Sinopse

"Neste espaço encontra-se reunida uma coletânea dos melhores textos, imagens e gráficos sobre o futebol, criteriosamente selecionados e com o objetivo de contribuir para a informação, pesquisa, conhecimento e divulgação deste esporte, considerando seu aspecto multidisciplinar. A escolha do conteúdo, bem como o aspecto de intertextualidade e/ou dialogismo - em suas diversas abordagens - que possa ser observado, são de responsabilidade do comentarista e analista esportivo Benê Lima."

sábado, novembro 13, 2010

Entrevista: Carlos Alberto Parreira – terceira parte

Treinador fala sobre diferenças metodológicas de treinamento e qual é o papel dos jogos reduzidos no desenvolvimento dos atletas

Equipe Universidade do Futebol

“(...) Na verdade, dois times podem ser organizados dentro de um mesmo sistema e jogarem de maneira completamente distinta. Esta distinção pode se dar pelo fato de que os jogadores têm técnica e estilo diferentes, além de serem orientados a se movimentarem de formas diversas. Aos laterais de uma equipe pode se pedir que apóiem constantemente o ataque. Aos de outra equipe que se mantenham mais presos à marcação. O modelo e a colocação dos jogadores será muito diferente”. O trecho da obra “Evolução Tática e Estratégias de Jogo”, escrita por Carlos Alberto Parreira, oferece um panorama da maneira como o treinador enxerga a modalidade.

Publicada em 2005, a obra de 68 páginas ainda serve como um material de apoio ao curso promovido pela Escola Brasileira de Futebol (EBF). Em sua estreia no campo das letras, Parreira conta um pouco a história do futebol e, é claro, aborda os aspectos do jogo, falando sobre táticas, estratégias e princípios estruturais do jogo. Aqui, aprofunda o debate:
 


 

Algumas ideias e critérios utilizados na intenção de promover ocupações de espaço mais inteligentes por jogadores e equipes se confundem em nortear por vezes regras de ação e por vezes organização de estruturas no espaço.

A todo o tempo durante partidas de futebol, jogadores e equipes necessitam tomar decisões. Como o futebol é um jogo de estratégias simultâneas, é preciso que cada um de seus atletas possam ser orientados a todo instante por uma mesma leitura coletiva de jogo.

No que diz respeito à ocupação dos espaços, é necessário que existam referências que possam ser identificadas pelos jogadores e que norteiem suas ações. Essas referências devem se complementar, sendo subordinadas à lógica do jogo e subordinando as estratégias de treinadores e equipes.
 


 

Algumas referências podem ser apontadas como princípios estruturais de ataque, princípios estruturais de defesa, princípios estruturais de transição ofensiva e princípios estruturais de transição defensiva.

Cada um desses princípios estruturais serve como orientação para a ocupação do jogo em seus quatro grandes momentos (que são indissociáveis, e aparecem separados aqui apenas por questões didáticas).

 

Futebol: um jogo também de ocupação de espaço


Às vésperas da final da Copa do Mundo de 1994 contra a Itália, nos Estados Unidos, Parreira foi interpelado por um jornalista francês, o qual reclamava que o time do Brasil era “exageradamente disciplinado e organizado”. Em um dos seus raros momentos de exaltação, o comandante da seleção verde-amarela retrucou:

“Entendi. Vocês querem o velho Brasil desorganizado e improvisador. O que há de errado em se organizar? Pelo menos no futebol, se depender de mim, vocês nunca verão um Brasil desorganizado”, disse Parreira, filosoficamente convencido.
 


 

Dentre os métodos mais práticos de aprendizagem no futebol, Parreira cita os treinamentos em campos reduzido. E na importância do “binômio homem / bola”, uma compreensão de que exercícios fragmentados, desvinculados de uma lógica, não têm relevância fundamental nos dias atuais.

Importante esclarecer, porém, que tais mini-jogos não são responsáveis por construir o modelo de jogo de uma equipe. As atividades referidas são jogos condicionados que possuem uma relação entre eles durante todo o processo e que são únicos para cada treinador que trabalhe nessa perspectiva.

“Só jogo reduzido não vai resolver os problemas. Não se treina nele chutes a gol, lançamentos, cobertura, algo que demanda o campo inteiro. Ele melhora a condição física, a condição específica, a condição técnica, a inteligência, a capacidade de se movimentar e procurar os espaços vazios. Mas com um objetivo particular”, elenca Parreira.
 


 

Na fechamento do especial, parte da entrevista exclusiva concedida por Parreira à Universidade do Futebol, o treinador fala sobre as diferenças de planejamento de uma equipe, qual o papel desse profissional na gestão de pessoas, o uso da tecnologia e por que os técnicos brasileiros não tiveram até agora êxito nos grandes clubes da Europa.

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Benê Lima