Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

segunda-feira, novembro 16, 2009

Crescimento, desenvolvimento, maturação e futebol
Teoria dos sistemas ecológicos tem muito a contribuir com os estudos atuais, alicerçando metodologias de ensino e treinamento no futebol

Alcides Scaglia

Crescimento, desenvolvimento e maturação são temas recorrentes no meio acadêmico da Educação Física. Contudo, no futebol, vejo-os como conteúdos pouco explorados e entendidos, principalmente quando o assunto é desenvolvimento e ao mesmo tempo processo de formação de jovens futebolistas.

Por este motivo gostaria de explanar sobre de forma a tentar imbricá-los e, concomitantemente, vislumbrá-los em alguns pontos chaves da prática cotidiana do futebol iniciação e também especialização.

Iniciando por seus conceitos, posso dizer que o professor Robert Malina define crescimento como o aumento no tamanho do corpo como um todo ou em partes, sendo determinado basicamente por atividades biológicas, iniciando na concepção e findando na morte.

Malina ainda, para definir maturação, diz ser mais difícil que o crescimento, porém ela deve ser entendida enquanto processo, que sempre progride em direção ao estado maduro, atingindo maturidade. Logo, a maturação se refere ao tempo de progresso em direção ao estado biológico maduro.

David Shaffer, autor do tratado de “Psicologia do Desenvolvimento”, acrescenta que a maturação nada mais é que o desenvolvimento biológico a partir do código genético.

Sendo assim, tanto crescimento quanto maturação estão estritamente dependente de fatores biológicos. E um fato importante a ser destacado é que todos os humanos são seres diferentes, que crescem e se maturam em velocidades diferentes, corroborando a afirmação de Albert Jacquard, que diz mais ou menos nestes termos: “Somos todos semelhantes ao mesmo tempo em que somos todos diferentes”.

Mas o conceito a meu ver mais interessante é o de desenvolvimento. Para Malina: “Desenvolvimento denota um conceito mais amplo, utilizado em dois contextos diferentes.” O primeiro contexto é biológico e o segundo é comportamental.

Ou seja, o desenvolvimento, nas palavras de Malina, refere-se à aquisição e ao refinamento de comportamentos esperados pela sociedade. Shaffer completa dizendo que o desenvolvimento tem haver com as mudanças sistemáticas no indivíduo.

Ao falar em desenvolvimento, pressupõe, como afirma o professor Lino Macedo, em um movimento de dentro para fora, ou seja, de uma ação e ao mesmo tempo reação do nosso organismo no sentido de crescer (buscando e sendo guiado pela maturação), ao passo que se adapta às exigências e necessidades do meio em seu entorno.

Nesse sentido, a aprendizagem seria o estímulo de fora para dentro, que desencadearia o desenvolvimento, segundo Vigotski. Ou então, contrariamente, como afirma Jean Piaget, o nível de desenvolvimento que garantiria o estímulo externo ser considerado desencadeador de aprendizagem, sendo esta a mais famosa das não excessivas contradições que emergem das teorias destes consagrados autores.

Contudo, penso como o professor João Batista Freire, que, para solucionar esse paradoxo que se estabelece entre os autores indicados, diz ser preciso pensá-los pela perspectiva da complexidade, em que se justificaria a possibilidade de os dois estarem certos, ao considerá-los como antagônicos, porém complementares.

Jean Piaget, Lev Vigostski, Jerome Brumer, Donald Winnicott, Henry Wallon e David Ausubel são alguns dos principais autores que estudam o desenvolvimento, partindo das teorias que circundam a psicologia da aprendizagem, e se preocupam com o desenvolvimento cognitivo.

Existem outras teorias do desenvolvimento, como, por exemplo, a psicanalítica advinda dos estudos de Sigmund Freud, a psicossocial de Erik Erikson, a behaviorista de Watson e depois Skinner, a teoria sociocognitiva de Albert Bandura e, por fim, a teoria do processamento de informação e a visão etológica, além da que muito me agrada: a teoria dos sistemas ecológicos.

Urie Bonfenbrenner é considerado o pai da teoria dos sistemas ecológicos. David Shaffer, ao falar sobre o aludido autor, sintetiza a teoria dizendo que: “o desenvolvimento deve ser entendido como o produto das relações entre as pessoas em constantes mudanças e o ambiente também em constante mudança [...] propõe que o ambiente natural na realidade é formado por contextos em interação, ou sistemas – microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema, os quais são também influenciados pelo cronossistema.”

O professor Ruy Jornada Krebs, o maior pesquisador nacional sobre a ecologia do desenvolvimento humano, destaca que “a teoria pressupõe que o homem vive em um processo contínuo de desenvolvimento, desde o nascimento até sua morte, entendendo o desenvolvimento como uma mudança duradoura na pela qual uma pessoa percebe e lida com o ambiente”.

Desse modo, entendo que a teoria dos sistemas ecológicos tem muito a contribuir com os estudos atuais, principalmente os relacionados ao futebol. Pois entender o futebol, ou melhor, seu processo de aprendizagem no Brasil, para alicerçar metodologias de ensino e treinamento, mostra-se extremamente pertinente.

O mesmo posso dizer, mais especificamente para o treinamento (especialização), que dominar os conceitos sobre crescimento e maturação com suas respectivas aplicações torna-se de fundamental importância. Sendo essa minha preocupação em outras crônicas pedagógicas sobre tais temáticas.

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Benê Lima