Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, agosto 17, 2011

A educação do Fair Play

Mudar discurso e prática envolve viés cultural forte, já que estamos em uma sociedade bastante individualista

Geraldo Campestrini

As incongruências entre discurso e prática são observados constantemente no mundo de uma maneira geral e de forma evidente, pelo nosso convívio, no ambiente do esporte/futebol. A educação para o Fair Play e tudo que tem a ver com comentários sobre o tema estão, em muitas situações, em posições diametralmente opostas.

Vamos esclarecer os fatos citando cinco exemplos distintos para que os leitores tirem posteriormente suas próprias conclusões.

Caso 01 – Fair Play do Kléber, Palmeiras: no fim de julho deste ano, em disputa pelo Campeonato Brasileiro entre Flamengo e Palmeiras, o polêmico centroavante Kléber lançou discussão para mais uma polêmica, não respeitando um lance que se convencionou como uma devolução de bola para o adversário, tentando marcar um gol. Vale a pena rever o lance e depois os comentários do jogador na entrevista coletiva para guardarmos o conteúdo para os exemplos subsequentes.
 


 

Caso 02 – Gol de mão de Henry, da França: em jogo decisivo das Eliminatórias para a Copa de 2010 entre França e Irlanda, com a ajuda da mão de Henry os franceses tiraram os irlandeses do Mundial, causando enorme discussão mundo afora. O mesmo Henry, em 2006, sugeriu que os brasileiros jogavam bem futebol porque não estudavam – com os dois lances podemos rechaçar que, na verdade, foi Henry quem não aprendeu boas lições de educação na escola (ou na base). E fica mais um fato para fazermos um apanhado geral e final posteriormente.
 


 

Caso 03 – Túlio Maravilha pelo Brasil contra a Argentina: aqui, em mais um gol ilegal, a prática e o discurso se confundem de maneira complicada. De um lado a mídia defende o viés de esporte e educação, fala em ter ações sociais com comunidades carentes e que o esporte ajuda a transformar a sociedade (e blá blá blá). De outro, em telejornais, ensina os jovens a trapacear por meio do esporte, como se isso fosse uma vantagem competitiva.

Aqui podemos voltar para os caso 01 e 02: qual a diferença destes três fatos? Apenas o discurso midiático que se desenvolveu entre eles, sendo que Kléber foi um verdadeiro tirano e Túlio e Henry os atacantes mais espertos do planeta.
 


 

Caso 04 – Goleiro Gustavo do Sport: na Taça BH de Futebol Júnior, em jogo entre Sport e Vasco neste ano, o jovem goleiro da equipe pernambucana aplica um golpe digno de UFC (e nada precisamos comentar pois as imagens dizem tudo). O atleta, semanas após o episódio, é reintegrado ao clube. Até aí tudo bem. Questiona-se a educação aplicada pelo clube antes do fato para culminar com uma agressão àquele nível, pois se espera, após o ocorrido, que se apliquem medidas preventivas para que não aconteça novamente com ele e outros atletas do clube algo semelhante em situações vindouras. Este fato fica para ser rememorado no próximo...
 


 

Caso 05 – Professor de Handebol, Ricardo Paula (Jogos Escolares): e é aqui que encontramos a explicação para todos os anteriores. O Prof. Ricardo infelizmente (ou felizmente) foi pego para “Cristo”, transformando-se em símbolo daquilo que é comum nos centros de formação de atletas, de praticamente todas as modalidades e especialmente no futebol. Aquele linguajar, de chamar o atleta de “burro”, é dos “menores problemas” que existem. E é deste tipo de trato que saem todas as atitudes anteriormente comentadas.
 


 

Não queiramos que os nossos atletas respeitem o adversário, devolvendo a bola para ele, se na base tratamos jogadores como commodities. Não queiramos que jogadores não deem voadoras se o cenário que é criado fora de campo é quase que de uma guerra. Não queiramos que os atletas ensinem educação aos mais jovens se a mídia prega a hipocrisia nela própria.

Como mudar discurso e prática envolve um viés cultural muito forte por estarmos em uma sociedade extremamente individualista, cabe a lamentação para dizer que muitos outros casos a este nível ou pior se repetirão enquanto não se trabalhar de forma séria na educação das pessoas de uma maneira ampla e na formação dos atletas em uma visão específica, com resultados positivos apenas no longuíssimo prazo.

O texto serve como reflexão e como alerta para, talvez na próxima semana ou próximo mês, não precisarmos nos descabelar ou arregalar os olhos para fatos que hão de vir dentro de um contexto muito próximo aos exemplos supra citados.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Benê Lima