Eduardo FantatoA montagem de um elenco - IDevemos respeitar critérios, inclusive usando recursos tecnológicos, científicos, psicológicos, e prognosticarA montagem de um elenco - II
Montar um elenco de uma equipe profissional de futebol não é uma das tarefas mais simples. Mas o que deve servir de parâmetro e quem são as pessoas que precisam gerir e tomar decisões neste processo?
Virou chavão no futebol dizer que hoje os clubes devem agir como uma empresa e como tal tomar decisões racionais e fundamentadas.
Como consequência da impregnação desse chavão temos uma dicotomia marcante. De um lado os que acreditam fielmente que esse é o caminho para o futebol, já que cada vez mais é um negócio e como tal necessita de processos racionais para obter sucesso. Por outro lado temos os críticos desse processo e defensores do romantismo, da paixão e significados culturais que o futebol possui.
Tanto um como outro devem considerar a outra parte, já que os extremos não condizem com uma administração necessária ao futebol. Sim, o futebol é um negócio, e como tal, seus resultados, ainda que possam aparecer financeiramente, são bem mais potencializados quando vêm juntos ao resultado de jogo, isto é, junto a conquistas e vitórias.
Como complemento, não adianta apenas usar os processos gerenciais de grandes multinacionais e trazê-las ao futebol, haja vista que as emoções sempre existentes no mercado como um todo, porém fazem parte de forma incisiva e marcante no ambiente esportivo, seja para o torcedor, para o diretor do clube, jogadores, enfim todas as partes envolvidas.
Assim, ao montar um elenco, devemos respeitar alguns critérios, inclusive com o uso de recursos tecnológicos, científicos, psicológicos, e com isso fazer projeções.
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Nas próximas colunas abordaremos tópicos específicos que acredito serem importantes para a montagem de uma equipe. Começamos com:
• Compartilhamento de responsabilidades
Não pode ficar a cargo de uma única pessoa (o técnico). A responsabilidade deve ser compartilhada; para tanto, é necessário que as pessoas envolvidas estejam aptas a opinar com conhecimento necessário sobre o futebol, sobre a mentalidade de trabalho (a famosa filosofia de jogo).Assim conseguimos mesclar os extremos citados anteriormente. Com mais opiniões ou mesmo relatórios sistematizados sobre os atletas, racionalizamos o processo de contratação, minimizando a aquisição por simples e pura emoção, o que poderia resultar em custos não justificáveis, que não alcancem os objetivos esperados por fatores que poderiam ter sido identificados.
Ainda, ao compartilhar as responsabilidades, diminui-se a dependência da montagem de um único profissional, o que para o futebol, com mudanças tão drásticas de comando em curto espaço de tempo, torna-se fundamental.
Para que isso ocorra, é imprescindível o desenvolvimento de recursos dinâmicos, interativos e modernos, a fim de que esse processo possa ser amplamente desenvolvido.
Compartilhar não precisar ser apenas em duas pessoas (técnico e diretor), mas pode envolver funções diferentes, com maior ou menor peso, mas que devem ser consideradas em função das variáveis apresentadas.
Sabemos que em uma reunião presencial com muitas pessoas a decisão acaba ficando prejudicada, porém ao passo que se sistematiza e organiza um procedimento para isso, podemos pensar em um recurso que agrupa relatórios com diferentes pontos observados por diferentes profissionais, facilitando assim o processo de análise, tornando uma reunião de decisão mais objetiva e analítica com base em documentos adquiridos e disponibilizados com rapidez e precisão.Na próxima semana, continuaremos com mais um tópico a respeito da montagem de um elenco discutindo sobre que profissionais devem ser ouvidos na montagem e quais os recursos podem auxiliar neste processo.
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Quanto mais pessoas envolvidas, filtro de emoções e de opiniões com argumentos consistentes é mais efetivoEm um texto anterior sobre montagem de elenco, começamos a discutir alguns aspectos que norteiam ou pelo menos deveriam estar presentes nas decisões sobre esse processo. Fizemos o seguinte questionamento: "montar um elenco de uma equipe profissional de futebol não é uma das tarefas mais simples. Mas o que deve servir de parâmetro e quem são as pessoas que precisam gerir e tomar decisões neste processo?".
À ocasião, o abordamos a questão do compartilhamento de funções e da importância que isso tem em diminuir responsabilidades e dependência de pessoas específicas.Assim, quem são os profissionais que devem ser ouvidos? A seguir, indico e descrevo brevemente alguns que entendo que deveriam fazer parte do processo, sem ainda distribuir pesos e hierarquia de importância entre eles, mas ainda que tenham poder de decisões diferenciado.
Acredito que todos tenham importante contribuição no processo:
• Técnico
É o responsável direto pela montagem, a partir de sua “filosofia de trabalho” – ou o que seria mais adequado, de acordo com a mentalidade de jogo do clube, vai definir prioridades com base nas temporadas passadas para ajustar e melhorar o elenco;
• Preparador físico
Importante no papel, pois compreende as carências de capacidades físicas no elenco e pode fazer uma análise prévia das condições e do encaixe do novo reforço de acordo com a filosofia de jogo e carências apresentadas;
• Médico
É comum no futebol se fazer o exame médico antes de assinar o contrato. Já vimos casos de jogadores praticamente anunciados não fecharem acordo por não serem aprovados em tais exames. O médico poderia antecipar com um banco de dados, com um acompanhamento em grande escala, o que facilitaria o inicio ou não das negociações. Uma previsão realista do médico, sem interesses obscuros por trás, poderia informar se o atleta suporta 50 jogos na temporada ou se o limite são 20 jogos. Assim, cabe ao grupo decidir se esses 20 jogos limites são significativos ou não; não que isso invalidaria, mas que deixaria claro como deve ser utilizado tal atleta;
• Analista de desempenho
Responsável pela rede de olheiros (scouts) e quem organiza o banco de informações. Em sintonia com o restante da comissão técnica, identifica carências no elenco e oportunidades no mercado. Vide o exemplo citado por Soriano, no livro “A bola não entra por acaso”. Na ocasião da contratação de Deco pelo Barcelona, um meia criativo que possuía um numero elevados de desarmes;
• Diretor de futebol
O diretor de futebol para funcionar nesse processo deve deixar de ser uma figura política e se tornar parte do planejamento do grupo. O presidente só deve entrar nas negociações em última instância, pois não vive o dia-a-dia de treino da equipe, ao passo que o diretor deve ter proximidade com a comissão técnica e desenvolver ações para escolha de acordo com a mentalidade do treinador, mas também sem ficar refém deste. Deve pensar no clube caso o treinador não permaneça por muito tempo: as contratações devem servir ao clube, e não a uma única pessoa;
• Diretor financeiro
O departamento financeiro deve estar ciente e por dentro das opções de mercado, porem não pode apenas focar nos valores. Pode e deve colocar limites e evitar extravagâncias por mais que sejam justificáveis do ponto de vista técnico, porém o clube deve ter em mente sua segurança financeira.
Esse papel de freio é importante, mas não pode ser feito apenas com o olhar tradicional – devem-se ter alternativas para situações especificas, como contusões inesperadas que demandam trazer atletas de nível ou ainda oportunidades que podem se encaixar na filosofia de trabalho do clube;
• Diretor de marketingAinda com muita resistência no meio, o marketing deve, sim, participar, pois é ele quem pode viabilizar recursos para a vinda de um jogador de ponta ou ainda, por outro lado, identificar potencial de imagem em atletas até então desconhecidos e sem grande apelo, gerando assim visibilidade da marca do clube
São algumas posições e funções que imagino podem estar presentes nas decisões, desde que se tenha elaborado um peso e uma hierarquia de decisão. Quando tiramos a responsabilidade e dependência das mãos de uma única pessoa, conseguimos abrir mais a mente a outras possibilidades. Alternativas, sejam pelo viés financeiro (veja o Santos quando lançou Robinho e Diego em 2002), seja por marketing e oportunidade (Ronaldo no Corinthians), ou ainda pelo aspecto técnico (Jucilei, Ralf e Paulinho no próprio clube paulistano) contribuem muito para a montagem de um elenco forte e competitivo.
Sendo ainda que, quanto mais pessoas estão envolvidas, a gente consegue filtrar emoções e opiniões com argumentos sólidos e consistentes antes de abrir uma frente de negociação, entendendo que o ato de negociar gasta tempo e dinheiro. Evitaríamos abrir frentes cujas variáveis surgiriam e não permitiriam uma concretização como, por exemplo, o estado médico de um atleta, um “rolo jurídico” de outro.Em síntese, poderíamos tornar mais certeiras as negociações, pois teriam sido pensadas por um grupo de pessoas capacitadas, analisadas com precisão e rigor antes de serem iniciadas.
Tags: planejamento estratégico, dirigentes esportivos, negócios, Tecnologia, análise do jogo, treinador, preparação física, marketing.
Sinopse
"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."
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terça-feira, agosto 16, 2011
A montagem de um elenco – Partes I e II
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Benê Lima