Tênis inspirados em pontes. Laboratórios que aplicam tecnologia espacial. Funcionários livres para treinar a qualquer hora do dia. Como a maior empresa de esportes do mundo trabalha e inova
Por Edson Porto, de Beaverton (Oregon)
A NIKE EM NÚMEROS
>>> FUNDAÇÃO_Janeiro de 1964
>>> FATURAMENTO_US$ 19,1 bilhões
>>> FUNCIONÁRIOS_34 mil
>>> PAÍSES EM QUE ATUA_Mais de 160
>>> ESCRITÓRIOS PELO MUNDO_75
>>> FÁBRICAS CONTRATADAS_Cerca de 700
>>> LOJAS PRÓPRIAS_674
>>> PARES DE TÊNIS POR ANO_300 milhões
A americana Nike pertence àquele escasso time de companhias reputadas por revolucionar o setor em que operam. Maior fabricante mundial de artigos esportivos, a Nike foi pioneira no movimento de terceirização da produção, que acabou por se tornar um padrão global. Sem fábricas próprias, a empresa passou a se concentrar na inteligência de marketing, design e inovação. Também transformou sua marca em um ícone mundial ao casar cultura popular com esportes e elevar o culto ao atleta a um ponto nunca antes imaginado. Nesse processo, criou o marketing esportivo moderno e produziu uma legião de milionários. Por trás dessas decisões havia sempre a cabeça do fundador, Phil Knight. Conta-se que quando Knight assistiu a Tiger Woods, então com 20 anos, vencer pela terceira vez seguida o campeonato amador de golfe dos Estados Unidos, em 1996, comentou: “Espero que a gente contrate esse garoto. Senão, espero que ele vire médico”.
Embora Woods estudasse economia na Universidade de Stanford, Knight acabou sendo responsável por tornar qualquer preocupação acadêmica do jogador uma questão supérflua: dias depois da vitória, ele pagou US$ 40 milhões para fechar um contrato de cinco anos com o atleta. Muitas vezes descrito como genial, enigmático, idiossincrático, competitivo e imprevisível, Phil Knight construiu, em quatro décadas, seu império esportivo com tacadas como essa. A simbiose entre empresa e criador é tão profunda que por três vezes Knight flertou com a aposentadoria, mas teve de retomar as rédeas para mudar o rumo e salvar a companhia do desastre. Por muito tempo, especulou-se que a Nike jamais sobreviveria à sua partida.
POR MUITO TEMPO ESPECULOU-SE QUE A NIKE NÃO SOBREVIVERIA À PARTIDA DE SEU FUNDADOR PHIL KNIGHT. SEU SUCESSOR, O CEO MARK PARKER, MUDA ESSA PERCEPÇÃO
O executivo que está mudando essa percepção é Mark Parker, 54 anos. Um veterano que ingressou na companhia em 1979, Parker completa agora em janeiro quatro anos como o número 1 da Nike. “Phil Knight é um ícone, não só para a Nike mas também para o mundo dos esportes”, afirma Parker. E quão desafiador tem sido substituir um mito? “Eu vejo menos como um desafio e mais como uma oportunidade de continuar a cultivar uma cultura que é incrivelmente especial e poderosa”, diz Parker, em sua sala repleta de objetos, brinquedos, quadros e fotos no QG da companhia em Beaverton, uma pequena cidade ao lado de Portland, no estado de Oregon. Alto e esguio, ele parece ser uma síntese de seu chefe Knight, hoje na presidência do conselho de administração, e do outro sócio fundador da Nike, o técnico de corridas Bill Bowerman, já morto, e tido como o primeiro grande inovador da empresa. Assim como Knight, Parker foi um corredor apaixonado, na juventude, que gostava de percorrer grandes distâncias. Tiago Pinto, diretor de marketing da Nike do Brasil, diz que uma das cenas mais marcantes para ele quando trabalhou na matriz, por dois anos, entre 2006 e 2008, era ver o CEO frequentar uma trilha de corrida famosa ao lado de muitos funcionários. “Depois do treino ele se reunia na lanchonete conosco, com o barro cobrindo suas pernas.” Recentemente, Parker trocou as corridas pela bicicleta devido a um problema nos joelhos. Mas além dos vínculos com o esporte, ele possui um longo currículo na área de inovação.
APENAS FAÇA
Da entrada, onde está destacado o célebre slogan Just Do It, até as trilhas de corrida, nas quais realiza competições, a Nike transpira esporte o tempo todo
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Benê Lima