Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, agosto 15, 2011

Giovana Guido, nutricionista do Paulista

Especialista fala sobre atividades integradas com comissão técnica e adversidades vividas no clube
Bruno Camarão

Aos 102 anos de idade, o Paulista vive um momento de reconstrução. Após a décima colocação na primeira divisão do Estadual, a tradicional equipe do interior de São Paulo tem pela frente na temporada a disputa da Copa Paulista. O comando da comissão principal é do treinador Wagner Lopes, que firmou carreira como atleta no futebol japonês. Ao lado dele, um grupo de trabalho que conta com diversos profissionais, inclusive uma nutricionista.

Graduada em Nutrição pela Universidade São Judas Tadeu, especialista em Nutrição Clínica e metabolismo pela Universidade Gama Filho e formada em Nutrição Esportiva também pela Universidade Gama Filho, Giovana Guido é a responsável por esta área na agremiação de Jundiaí. Ela assumiu o compromisso no início de 2011, após experiência inicial com a Internacional de Limeira.

Em linhas gerais, ela desenvolve um trabalho de acompanhamento de refeições pré e pós treinos, com consultas individuais, nas quais procura tirar dúvidas dos atletas e traçar toda a orientação alimentar.

Indicada por Eduardo Baptista, fisiologista da equipe principal, Giovana define em parceria com ele os percentuais de gordura ideais, a suplementação, alimentação em dias de jogos, cardápios especiais para dias de jogo em casa, etc. Além disso, sempre que possível, está presente durante os treinos para observar as atividades e o modo como os atletas se hidratam.

“O cardápio que desenvolvo no refeitório, tanto a base como o profissional consomem, porém, as consultas particulares e suplementação são mais voltadas ao time principal”, explicou Giovana. O motivo: a particularidade estrutural do clube e a adaptação ao meio.

“Se esse serviço individualizado fosse estendido para a base, o investimento no profissional de nutrição deveria ser maior, assim como a carga horária de trabalho. E o Paulista, assim como a maioria dos clubes, não dispõe desse recurso financeiro, então, o foco de trabalho é o departamento principal”, justificou.

Com um “trabalho de formiga”, Giovana revela que se utiliza de bases da psicologia durante as consultas, lançando eventualmente um desafio para que os atletas sigam as suas indicações e apresentam evolução no quadro.

“Eles devem confiar em mim e por isso passo a segurança a cada um. Muitos começam a fazer, se sentem melhor e contam aos colegas. No fim, todos vêm atrás de mim querendo melhorar, mesmo. O Paulista é um time bem jovem, então todos querem evoluir, subir na vida”, disse.

Ainda nesta entrevista à Universidade do Futebol, a nutricionista traçou um perfil do gosto do jogador brasileiro, falou sobre o cardápio específico para goleiros e os benefícios que a ciência da nutrição, mais evoluída, divulgada e aplicada, pode render aos atletas.



Giovana em conversa no vestiário do Paulista: profissional adequa seu trabalho à estrutura e valoriza confiança do grupo jovem em Jundiaí 

 

Universidade do Futebol – Qual é a sua formação acadêmica e como se deu seu ingresso no ambiente do futebol?

Giovana Guido – Sou nutricionista formada em 2006, tenho uma pós-graduação em Nutrição Clínica & Metabolismo em 2009 e uma pós em Nutrição Esportiva em 2011. Sempre gostei de futebol e, ao começar a trabalhar com esportes, fiz parcerias com escolinhas de futebol para atender os iniciantes.

A partir daí surgiu o desejo de trabalhar com o futebol profissional. No ano passado, um amigo fisiologista da Internacional de Limeira me convidou para integrar a comissão técnica do time principal de lá e foi onde minha carreira nesta área começou.

Universidade do Futebol – Você teve uma passagem por outro representante do interior de São Paulo, antes do Paulista, como comentou. De que modo classificaria a infraestrutura do clube de Jundiaí e o aporte técnico-científico à sua área de atuação?

Giovana Guido – O Paulista é um time bem antigo e tradicional aqui na cidade, então, possui alguns investidores, patrocinadores e fãs que contribuem para o crescimento dele. O Paulista já contou com o trabalho de nutricionistas no passado, porém, há algum tempo estava “descoberto” na nutrição esportiva.

Foi por indicação de um amigo em comum com o gerente de futebol que fui contratada no começo deste ano, durante o Campeonato Paulista. O clube me oferece total autonomia e suporte de trabalho; então, consigo desenvolver um projeto excelente com os jogadores e junto à comissão técnica, também.

Todos os profissionais da gestão de campo têm mostrado muito interesse na alimentação dos atletas, pegam no pé das funcionárias da cozinha quando eu não estou presente, trocamos e-mails quase que diariamente para tirar dúvidas e sugestões e a suplementação desperta esse interesse em manter tudo muito saudável e adequado.

Universidade do Futebol – Como se dá a integração entre o setor de nutrição e os demais profissionais ligados ao departamento de futebol profissional do Paulista?

Giovana Guido – No Paulista, desde o momento que pisei pela primeira vez o clube, sempre fui muito bem recebida e respeitada por funcionários, comissão técnica, diretoria e jogadores – a integração é excelente, melhorando os resultados em campo.

De forma geral, desenvolvo um trabalho de acompanhamento de refeições pré e pós treinos, faço as consultas individuais, nas quais cada atleta me passa suas dúvidas, dificuldades e eu faço toda a orientação alimentar.

Também tenho muita amizade com o fisiologista e, juntos, definimos os percentuais de gordura ideais, a suplementação, alimentação em dias de jogos, cardápios especiais para dias de jogo em casa, etc. Além disso, procuro acompanhar os treinos sempre que possível para ficar de olho na hidratação dos jogadores.



Profissional acompanha treinamentos e adota orientação individual para montagem de cardápios e resolução de problemas 

 

Universidade do Futebol – Você mantém um contato direto com as categorias de base, também? Quais são as especificidades de se implementar um trabalho com jovens em um paralelo com os adultos?

Giovana Guido – Infelizmente não desenvolvo um trabalho tão específico para as categorias de base, só em casos extremos. O cardápio que desenvolvo ao refeitório, tanto a base como o profissional consomem, porém, as consultas particulares e suplementação são mais voltadas ao time principal.

Se esse serviço individualizado fosse estendido para a base, o investimento no profissional de nutrição deveria ser maior, assim como a carga horária de trabalho. E o Paulista, assim como a maioria dos clubes, não dispõe desse recurso financeiro, então, o foco de trabalho é o departamento principal.

 

Nutrindo jovens futebolistas: como aplicar as recomendações para crianças e adolescentes 
 

 

Universidade do Futebol – Como conscientizar um atleta sobre a importância de hábitos saudáveis para seu desempenho em campo?

Giovana Guido – É um trabalho de formiga. Atuo muito com a psicologia durante as consultas: lanço o desafio que se eles seguirem as orientações, verão melhoras, não têm nada a perder. Eles devem confiar em mim e por isso passo a segurança a cada um.

Muitos começam a fazer, se sentem melhor e contam aos colegas. No fim, todos vêm atrás de mim querendo melhorar, mesmo. O Paulista é um time bem jovem, então todos querem melhorar, subir na vida.



Em trabalho integrado com fisiologista da equipe, Giovana traça percentuais de gordura ideais, suplementação e alimentação em dias de jogos 

 

Universidade do Futebol – É possível fazer um planejamento nutricional individualizado até em equipes de base ou a tendência é montar cardápios adaptados às necessidades da modalidade?

Giovana Guido – No Paulista, monto um cardápio geral que irá suprir as necessidades da maioria e faço as orientações individualizadas em casos especiais. A orientação individualizada é muito importante e eficaz, afinal, é um momento que o profissional fica sozinho com o atleta conseguindo atingir os pontos chaves, orientá-lo melhor, apontar em que deve melhorar, o que pode manter e chamar a atenção quando necessário.

Porém, fica inviável cada atleta possuir um cardápio diferente. Isso foge da realidade, tanto financeira, quanto de logística.

Universidade do Futebol – E como se adaptar o período pós-treino? Determinados atletas, muito por conta da posição em que atuam, desgastam-se mais física e emocionalmente, necessitando de alimentos específicos para sua reabilitação. Como conduzir isso em um refeitório, por exemplo?

Giovana Guido – Fazemos uma suplementação pós-treino com proteína e carboidrato (Gatorade e Whey protein) e logo após isso os atletas vão direto para o almoço ou jantar. De forma geral, as necessidades são as mesmas para atletas de futebol: refeição pós-treino pobre em gorduras, moderada em proteínas e rica em carboidratos e vegetais.

Foco muito em carboidratos com eles: peço para capricharem no consumo de massas, frutas, arroz e feijão, batata, etc. e pego bastante no pé em relação aos fins de semana, que é quando eles escorregam muito.



Como se alimentar após o treino ou jogo de futebol? Melhorando a recuperação dos atletas 
 

 

Universidade do Futebol – O Paulista conta com Giulliano, Vagner e Vinícius como goleiros do seu grupo principal. Há um trabalho nutricional orientado distinto para os atletas desta posição?

Giovana Guido – Os goleiros têm um pouco de dificuldade para eliminação de peso e gordura, principalmente o Giulliano, mas estamos trabalhando forte nisso. O Vagner se machucou e ficou afastado um tempo, mas com dieta e suplementação correta, já está dentro do peso e estava no último jogo, mostrando ótimos resultados.

Como os goleiros gastam menos calorias e precisam de muita força e potência, recebem uma orientação de dieta mais restrita. Sempre reforço que eles não devem sair muito da alimentação padrão nos fins de semana, evitando guloseimas, pois eles possuem essa grande dificuldade.

Também procuro prescrever suplementos como creatina, leucina e betaína que são nutrientes importantes para treinos anaeróbios e de potência como os de atletas desta posição.
 


Nutrição para goleiros: aprendendo o passo a passo para melhorar saúde e performance 
 

 

Universidade do Futebol – Há uma orientação específica de ingestão de alimentos durante os períodos de lesão? A falta de treinos e o desânimo devem facilitar a fuga da dieta dos atletas...

Giovana Guido – O que nos facilita o controle é que o atleta passa a maior parte do tempo no clube, mesmo quando lesionado, então é obrigado a seguir o cardápio das refeições. Perco o controle no sábado e no domingo, pois mesmo orientados, eles saem da dieta, sim.

Os atletas são avisados que quanto mais fora de forma ficarem, pior será no retorno. Durante períodos de lesão, foco em algumas suplementações específicas como glutamina, condroitina, glucosamina, colágeno, etc., tudo para facilitar recuperação do organismo.

Universidade do Futebol – Há um modelo de hidratação ideal para atletas durante partidas de futebol? Quanto de volume, por exemplo, deve ser oferecido a cada atleta?

Giovana Guido – Lá no Paulista não definimos um valor exato – a cada 20 minutos, o treinador e o preparador físico liberam para a hidratação e deixamos isso como obrigatório. Eu oriento os atletas a atentarem à hidratação no resto do dia, coisa que eles falham bastante.

O ideal é que os atletas intercalem consumo de água mineral e bebida esportiva durante treinos e jogos, tomando de 200-300ml a cada 20 minutos de exercício. Recentemente, pedi ao auxiliar de suplementação colocar algumas medidas de sal no galão de isotônico, pois tivemos alguns problemas com cãibras, que podem ser devido à desidratação e alta perda de sódio.

 


 "Eu oriento os atletas a atentarem à hidratação no resto do dia, coisa que eles falham bastante", revela Giovana

 

Universidade do Futebol – Em termos científicos, qual a importância da água, da bebida esportiva e dos carboidratos no processo de hidratação?

Giovana Guido – A combinação entre eles é essencial: a água repõe o líquido perdido, os carboidratos ajudam a manter a glicemia e preservam os estoques de glicogênio e os isotônicos, além da água e carboidratos, têm os eletrólitos perdidos durante o suor, como cloro, potássio e sódio, ajudando em sua reposição. Ou seja, a bebida esportiva é a mais completa para esportes intensos.

Porém, durante os treinos, peço aos atletas que estão no peso normal intercalarem o consumo entre água mineral e isotônicos; os que estão muito abaixo do peso, tomar só o isotônico (aumentando aporte energético); e os que estão acima do peso, tomar mais água (para oxidarem mais gorduras).
 


Hidratando os jogadores de futebol: aprendendo a teoria e a prática 
 

 

Universidade do Futebol – Quais são os benefícios e os riscos da ingestão da cafeína na dieta de atletas profissionais? Como dosar essa substância e quando tomá-la? É indicada para jovens que atuam em equipes de formação?

Giovana Guido – A cafeína é muito interessante para esportes de alto rendimento, porém, não estou usando-a neste momento no Paulista. O cálculo da dosagem é feito de acordo com o peso do atleta e ela deve ser tomada cerca de 30 minutos antes dos treinos, mas estou focando em reeducação alimentar e acerto de composição corporal antes de entrar em suplementações mais detalhadas.

Entretanto, a cafeína pode ser usada para melhorar concentração, desempenho e retardar a sensação de fadiga, fazendo com que o atleta consiga treinar mais pesado, desde que sua alimentação esteja adequada também.

 

Utilizando a cafeína no futebol: quais são os benefícios? 
 

 

Universidade do Futebol – É possível traçar o perfil nutricional do atleta brasileiro? Em relação aos jogadores de países mais desenvolvidos do que o nosso, você conseguiria detectar uma diferença muito grande?

Giovana Guido – Baseado em minha experiência, noto que os brasileiros adoram guloseimas do tipo: lanches, pastel, refrigerantes, churrasco, chocolate e frituras, consomem poucos vegetais, os atletas mais jovens não gostam muito de frutas, legumes e verduras, ingerem pouca água e consomem poucos carboidratos.

Não sei exatamente a rotina dos jogadores dos países mais evoluídos, mas acredito que quanto mais informação, mais educação. A partir do momento que a ciência da nutrição se tornar mais evoluída, divulgada e aplicada, certamente os atletas terão mais benefícios.



Na avaliação da nutricionista, atletas mais jovens não gostam muito de frutas, legumes e verduras, ingerem pouca água e consomem poucos carboidratos 

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