Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, novembro 04, 2009

Para que servem as coletivas de imprensa?
A imprensa hoje está acostumada a só olhar o resultado da partida, o que é capaz de levar uma pessoa do céu ao inferno depois de um jogo

Erich Beting

Muricy Ramalho voltou a ser o "Muricy, eterno" que o consagrou no São Paulo. Uma explosão de ira durante a entrevista coletiva e bastou para, de novo, reacender a disputa entre imprensa e treinador depois de um jogo.

Ok, o pavio de Muricy pode ser mais curto que o dos outros. Mas dá, realmente, para aguentar o massacre em que se transformou hoje uma entrevista coletiva após uma partida?

Olhando friamente, do lado do treinador, a entrevista é o momento em que todos querem fazer alguma pergunta. E, convenhamos, depois da terceira ou quarta questão, não tem muito mais o que saber de um treinador. E, muito menos, o que perguntar.

Para piorar o cenário, a imprensa hoje está acostumada a só olhar o resultado da partida, o que é capaz de levar uma pessoa do céu ao inferno depois de um jogo.

O que Muricy falou quinta-feira, depois do baile palmeirense sobre o Goiás, tem a sua ponta de verdade. Palpitamos, muitas vezes, sem ter ido ao treino. Ou, quando um jornalista está lá, é só de corpo presente, sem analisar o treinamento, sem ter visto as variações de jogada, de tática, de jogador...

Obviamente que é uma generalização, mas é algo extremamente corriqueiro. Até mesmo em treinos da seleção brasileira! A correria do jornalista é saber quem joga, e não como joga. E isso leva ao óbvio choque de interesses depois de uma partida.

A entrevista coletiva depois do jogo surgiu na Inglaterra, nos anos 90, na profissionalização do futebol como um todo. Expediente mais comum nos esportes americanos, a entrevista coletiva tinha por objetivo facilitar o trabalho da mídia e, ao mesmo tempo, evitar declarações polêmicas e desencontradas após uma partida. Fala quem quer, como quer e onde quer.

Do ponto de vista do negócio, isso se tornou um grande aliado da instituição ?clube de futebol?. O risco de uma crise surgir pelo ?disse que disse? tornou-se muito menor. Mas, do ponto de vista da notícia em si, a entrevista coletiva, aliada ao massacre da cobertura da mídia após uma partida, fez surgir uma das coisas mais monótonas e propagadoras de rusgas no futebol.

E não apenas no Brasil!

Na Europa os treinadores também se cansam de ter de responder às mesmas perguntas formuladas de maneiras distintas por diferentes jornalistas e diferentes veículos.

Ainda mais quando é após uma derrota, com a cabeça inchada e sem vontade de ver ninguém. Mas faz parte do show, sem dúvida.

Só que, para o bem do negócio, é hora de repensar o esquema das entrevistas coletivas após uma partida. Porque não limitar o número de perguntas. Três questões das emissoras de TV, três das rádios e três dos veículos impressos e de internet. Se houver mais gente do que pergunta, sorteia-se, por tipo de mídia, quem fará a questão.

Ao todo seriam 12 perguntas para serem respondidas depois de um jogo. É resposta para mais de meia hora de um programa de rádio ou TV, para mais de duas páginas num jornal, para uma infinidade de pixels na internet...

Provavelmente o desgaste seria menor. E, as perguntas, menos repetitivas. O futebol, como um todo, agradeceria.

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Benê Lima