. O mundo inteiro joga. É claro que alguns jogam melhor do que outros, mas todos sabemos como é correr e chutar uma bola... Em todos os continentes, o futebol é uma linguagem e uma cultura comum a todos: alegria, paixão, saber o que é estar num time, fuga, inspiração e afirmação de identidade”.

É inegável que entender o significado social do futebol se constitui em fator fundamental para se entender a “alma brasileira”, mas também o é para entender a cultura contemporânea nos dias de hoje. Como afirmam alguns sociólogos, o futebol explica a vida. E para esta compreensão não se pode deixar de considerar o movimento de globalização determinado pelo modelo econômico hegemônico no mundo.

Encerrada a 19ª. edição da Copa do Mundo, realizada na África do Sul, a primeira disputada em território africano – e igualmente reflexo deste contexto econômico –, o Brasil começa a se preparar com mais intensidade para a organização do seu Mundial.

Independentemente de sermos a favor ou contra a realização deste megaevento em nosso país (o raciocínio também serve para a Olimpíada-2016, no Rio de Janeiro), o fato é que salvo algo muito excepcional ele vai ser concretizado.

Nós, brasileiros, estamos, portanto, diante de uma questão fundamental: de que lado penderá a correlação de forças entre os interesses unicamente financeiros e de poder pelo poder, muitas vezes sem qualquer limite ético ou ideológico, e aqueles interesses representados pela oportunidade de, a propósito desses megaeventos, acelerarmos o nosso processo de desenvolvimento garantindo, de fato, um legado não só esportivo, mas social, cultural e educacional para o Brasil?

É neste cenário que a Universidade do Futebol busca o seu posicionamento. Como vimos, o futebol é manifestação de fundamental relevância não só no Brasil como no mundo todo e como tal pode ser uma excelente alavanca de crescimento sob diferentes aspectos. Nosso projeto, fruto do esforço de alguns abnegados e de muitos colaboradores ao longo dos anos, conseguiu – desde 25 de julho de 2003, quando foi lançado na internet com o nome de Cidade do Futebol – atrair milhares de usuários que acreditam que o futebol pode ser tratado com seriedade e profissionalismo, sem, contudo, perder sua magia, beleza e arte.

Esta constatação de estar contribuindo para a melhor capacitação e reflexão crítica em um ambiente ainda demasiadamente conservador e reacionário nos dá também a medida dos obstáculos que teremos pela frente, uma vez que acreditamos que o nosso sucesso está atrelado aos desafios do nosso próprio crescimento enquanto Nação.

Desde a década de 1980 que o Brasil busca consolidar o seu processo democrático. Com muitos avanços e – temos que reconhecer – com alguns retrocessos, nossas instituições – que garantem o funcionamento de nossa sociedade – são obrigadas por força popular a serem cada vez mais transparentes. Uma transparência que infelizmente ainda não atingiu certos setores, entre eles as instituições futebolísticas.

Como disse Arsène Wenger, o futebol pertence a todos nós, é patrimônio de toda a humanidade e, portanto, não pode pertencer a esta ou àquela instituição, como se eles fossem os seus proprietários, como muitas vezes nos dá a entender certas posturas de CBF e Fifa, para ficar em apenas dois exemplos.

Este é o embate. Neste momento em que o Brasil vai realizar dois grandes eventos como a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016, todos nós que somos apaixonados pelo futebol temos que entender também o nosso papel como cidadãos e lutarmos pela transparência de nossas instituições e a consolidação, o mais rápido possível, deste processo de democratização.

É neste sentido que a Universidade do Futebol, ao comemorar 7 anos de existência, está propondo a mobilização da sociedade – gostemos ou não do futebol – em busca desses ideais de construção de um ambiente mais transparente e, por consequência, mais democrático em nosso país, através do futebol e do esporte de forma geral.

Não podemos mais continuar vendo passivamente os interesses puramente financeiros e de busca pelo poder a qualquer preço prevalecerem. Da mesma forma que – em se tratando de futebol – não podemos nos contentar em sermos apenas exportadores de bons futebolistas. Há muita coisa para ser feita no “país do futebol”.

Muitas novas tarefas devem ser incluídas na agenda que antecede a realização da Copa do Mundo no Brasil. A primeira delas é cobrar mais transparência de todas as instituições governamentais e não-governamentais envolvidas nesta agenda. A outra é repensar de forma estratégica a infraestrutura e o modelo de organização em que se sustenta o futebol e o esporte brasileiros. Para isso é preciso compreender o futebol (e o esporte) para além de seus aspectos puramente técnicos ou administrativos.

Há também dimensões sociológicas, filosóficas, artísticas, entre outras, que não podem ser desprezadas. Como nos ensina o filósofo Manuel Sérgio, “para saber de futebol é preciso saber mais do que futebol.”

É nesse sentido que se justifica a existência de uma Universidade do Futebol em nosso país. Em um mundo em crise econômica, o Brasil se insinua como uma força emergente. Nesta perspectiva, temos amplas condições de realizar não só uma memorável Copa do Mundo, mas, sobretudo, aproveitarmos este momento para nos transformarmos verdadeiramente em um centro de excelência em futebol e na esteira da construção de uma sociedade mais democrática e justa.

*João Paulo S. Medina é Diretor-Executivo e Fundador do Portal Universidade do Futebol

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Benê Lima