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"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, novembro 04, 2009

Especialista vê perda de renda com 'cadastramento de organizados' e sugere tratamento 'amigável' de policiais
Geoff Pearson, da Universidade de Liverpool, traça paralelo com hooliganismo e não acredita em fim da violência nas praças esportivas de futebol
Equipe Universidade do Futebol

Por conta dos hooligans e do combate efetivo às práticas de violência nos arredores e dentro dos estádios de futebol, a Inglaterra é uma referência no tema. Professor de Direito e diretor do curso de Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, Geoff Pearson foi procurado pela reportagem do jornal A Gazeta do Povo recentemente para comentar sobre os aspectos sociais genéricos da modalidade, com enfoque específico a mais um caso trágico: a morte João Henrique Vianna, torcedor do Atlético-PR, após o último jogo entre seu time e o Coritiba, no maior clássico local.

"Eu não estava sabendo deste caso e, portanto, não posso falar com propriedade. Na minha visão, fatos como esse, em geral, não devem ser tratados através da relação que eles apresentam com o futebol. Deveriam ser vistos mais como um problema social", discursou Pearson.

"Podemos dizer que eles brigam por seus times. Gostam e fazem isso por causa da ação e da adrenalina que os confrontos lhes dão. Na Inglaterra também tem o fator cultural. É normal haver brigas de bar por aqui. Faz parte da cultura, principalmente entre os jovens. E normalmente quem briga por causa do futebol não briga só por causa disso. Sempre arranja outros motivos", acrescentou.

Torcedor do Manchester United, Pearson escreveu há dois anos o livro Football Hooliganism. PhD e produtor de vários artigos científicos voltados ao futebol e à legislação, acredita que o tratamento da temática é desvirtuado de uma maneira geral. Em especial no que se refere às ações implementadas pelos órgãos responsáveis pela segurança. E apresenta algumas lições.

"Os policiais precisam saber interagir de forma amigável. Não é de forma agressiva que se impõe respeito. É preciso agir de acordo com a situação. Se estiver tudo tranquilo, não tem por que agir diferente. A segunda lição é agir com inteligência, identificando quem são as pessoas que começam as confusões e indo diretamente nelas, sem bater em todos que estiverem ao redor", argumentou Pearson.

Na avaliação dele, se esses indivíduos não obedecerem ao limite de tolerância estabelecido, aí, sim, deve haver uma ação dos policiais, os quais necessitam, sempre, passar a mensagem de que estão ali para prendê-los se algo de errado acontecer.

A realidade inglesa já percebe essa mudanças. Dentro e ao redor dos estádios as confusões são raras. "Mas se você estiver interessado em briga, certamente vai encontrar. Longe dos campos", apontou o estudioso, indicando que alguns hooligans, não todos, têm até ligação direta com máfias e outros grupos criminosos.

Sobre a discussão levantada recentemente no país, em relação à obrigatoriedade de um registro para que os torcedores - em especial os pertencentes a torcidas organizadas - pudessem frequentar as praças esportivas, Pearson não acredita na validade funcional dessa medida.

"Não seria algo muito efetivo, além de ser uma perda brutal de receita para os clubes. Por aqui também foi pensado algo nesse estilo, mas a ideia foi abandonada. A polícia precisa estar presente para interagir com os fãs e estabelecer um limite de tolerância. Se existem problemas em estações de trens ou ônibus, os policiais precisarão estar presentes nesses locais", enumerou o acadêmico, com uma clara consciência: a violência nunca irá deixar de existir dentro do futebol

"Sempre vai existir violência quando se trata de um grande grupos de pessoas concentradas em um mesmo lugar. Ainda mais quando elas têm ideias diferentes, torcem para equipes distintas", finalizou.

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Benê Lima