Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

quarta-feira, novembro 25, 2009

Fã de sistema com três zagueiros, Vadão enumera dificuldades brasileiras e enaltece atletas multifuncionais
Para comandante do Guarani, que ascendeu à primeira divisão do futebol nacional, treinadores encontram barreiras culturais para implementar plataforma
Bruno Camarão

Oswaldo Alvarez, o Vadão, nunca escondeu sua simpatia pela formação tática pautada em uma primeira linha com três defensores. Três defensores, e não basicamente três zagueiros de origem. O motivo: uma iminente necessidade de variar a postura durante os 90 minutos. E na campanha de sucesso do Guarani na edição deste ano da Série B do Campeonato Brasileiro, o treinador deparou com essa situação algumas vezes.

Figurante da zona de classificação à elite, o G-4, durante todas as 37 rodadas da competição – garantiu a vaga à elite em 2010 antecipadamente, no último sábado, diante do Bahia –, a equipe campineira foi formada basicamente dez dias antes da partida de estreia. Uma goleada sobre o Fortaleza, fora de casa, e uma série que acumulou outras cinco vitórias seguidas deram a sustentação que Vadão sonhava. A partir daí, ver seu estilo preferido ratificado foi um passo simples.

“A cultura brasileira não é voltada para os três zagueiros. Há falta de tempo e de conhecimento, algo que também prejudica a tentativa de implementação desse projeto”, argumentou Vadão, durante palestra no XVI Curso Nacional para Treinadores de Futebol, organizado pelo Sindicato dos Treinadores Profissionais de Futebol do Estado de São Paulo.

Com passagens por diversos clubes, como a Ponte Preta, rival bugrina, Atlético-PR, Bahia, São Paulo, Corinthians e São Caetano, dentre outros, o técnico é sempre condicionado à memória dos aficionados pelo trabalho no Mogi Mirim, no início da década de 1990.

O “Carrossel Caipira”, como fora apelidado aquele time, por conta da grande rotatividade dos jogadores em campo e das constantes menções de Vadão à Holanda de Rinus Michels, na Copa do Mundo de 1974, atuava em uma plataforma tática de 3-5-2. O diferencial era o grupo.

“No Mogi, o zagueiro do lado direito era o Capone. Do lado esquerdo, o Luis Carlos. O primeiro era volante. O segundo, atuava tanto quanto zagueiro, quanto como lateral-esquerdo e volante. Não se pode ficar à mercê da substituição”, relembrou.

A explicação do treinador é em relação ao “duelo tático” que pode se dar em uma partida a partir do posicionamento da equipe que ele dirige, e da rival. Com três zagueiros, por exemplo, se o adversário atua com apenas um atacante centralizado, haverá, obrigatoriamente, “perda” nos duelos do meio-campo, setor em que o outro estará com maioria numérica de jogadores.

“Por isso dou preferências a jogadores do meio-campo adaptados à zaga. Contra o Ceará, recuamos o Luciano Santos. Estávamos tomando um sufoco e precisei que ele modificasse a sua função. Não poderia ficar na mão do outro treinador. Daí o valor de se ter atletas multifuncionais em seu grupo”, exemplificou Vadão.

A referência é ao duelo de duas semanas atrás, contra o Ceará, em Fortaleza. Diante de mais de 50 mil pessoas, contra um adversário que também viria a obter o acesso posteriormente, o Guarani foi pressionado durante boa parte da primeira etapa. O volante Luciano Santos, então, diante do posicionamento dos nordestinos com dois atacantes mais enfiados, Mota e Preto, e a chegada de um terceiro, o meia Geraldo, passou a atuar à frente de Dão e Bruno Aguiar, os dois beques “originais”.

Vadão entende que atuar com três zagueiros é sinônimo de variação. O importante é se ter noção da postura coletiva das duas equipes que se enfrentam. Muitas, inclusive, se “acham” em meio a competições – como a seleção brasileira na Copa-2002, após a saída de Juninho Paulista para a entrada de Kleberson, com o fortalecimento da marcação ao lado de Gilberto Silva e a liberdade concedida a Rivaldo.

Ao assumir o Guarani, foram efetuadas 27 contratações. Quinze em um primeiro momento, para iniciar o campeonato. Referências, como Rodriguinho, Caíque, e o próprio Luciano Santos, todos comandados por Vadão em outras equipes, apresentam o perfil requerido.

“Com um grupo carente física e taticamente, priorizei os atletas mais flexíveis, que realizavam dupla função. Um para cada setor do campo. Uma coisa é disputar a Copa do Brasil e o Campeonato Paulista. Outra a Série B, que dura sete meses. As metas “táticas” e de objetivos devem estar perfeitamente planejadas”, pontuou Vadão, amparado por João Serapião de Aguiar, psicólogo que traçou análises individuais e grupais.

“O Serapião me apresentou o perfil do grupo e disse que se o trabalho desse certo na parte tática, técnica e física, as possibilidades de sucesso seriam muito grandes, pois o nosso elenco, em si, era muito forte psicologicamente. E assim foi”, disse Vadão.

“No Brasil, a cultura é valorizar o bom resultado. O Lula Pereira, por exemplo. É um treinador especialista em três zagueiros. Fez grandes trabalhos ao longo da década de 1990 com equipes do interior de São Paulo, mas não é tão valorizado no eixo Sul. Quando eu comandei o Bahia, uma única derrota me tirou um acesso à primeira divisão do Brasileiro. E pouco sou lembrado por aquele projeto. O que ficou marcado foi o “fracasso” por uma eliminação na Fonte Nova”, finalizou o técnico, que deve seguir à frente do clube campineiro em 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por seu comentário.
Em breve ele será moderado.
Benê Lima