Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

terça-feira, agosto 16, 2011

A montagem de um elenco – Partes I e II

    
Eduardo Fantato
 
 
 
 
A montagem de um elenco - I
Devemos respeitar critérios, inclusive usando recursos tecnológicos, científicos, psicológicos, e prognosticar

 

Montar um elenco de uma equipe profissional de futebol não é uma das tarefas mais simples. Mas o que deve servir de parâmetro e quem são as pessoas que precisam gerir e tomar decisões neste processo?

Virou chavão no futebol dizer que hoje os clubes devem agir como uma empresa e como tal tomar decisões racionais e fundamentadas.

Como consequência da impregnação desse chavão temos uma dicotomia marcante. De um lado os que acreditam fielmente que esse é o caminho para o futebol, já que cada vez mais é um negócio e como tal necessita de processos racionais para obter sucesso. Por outro lado temos os críticos desse processo e defensores do romantismo, da paixão e significados culturais que o futebol possui.

Tanto um como outro devem considerar a outra parte, já que os extremos não condizem com uma administração necessária ao futebol. Sim, o futebol é um negócio, e como tal, seus resultados, ainda que possam aparecer financeiramente, são bem mais potencializados quando vêm juntos ao resultado de jogo, isto é, junto a conquistas e vitórias.

Como complemento, não adianta apenas usar os processos gerenciais de grandes multinacionais e trazê-las ao futebol, haja vista que as emoções sempre existentes no mercado como um todo, porém fazem parte de forma incisiva e marcante no ambiente esportivo, seja para o torcedor, para o diretor do clube, jogadores, enfim todas as partes envolvidas.

Assim, ao montar um elenco, devemos respeitar alguns critérios, inclusive com o uso de recursos tecnológicos, científicos, psicológicos, e com isso fazer projeções.


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Nas próximas colunas abordaremos tópicos específicos que acredito serem importantes para a montagem de uma equipe. Começamos com:


• Compartilhamento de responsabilidades
 
Não pode ficar a cargo de uma única pessoa (o técnico). A responsabilidade deve ser compartilhada; para tanto, é necessário que as pessoas envolvidas estejam aptas a opinar com conhecimento necessário sobre o futebol, sobre a mentalidade de trabalho (a famosa filosofia de jogo).

Assim conseguimos mesclar os extremos citados anteriormente. Com mais opiniões ou mesmo relatórios sistematizados sobre os atletas, racionalizamos o processo de contratação, minimizando a aquisição por simples e pura emoção, o que poderia resultar em custos não justificáveis, que não alcancem os objetivos esperados por fatores que poderiam ter sido identificados.

Ainda, ao compartilhar as responsabilidades, diminui-se a dependência da montagem de um único profissional, o que para o futebol, com mudanças tão drásticas de comando em curto espaço de tempo, torna-se fundamental.

Para que isso ocorra, é imprescindível o desenvolvimento de recursos dinâmicos, interativos e modernos, a fim de que esse processo possa ser amplamente desenvolvido.

Compartilhar não precisar ser apenas em duas pessoas (técnico e diretor), mas pode envolver funções diferentes, com maior ou menor peso, mas que devem ser consideradas em função das variáveis apresentadas.
 
Sabemos que em uma reunião presencial com muitas pessoas a decisão acaba ficando prejudicada, porém ao passo que se sistematiza e organiza um procedimento para isso, podemos pensar em um recurso que agrupa relatórios com diferentes pontos observados por diferentes profissionais, facilitando assim o processo de análise, tornando uma reunião de decisão mais objetiva e analítica com base em documentos adquiridos e disponibilizados com rapidez e precisão.

Na próxima semana, continuaremos com mais um tópico a respeito da montagem de um elenco discutindo sobre que profissionais devem ser ouvidos na montagem e quais os recursos podem auxiliar neste processo.

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A montagem de um elenco - II
Quanto mais pessoas envolvidas, filtro de emoções e de opiniões com argumentos consistentes é mais efetivo

Em um texto anterior sobre montagem de elenco, começamos a discutir alguns aspectos que norteiam ou pelo menos deveriam estar presentes nas decisões sobre esse processo. Fizemos o seguinte questionamento: "montar um elenco de uma equipe profissional de futebol não é uma das tarefas mais simples. Mas o que deve servir de parâmetro e quem são as pessoas que precisam gerir e tomar decisões neste processo?".

À ocasião, o abordamos a questão do compartilhamento de funções e da importância que isso tem em diminuir responsabilidades e dependência de pessoas específicas.

Assim, quem são os profissionais que devem ser ouvidos? A seguir, indico e descrevo brevemente alguns que entendo que deveriam fazer parte do processo, sem ainda distribuir pesos e hierarquia de importância entre eles, mas ainda que tenham poder de decisões diferenciado.

Acredito que todos tenham importante contribuição no processo:

• Técnico

É o responsável direto pela montagem, a partir de sua “filosofia de trabalho” – ou o que seria mais adequado, de acordo com a mentalidade de jogo do clube, vai definir prioridades com base nas temporadas passadas para ajustar e melhorar o elenco;

• Preparador físico

Importante no papel, pois compreende as carências de capacidades físicas no elenco e pode fazer uma análise prévia das condições e do encaixe do novo reforço de acordo com a filosofia de jogo e carências apresentadas;

• Médico

É comum no futebol se fazer o exame médico antes de assinar o contrato. Já vimos casos de jogadores praticamente anunciados não fecharem acordo por não serem aprovados em tais exames. O médico poderia antecipar com um banco de dados, com um acompanhamento em grande escala, o que facilitaria o inicio ou não das negociações. Uma previsão realista do médico, sem interesses obscuros por trás, poderia informar se o atleta suporta 50 jogos na temporada ou se o limite são 20 jogos. Assim, cabe ao grupo decidir se esses 20 jogos limites são significativos ou não; não que isso invalidaria, mas que deixaria claro como deve ser utilizado tal atleta;

• Analista de desempenho

Responsável pela rede de olheiros (scouts) e quem organiza o banco de informações. Em sintonia com o restante da comissão técnica, identifica carências no elenco e oportunidades no mercado. Vide o exemplo citado por Soriano, no livro “A bola não entra por acaso”. Na ocasião da contratação de Deco pelo Barcelona, um meia criativo que possuía um numero elevados de desarmes;

• Diretor de futebol

O diretor de futebol para funcionar nesse processo deve deixar de ser uma figura política e se tornar parte do planejamento do grupo. O presidente só deve entrar nas negociações em última instância, pois não vive o dia-a-dia de treino da equipe, ao passo que o diretor deve ter proximidade com a comissão técnica e desenvolver ações para escolha de acordo com a mentalidade do treinador, mas também sem ficar refém deste. Deve pensar no clube caso o treinador não permaneça por muito tempo: as contratações devem servir ao clube, e não a uma única pessoa;

• Diretor financeiro

O departamento financeiro deve estar ciente e por dentro das opções de mercado, porem não pode apenas focar nos valores. Pode e deve colocar limites e evitar extravagâncias por mais que sejam justificáveis do ponto de vista técnico, porém o clube deve ter em mente sua segurança financeira. 

Esse papel de freio é importante, mas não pode ser feito apenas com o olhar tradicional – devem-se ter alternativas para situações especificas, como contusões inesperadas que demandam trazer atletas de nível ou ainda oportunidades que podem se encaixar na filosofia de trabalho do clube;

• Diretor de marketing

Ainda com muita resistência no meio, o marketing deve, sim, participar, pois é ele quem pode viabilizar recursos para a vinda de um jogador de ponta ou ainda, por outro lado, identificar potencial de imagem em atletas até então desconhecidos e sem grande apelo, gerando assim visibilidade da marca do clube

São algumas posições e funções que imagino podem estar presentes nas decisões, desde que se tenha elaborado um peso e uma hierarquia de decisão. Quando tiramos a responsabilidade e dependência das mãos de uma única pessoa, conseguimos abrir mais a mente a outras possibilidades. Alternativas, sejam pelo viés financeiro (veja o Santos quando lançou Robinho e Diego em 2002), seja por marketing e oportunidade (Ronaldo no Corinthians), ou ainda pelo aspecto técnico (Jucilei, Ralf e Paulinho no próprio clube paulistano) contribuem muito para a montagem de um elenco forte e competitivo.

Sendo ainda que, quanto mais pessoas estão envolvidas, a gente consegue filtrar emoções e opiniões com argumentos sólidos e consistentes antes de abrir uma frente de negociação, entendendo que o ato de negociar gasta tempo e dinheiro. Evitaríamos abrir frentes cujas variáveis surgiriam e não permitiriam uma concretização como, por exemplo, o estado médico de um atleta, um “rolo jurídico” de outro.

Em síntese, poderíamos tornar mais certeiras as negociações, pois teriam sido pensadas por um grupo de pessoas capacitadas, analisadas com precisão e rigor antes de serem iniciadas.

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