Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quinta-feira, agosto 11, 2011

Ricardo Perlingeiro, treinador das categorias de base da AS Roma e coordenador geral da Escola Européia de Futebol

Brasileiro radicado na Itália fala de projeto de formação e entusiasmo para trabalho com Luis Henrique
Bruno Camarão

“Minha intenção é trazer para a Itália o que eu aprendi em Barcelona ao longo destes anos, o futebol tão ofensivo, com bom jogo de equipe”. As primeiras palavras de Luis Henrique ao assumir o comando da equipe principal da AS Roma deixaram claro o que pretende o último treinador da equipe B catalã. Fora o entusiasmo promovido a diretores, torcedores e imprensa, o ex-jogador da seleção espanhola gerou expectativa muito positiva em um brasileiro em especial.

Há oito anos no clube romano, Ricardo Perlingeiro é treinador das categorias de base giallorossi. Com participação na conquista de vários títulos envolvendo disputas de equipes de formação, o carioca de 37 anos quer ratificar, mais do que triunfos, o desempenho técnico que rendeu elogios de dirigentes de rivais locais.

“Com a busca desenfreada pelo resultado, com ansiedade e pressão, deixou-se de lado a parte técnica, que tem um papel fundamental para o futebol. Os fundamentos e a coordenação motora, que te dão condição para o desempenho da parte tática, são pouco trabalhados”, analisou Perlingeiro, que atua sob a coordenação de Bruno Conti, habilidoso meia italiano dos anos 1980 e que também preza muito tal característica.

Ambos compactuam que o Barcelona, hoje, é a maior referência de futebol no mundo. Nas “canteiras”, Luis Henrique teve participação para o desenvolvimento de uma metodologia que tem como base a técnica em movimento, situação que se repete de categoria a categoria até o time profissional.

“Aqui, na Roma, ele quer implementar a mesma situação. É um treinador que tem muitas qualidades e a principal delas é a motivação, a confiança em seu método de trabalho. Ele deve querer aplicar o sistema 4-3-3, que é o 'trabalho de batalha' dele, a partir da contratação de alguns jogadores do próprio Barcelona, aproveitando os jovens da nossa base. Estou muito curioso. E otimista. Torcendo para que dê certo”, acrescentou Perlingeiro, responsável técnico em todo o Brasil pelo desenvolvimento do Roma Campus.

Após uma década de experiência profissional na Itália – e com o acampamento para jovens em diversas localidades pelo mundo – ele também observou oportunidade de desenvolver em seu país natal o modo europeu de atividade dos principais jogadores de futebol. Então, pensou em um projeto de treinamento de uma hora e meia, agregando coordenação motora e aquecimento com bola, jogos de temas, e uma parte de tática, que busca desenvolver o raciocínio e a técnica. Trata-se da 
Escola Européia de Futebol
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“O objetivo principal é conferir experiência aos jovens, e o próximo passo é criar times afiliados para a Roma no Brasil – algo que ainda não tem. Claro, com a autorização do Bruno Conti”, completou, ainda nesta entrevista concedida à Universidade do Futebol, em que ele aprofunda este e outros temas.

Universidade do Futebol – Comente um pouco sobre sua formação acadêmica, a atuação como treinador e chegada à AS Roma.

Ricardo Perlingeiro – Sou natural do Rio de Janeiro, de origem italiana, com passaporte local, e sempre tive o sonho de jogar futebol na Itália. Por conta de um acidente, não pude continuar a carreira como atleta – tinha me profissionalizado pelo Fluminense, cheguei a uma certa idade, e vi que precisava procurar outras possibilidades.

Fui para a Itália com 23 anos, e um diretor de um clube me fez um convite, e joguei em times semi-profissionais. Vi que não ia alcançar um nível que considerava razoável e comecei a trabalhar em escolinhas de futebol.

Em 1998, ainda não havia o “boom” do futebol de salão na Itália, comecei a jogar por lá, e depois a organizar a escolinha da Roma de “Calcio a 5”, sendo pago para isso. Depois passei para um time de campo, quando o Bruno Conti me chamou para esta experiência. Foi ele quem criou toda a parte das categorias de base do clube e foi diretor técnico do grupo principal, nos últimos três anos.

A Roma foi campeã recentemente do principal torneio nacional de juniores, ano passado foi campeã italiana juvenil, e é muito conceituada por toda a Europa. Ao contrário dos principais rivais, que têm condição financeira superior e compram os jogadores prontos, nós temos de formar em nossas equipes menores.

O Bruno me ofereceu três meses de experiência para atuar com os jovens e, após o retorno no campo, daríamos continuidade. Houve a aceitação, eles se interessaram pela minha maneira de trabalhar, e estou há quase oito anos no clube.

Não concluí minha formação em Administração no Rio de Janeiro, mas na Itália realizei todas as etapas dos cursos de treinador. Primeiro para instrutor de jovens, de até 12 anos; completei o segundo módulo; e falta finalizar o terceiro nível, principal, top. Além disso, fiz alguns cursos no próprio Brasil ligados a sindicatos de treinadores.

Mas creio, mesmo, que independentemente dos cursos, o que te dá experiência no futebol é o dia a dia vivido, o convívio com jogadores europeus de alto nível, a organização dentro e fora de campo, a disputa de competições internacionais, etc.

Hoje sou um dos únicos treinadores brasileiros atuando em categorias de base de clubes europeus. Essa experiência se refletiu na responsabilidade de coordenar as colônias de férias da Roma por vários lugares do mundo. Este ano colaborei com a categoria júnior, campeã italiana, e minha categoria foi campeã regional, contra a Lazio. A cada ano vamos mudando.

O próprio coordenador é quem te direciona a atuar com determinada categoria. Não há uma definição prévia, a não ser a do júnior, que tem o pai do Daniele De Rossi, o Alberto de Rossi, fixo na mesma; agora haverá a responsabilidade do júnior e do juvenil também passarem pelo Luis Henrique, que ficou por três anos no Barcelona B e hoje é o técnico principal da Roma.

Universidade do Futebol – E qual é a sua visão sobre essa flexibilidade de treinadores de uma categoria a outra, de acordo com as necessidades observadas pela coordenação técnica na Roma?

Ricardo Perlingeiro – Essa é uma exigência que eles têm. Eu, como sou brasileiro, tenho um tipo de implementação de treino e de contato mais íntimo com os atletas. Muitas vezes o jovem tem problemas pessoais, em sua escola, e me vejo como uma espécie de educador nessa relação. Eles valorizam isso. E de repente com um técnico italiano, em certo nível, não ocorre dessa maneira.

O aperfeiçoamento da técnica e das principais valências deles também pode estar condicionado a esse tipo de atividade.

Hoje, na Roma, fiz parte de quase todas as categorias, especialmente dos 15 aos 20 anos de idade. É possível que o Bruno Conti chegue e me desloque para trabalhar com os garotos de 10 anos. Seria uma involução, logicamente, pois você diminui de patamar, mas ficaria tranquilo por conta de já ter compreensão dessa realidade e por ter passado por tudo isso.

Terminada minha formação e tendo vivenciado todas essas experiências, gostaria de um dia comandar uma equipe principal.

Universidade do Futebol – Como se dá o processo de detecção e captação de talentos na Roma, a partir dos acampamentos e escolas de futebol?

Ricardo Perlingeiro – Aqui na Roma há um chefe de olheiros, que possui profissionais espalhados por todas as regiões da Itália – além dos olheiros em nível internacional. Temos também times afiliados, chamados de núcleos, quase 60 ao todo, que mantêm relação conosco.

Geralmente, estabeleço contato com os coordenadores desses núcleos, que nos indicam os principais jogadores para virem ao nosso clube e serem monitorados.

Quando jogamos contra uma equipe e percebemos que alguém nos despertou a atenção e o interesse, conversamos com clube e pais do atleta em questão e efetuamos o convite, mediante a autorização, para passar por um estágio na Roma e eventualmente ser contratado. O Aquilani e o De Rossi surgiram por intermédio dessas clínicas.

Nas colônias de férias que realizamos, inclusive no Brasil, o objetivo é levar essa metodologia desenvolvida nas categorias de base da Roma aos jovens daquele país em questão. Recentemente, houve o caso do Caio Werneck, de 10 anos e que treinava no Juiz de Fora, recebeu o convite e passou por um processo de treinamento no clube, com acompanhamento médico e escolar. Infelizmente, por conta de algumas questões envolvendo visto e cidadania, ele acabou não ficando por aqui.

Estamos planejando novos intercâmbios e outras colônias no Brasil, mas depende ainda de acertos políticos com a nova gestão dos norte-americanos que compraram a Roma. 
 


 

Universidade do Futebol – Os grandes clubes formadores na Itália, de maneira geral, sabem exatamente que tipo de jogador está procurando para fazer parte desse contexto? Qual o paralelo que você traça em relação ao Brasil?

Ricardo Perlingeiro – Sem entrar no mérito, de um modo de administrar ser melhor do que o outro, na Itália, inicia-se o processo de formação na categoria 2001, por exemplo. A partir daí, até se chegar ao júnior, quando o atleta é quase profissional, não há grupos mistos de atletas. As divisões são consequentes por idade: 2000, 1999, 1998, 1997, 1996, 1995, etc.

O jovem não fica quase um ano sem jogar: são praticamente oito anos atuando. Caso você seja acima da média, claro, é introduzido em uma categoria superior. Um ano de diferença nesse período é muito relevante. E muitas vezes se reduz pela metade o aproveitamento de uma criança com potencial.

No infantil e no juvenil, por exemplo. Se eu preciso de um lateral-direito para a minha equipe, chamo determinado atleta para treinar comigo em determinado período. E isso acaba potencializando a evolução e o aproveitamento do mesmo.



Processo de detecção de talentos da Roma passa por trabalho de olheiros e clínicas. Em uma delas, Aquilani e De Rossi foram "descobertos" 

 

Universidade do Futebol – Há uma preocupação didática em explicar e discutir os treinos com os jovens?

Ricardo Perlingeiro – Como técnico, por conta da linguagem formal, explicamos cada etapa do treino de maneira resumida e geral. Nosso objetivo é preparar o jogador para o profissionalismo. O corpo médico, também, é muito elucidativo em questões ligadas a reabilitação e fisioterapia.

Cada categoria tem um tipo de preparação específica, inclusive. Com 30 jogadores, buscamos respeitar a especificidade. No júnior, é feito um trabalho de musculação com força natural e de academia. Ao mudar de clube, este atleta estará, no ambiente profissional, preparado para se adaptar a outras realidades e metodologias, também.

Em certo nível, na área da nutrição, não temos a necessidade de um profissional especifico. Aqui, o garoto vem com uma experiência caseira muito boa, geralmente bem alimentado, priorizando frutas, carboidratos, proteínas e pouca gordura.

Universidade do Futebol – Nesse processo de intercâmbio, pensando-se no quesito tático, o jogador brasileiro tem muita dificuldade de compreensão quando chega à Itália?

Ricardo Perlingeiro – Menores de 16 anos devem vir morar na Itália somente acompanhado dos pais, com trabalho, enfim, englobando uma série de legislações próprias da Comunidade Européia, que transcedem o futebol. Então, a porcentagem de jogadores menores de 13, 14 anos por aqui é próxima do zero.

O brasileiro geralmente vem para cá não com um “defeito de formação”, mas com uma cultura diferente. Passei um tempo no São Paulo para observar alguns treinamentos. Lá, até os 14 anos, não se trabalha muito a parte tática. Em compensação na Itália é comum trabalhar parte tática individual, posição do corpo perante o adversário, perante a bola, etc., desde os 10 anos. Depois se passa para táticas de grupo, e com 15, 16 anos, os jovens já têm uma noção muito grande desse aspecto. Os jogos nessas categorias já têm espaço reduzido e muita organização.

Se você tem um jogador mais habilidoso, que cria superioridade numérica, dribla, a soma tática, se não nula, fica limitada quando se depara com uma situação desta.

 

Perlingeiro diz que na Itália é comum trabalhar aspectos táticos individuais, como posição do corpo perante o adversário e perante a bola desde os 10 anos de idade

 

Universidade do Futebol – O fato de as crianças não brincarem mais tanto de futebol, desenvolvendo essa atividade majoritariamente em escolinhas ao comando de um professor muitas vezes tecnicista, pode acarretar em uma perda da identidade brasileira ao longo do tempo?

Ricardo Perlingeiro – Até aqui na Itália essa identidade também se perdeu. Sou de 1974 e lembro daquela seleção deles, muito técnica, que inclusive tinha o Bruno Conti, chamado de “Marazico” – uma mistura de Maradona e Zico.

Na Roma, fomos elogiados na parte final do último campeonato por diretores de Juventus, Milan e Inter por sermos a única que jogava futebol, de fato, com toques rápidos e técnica desenvolvida.

Com a busca desenfreada pelo resultado, com ansiedade e pressão, deixou-se de lado a parte técnica, que tem um papel fundamental para o futebol. Os fundamentos e a coordenação motora, que te dão condição para o desempenho da parte tática, são pouco trabalhados.

No Brasil, esse processo está um pouco estagnado. Tenho ido ao país e vejo poucas atividades nesse sentido em escolinhas de futebol. É necessário avançar nessas questões para a retomada da identidade brasileira, que hoje está europeizada.

Como o Conti era um jogador técnico, ele preza muito essa característica. Os goleiros das nossas categorias de base, por exemplo, são proibidos de darem chutão – têm de saber construir novamente uma jogada a partir do recuo. Certos times europeus, por terem perdido essa característica qualitativa, também estão tomando cuidado.

A partir dessa carência e desse gargalo no mercado, pensei a Escola Européia de Futebol, para tentar não criar um “jogador brasileiro-europeu”, mas para que aquele jovem possa se completar, a partir de treinamentos específicos, com o desenvolvimento de características fisicas, mentais e técnicas requeridas no ambiente profissional – inclusive na Europa, para onde estará mais adaptado em um futuro.
 


 

Universidade do Futebol – Como funciona a estrutura da Escola Européia de Futebol (EFF)? Há uma integração entre a metodologia de trabalho desse projeto e o que é implementado no departamento de formação da Roma?

Ricardo Perlingeiro – A EEF foi criada por mim por essa exigência e carência de escolinhas de futebol no Brasil, que eventualmente atuam somente como um espaço de lazer, sem um padrão de aquecimento e treinamento, etc. Uma perda de tempo, que não gera desenvolvimento.

Pensei em um projeto de treinamento de uma hora e meia, tempo dividido entre coordenação motora e aquecimento com bola, jogos de temas, e uma parte de tática, em que você busca desenvolver o raciocínio e a técnica.

Como estou boa parte do tempo por aqui na Itália, fora da EEF, aplico um treinamento sob minha supervisão, juntamente com amistosos, nos 10 dias de preparação em que os atletas vêm treinar conosco a partir das colônias da Roma e dos tours.

O objetivo principal é conferir experiência aos jovens, e o próximo passo é criar times afiliados para a Roma no Brasil – algo que ainda não tem. Claro, com a autorização do Bruno Conti.



Conheça mais sobre o projeto criado por Ricardo Perlingeiro. Clique aqui.

 

Universidade do Futebol – Como deve ser delineado o projeto da Roma em suas categorias de base a partir da integração com o Luis Henrique, que passou três anos atuando como treinador do Barcelona B, em meio a, talvez, o principal modelo de futebol da atualidade?

Ricardo Perlingeiro – Hoje, o Barcelona é a maior referência de futebol no mundo. Nas “canteiras”, o Luis Henrique trabalhou naquela metodologia que tem como base a técnica em movimento, situação que se repete de categoria a categoria até se refletir no ponto final, o time profissional.

Aqui, na Roma, ele quer implementar a mesma situação. E estou muito curioso para ver como se dará esse projeto. Diferentemente da Espanha, em que a concorrência se limita ao Real Madrid e a pressão é menor, na Itália temos de enfrentar Juventus, Milan, Inter, Napoli, Lazio, enfim, times que você vai encontrar muitas dificuldades para pontuar, e o mesmo vale para uma equipe como o Chievo, por exemplo, extremamente bem organizada taticamente e que pode causar problemas.

Mas é um treinador que tem muitas qualidades e a principal delas é a motivação, a confiança em seu método de trabalho. Ele deve querer aplicar o sistema 4-3-3, que é o “trabalho de batalha” dele, a partir da contratação de alguns jogadores do próprio Barcelona, aproveitando os jovens da nossa base – algo que não é comum nos outros clubes.

Estou muito curioso. E otimista. Torcendo para que dê certo.

Também a partir da entrada dos investidores norte-americanos, a ideia é explorar o marketing neste sentido. Nada melhor do que conquistar resultados jogando bem e vender essa ideia.

Universidade do Futebol – Você teve a possibilidade de viver de perto a presença do José Mourinho na Itália durante algumas temporadas recentes. O que pensa sobre o trabalho do treinador português e qual foi o legado deixado por ele em termos profissionais?

Ricardo Perlingeiro – Além de ser um grande técnico, é um grande comunicador. Por conta disso, creio que os torcedores da Inter sentiram muito a falta dele. Ele conseguia atrair as atenções todas para ele – talvez esteja tendo a dificuldade de repetir isso no Real Madrid, com os holofotes voltados para o momento positivo do Barcelona.

O Mourinho foi um espetáculo midiático na Itália, atirando para todos os lados, inclusive contra treinadores rivais, e a polêmica é notícia por aqui. Ele conseguiu atrair muitos torcedores.

O trabalho, principalmente em nível psicológico, fora a parte técnico-tática, era de altíssima qualidade. Era comum ouvir dos jogadores o depoimento de que “morreriam por ele”. Mas o Mourinho também sentiu muito a pressão por aqui. Tanto que não ficou mais. O sonho dele, acredito, é voltar para o futebol inglês.

O grupo da Inter era muito bom, com vários jogadores em seu potencial mais alto, e conquistou praticamente tudo. Mas o Mourinho saiu daqui ofendendo a muitos. A parte negativa deve ter sido esta. Ele se acha um Deus, de repente, mas é um brilhante técnico.

 

Quem é José Mourinho

 

Universidade do Futebol – Atualmente, faltam jogadores brasileiros protagonistas, com potencial ofensivo, nos principais clubes europeus? Qual a razão disso?

Ricardo Perlingeiro – Sim, e acredito que isso parte da base. Quando um time brasileiro ganha, geralmente tem por trás uma estrutura de formação capacitada. O São Paulo, um dos mais vitoriosos nos últimos anos, é amparado por profissionais capacitados naquela área e por uma infraestrutura excelente.

Antes de vir o jogador, vem a estrutura e a organização, e todo o trabalho desenvolvido neste ambiente. Muitos talentos se perdem no caminho, pois não encontram um espaço interessante para se moldar.

Nas competições de seleções sub-20, não há mais aquelas goleadas como havia anteriormente, muito por conta da evolução dos rivais e um pouco da nossa estagnação. A Venezuela era “saco de pancada”até outro dia. Aos 16 anos de idade, a garotada necessita ter humildade e buscar seu espaço aos poucos, com muito trabalho.

 


Juan, titular da defesa romana nos últimos anos, e meio-campista Rodrigo Taddei, ao fundo: brasileiros protagonistas com poder ofensivo na Europa são raros

 

Universidade do Futebol – Na Roma, o jovem nesta idade olha para o grupo profissional e enxerga jogadores como Totti e De Rossi, que são referências técnicas e incorporam um espírito da torcida, da instituição. Como deve ser a atuação do treinador perante os atletas nesse período em que o êxito e a projeção de um futuro positivo podem atrapalhar o desenvolvimento?

Ricardo Perlingeiro – Tudo é uma questão que envolve trabalho em diversos níveis, inclusive o psicológico. Uma goleada por 5 a 0 de um time de jovens em uma partida não fará diminuir o trabalho de preparação para a próxima, apesar dos merecimentos de elogios.

O respeito deve existir sempre. O brasileiro muitas vezes acha que desembarca no exterior e vai se sobressair meramente pela técnica. É necessário evoluir em termos de marcação, de doação para o grupo, criar o espírito de solidariedades, etc.

O treinador na maioria das vezes é visto como uma referência. Não serão todos que virarão um Totti. Sem tirar a ilusão positiva do atleta, mas é preciso apresentar as estradas da correção e do erro. Caberá a ele tomar as decisões corretas.

Acredito que a primeira coisa como treinador é atrair os jogadores para o seu lado. A partir daí, você pode administrar com eficácia a mente deles e fazê-los “comprar a ideia” de uma linha de trabalho a ser realizado. Além disso, tirar o máximo do potencial de cada um, algo que só será possível a partir da experiência cotidiana e da criação de um ambiente de segurança e confiança.

 


"O treinador na maioria das vezes é visto como uma referência. Não serão todos que virarão um Totti", diz Perlingeiro

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Benê Lima