Artigo publicado há 2 anos mas que mantém o caráter de atualidade ------------------------------------------------------MÍDIA RADIOFÔNICA Por Francisco Djacyr Silva de Souza | |
Na edição anterior deste Observatório escrevemos sobre a fase terminal pela qual passa nosso rádio e elencamos uma série de motivações para que isto aconteça (ver aqui). Em momento algum queremos que isso aconteça, pois a morte do rádio sempre foi preconizada com o advento de novas mídias; no entanto, ele continua firme no seu processo de informação, entretenimento e oportunidade do público de questionar o poder e falar o que pensa das atitudes dos que os representam na vida política e econômica do país. No entanto, à guisa de informação, é preciso que se diga o que acontece com o nosso rádio cearense, que acho que padece do mesmo mal do rádio de outros estados em que o domínio político e religioso acaba com o verdadeiro papel deste meio de comunicação. O que escrevemos não foi uma mera exposição de idéias soltas e sem nexo ou uma tentativa de atrair atenção para um fato que já é notório e claro no rádio cearense, pois somando os vários problemas, vemos que há problemas graves que conduzirão ao fim deste meio de comunicação, principalmente o tipo AM, que tem expostos várias anomalias em meio a sua programação. Vamos a elas? Há programas de rádio em que o locutor lê literalmente o conteúdo do jornal e, muitas vezes, atropela o português no que se refere à pontuação ou mesmo à pronúncia das palavras do jornal. Isto é rádio-jornalismo? Onde está este departamento nas emissoras? Por que não investir no comentário sadio e imparcial das notícias? Por que não ler antes o que se vai noticiar para emitir opiniões ou trazer o ouvinte para discussão? Isso é fator comum no rádio cearense, que não tem produção de programas ou planejamento prévio – o improviso do rádio é uma virtude, porém não deve ser a tônica de sempre. Situação triste No caso das emissoras afiliadas, temos redução de programas que perdem a metade do seu tempo para se ajustar ao conteúdo pausterizado das emissoras nacionais, que não se importam em relação ao tipo de informação que o ouvinte vai ter, seja ele do Ceará, do Espírito Santo, do Amazonas ou de qualquer lugar do país. A informação pasteurizada neutraliza o conhecimento da terra e o desejo do cidadão cearense em conhecer sua cultura, seus costumes, seus acontecimentos... É possível fazer um rádio genuíno da terra, basta investir na reportagem itinerante e na informação que vem de quem ouve rádio, que sabe dos problemas de sua comunidade e quer saber o que se passa em sua cidade. Por outro lado, o arrendamento nos conduz a ouvir o que o aquele que arrendou o horário quer dizer, pois ao proprietário da rádio ou seus prepostos só interessa o pagamento do arrendamento, pouco importando a mensagem e as agressões que muitas vezes saem dos programas com horário arrendado. Já ouvimos locutores destes horários dizerem "O programa é meu e aqui eu falo o que eu quiser". Isso é rádio? Já ouvimos mensagens preconceituosas, agressões gratuitas a autoridades, que mesmo que discordemos de suas posições políticas, são autoridades... Já ouvimos radialistas chamarem auditores de tribunais de justiça de "cara de pau"... Isso é rádio? Qual a segurança que um radialista tem hoje em sua profissão? Como garantir seu futuro com a profissão? O que o rádio proporciona de bom ao radialista? Certamente se um radialista só depender desta profissão, amargará dias de dor ao ter de se aposentar ou sair do rádio, pois não há nenhuma segurança para estes profissionais e vários são os casos de radialistas essencialmente radialistas que tiveram de amargar uma situação triste no momento em que tiveram de sair do rádio. Fiscalização e posição firme E ao ouvinte o que resta? Se entregar ao fim do rádio ou lutar pela sua mudança, pela sua melhoria ou por um processo de democratização deste meio de comunicação que se ressente de um processo de organização de seus usuários, o que já é comum em países desenvolvidos. O rádio precisa de ouvintes e os ouvintes precisam ser ouvidos para dizerem o que acham das programações e o que querem do rádio com características verdadeiras e cidadãs. O rádio, no estado em que está, tem de buscar um compromisso sério de aliança com os ouvintes, abrindo suas programações para a opinião do ouvinte e o conhecimento das características deste meio de comunicação, tanto no que se refere aos aspectos técnicos quanto ao nível de transformações que vêm ocorrendo. É preciso que se faça uma investigação sobre o funcionamento do rádio, conhecendo sua viabilidade econômica, seu papel no cotidiano das pessoas, sua importância perante os governantes e seu papel informativo e no fortalecimento da democracia. Não podemos aceitar que o rádio se transforme em moeda de troca de interesses, sejam eles políticos ou econômicos. É urgente que os poderes constituídos (Judiciário, Legislativo e Executivo) se interessem pelo rádio e ajam dentro de suas competências para regular este meio de comunicação e proporcionar aos ouvintes informação verdadeira, crítica e aliada dos ideais verdadeiros dos direitos humanos e das conquistas de cidadania. É preciso banir do rádio interesses políticos, religiosos ou econômicos, pois o rádio é uma concessão pública e se é pública pertence ao povo, não a grupos que enriquecem com seu uso e com a falta de fiscalização e posição firme de quem regulamenta as comunicações. Só com anunciantes Nossa voz não é única sobre este problema. Em publicação do texto no blog gentedemidia.blogspot.com houve um grande repercussão sobre o problema e todos comentários iam de encontro ao que dizíamos. Paulo disse: "Concordo com o professor. O mercado radiofônico está limitadíssimo, quase inexistente. Principalmente, o AM. Quanto ao desempenho do sindicato da categoria, também concordo: vergonhoso. Basta o exemplo do que ocorreu com a rádio Dragão do Mar. Infelizmente, salvam-se duas emissoras AM em Fortaleza. Eu diria até uma e meia, já que continuo preferindo saber do engarrafamento na avenida Aguanambi ou na Dês. Moreira, ao trânsito lento, quase parado, da marginal Pinheiros ou da marginal Tietê" (16 de dezembro de 2008 18:20).
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Benê Lima