A entrega de jogos nas últimas rodadas do Campeonato Brasileiro provoca a desvalorização do nosso futebol
Erich Beting
Paulo Passos/iG |
Torcedores do Palmeiras pressionam Deola |
A paixão é cega, já dizia o ditado. E, por conta disso, muitas vezes a relação que as pessoas têm com o futebol, beira o irracional. O que se vê, hoje, na reta final de mais um Campeonato Brasilleiro é exatamente o quanto a paixão pode ser prejudicial para o futuro do esporte.
A entrega de jogos, ou a insistência de nós, jornalistas, em levantar essa bola nas rodadas finais do Brasileirão, fez com que o torcedor colocasse a paixão acima de tudo e, assim, prejudicasse no longo prazo a realização do próprio futebol no país.
Ao exigir a derrota de seu clube para prejudicar o rival, o torcedor não consegue perceber que prejudica a si mesmo. A felicidade da torcida corintiana em 2009 vendo que o time perdeu e com isso facilitou a vida do Flamengo e prejudicou o São Paulo se transformou rapidamente em pesadelo em 2010, quando uma derrota do rival para o Fluminense complicou a caminhada alvinegra rumo ao título.
Mas o problema maior não é nem aceitar que um time entregue o resultado num ano e no seguinte seja vítima do próprio veneno. A maior derrota que pode existir, nessa situação, é ver que isso só ajuda a tirar a credibilidade sobre a disputa do Brasileirão.
E o problema não é nem a fórmula de disputa da competição. Sim, obviamente que se tivéssemos a disputa de semifinais e finais na reta decisiva do campeonato não teríamos jogos com times interessados contra outros desinteressados.
Mas aí é que está o grande ponto.
Não pode haver desinteresse de um atleta em defender um clube. Querer atribuir ao formato da competição a entrega proposital de resultados é o mesmo que aceitar que só há pobreza porque as pessoas não se esforçam em sair dela, como se programas de governo para melhorar a vida da população não fossem absolutamente necessários para erradicar a pobreza.
A partir do momento em que o torcedor acredita ser correto ver seu time perder, ou então que o atleta não vê problema em fazer corpo mole para ver um colega de profissão prejudicado, a credibilidade do produto está perdida.
Os primeiros sinais de que a coisa não vai bem começam a ficar evidentes. Queda de público nos estádios, audiência mais baixa na TV. Se o futebol brasileiro não acordar, será impossível resgatar a sua imagem no futuro.
A vitória de hoje simboliza, claramente, a derrota mais para frente.
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Benê Lima