Luiz Torquato do Guarany é mostrado como o “Eurico do Sertão”

Mandachuva do Guarany-CE é o 'Eurico do Sertão'

Luiz Torquato se espelha no ex-presidente vascaíno para gerir o campeão da Série D

.

Luiz Torquato em frente ao café que leva seu nome, na cidade de Sobral (Crédito: Daniel Leal)

Daniel Leal
Publicada em 17/11/2010 às11:26 
Enviado especial da Sobral (CE)

São poucos os que não abrem um sorriso ao falar de Luiz Torquato. A reação, obrigatoriamente, passa pelo folclore que cerca o presidente do conselho deliberativo do Guarany-CE, atual campeão brasileiro da Série D. Afinal, o cartola, admirador confesso de Eurico Miranda, protagoniza há 28 anos polêmicas das mais variadas à frente do clube – de discussões a tiros contra jogadores. Agora, após o primeiro grande título, quer descanso, mas não consegue abandonar sua paixão.

– Sou fã incondicional do Eurico Miranda porque ele e a família amam o Vasco. Os outros são interesseiros, não valem nada – diz.

Luiz chegou ao Guarany em 1982, época em que o clube andava praticamente abandonado. Seus métodos, desde o início, eram questionados: brigava com jogadores, intimidava árbitros e ignorava os princípios da administração.

Sem a gestão devida, viu o Cacique do Vale passar por dificuldades e perder seus bens – a sede do clube foi a leilão, mas, arrematada pela prefeitura, foi devolvida ao dono original.

Os problemas não ameaçavam sua permanência à frente do Guarany. Afinal, a política do clube sempre foi resolvida em casa: dos 21 membros do conselho deliberativo, 16 fazem parte da família Torquato, enquanto os outros cinco são amigos.

A cada dois anos, o grupo se reúne para escolher o novo presidente. Esposa e o filho mais velho, Luizinho, são alguns dos que passaram pelo cargo – o último é o atual mandatário.

Mesmo fora da presidência, Luiz ainda é responsável por boa parte das decisões do Guarany. Estas costumam ser tomadas no minúsculo escritório que possui em seu café, no Centro de Sobral. Lá, bate de frente com quem confrontá-lo, sem medir palavras. Jornalistas e opositores são os principais alvos.

– Eu sou igual ao Eurico Miranda. Sou odiado e amado – afirma.

Os mais próximos dizem que o tempo deixou o coração de Luiz mais mole. Há um mês, o atacante Danilo Pitbull foi afastado após chegar embriagado à concentração e se envolver em briga com o goleiro Vantuir.

– Eu o perdoei. O Guarany estava precisando. É um menino bom, ele foi levado. Ele não é disso – conta.

Na véspera da vitória de domingo por 4 a 1 sobre o América-AM, na finalíssima da Série D, Luiz revelou estar cansado. Se fosse campeão, deixaria o clube. Na terça-feira, mostrou a dificuldade de se largar uma paixão:

– Ficou para o fim da semana.

Confira bate-bola com Luiz Torquato, mandachuva do Guarany:

LANCENET!: Como chegou ao Guarany?
LUIZ TORQUATO: Entrei no Guarany no dia 31 de julho de 1982. Era dia da eleição do clube. Eu era torcedor de ir só nos jogos daqui. Mas gostava mais do dérbi (jóquei). Tinha dez cavalos de corrida. Ia para Pernambuco, para Brasília... Saí porque me convidaram para vir para o futebol. Depois de muita relutância, entrei. Troquei meus dez cavalos por outros 11. Ganhei um cavalo a mais.

LNET!: E logo se apegou ao clube?
Futebol é como cachaça. Quando se bebe, não larga mais. Perdi muito dinheiro. Hoje, aconselho qualquer um que tiver um inimigo a colocá-lo como presidente de um clube. Aí é que vai ver o que é bom para tosse.

LNET!: Você tem ideia de quanto gastou com o clube?
Tirei tudo da minha família. Hoje, sou um homem que não está bem financeiramente. Acredito muito também no Eurico Miranda, acho que deve ser a mesma coisa lá.

LNET!: O senhor se vê como o Eurico Miranda de Sobral?
Não. Sou parecido mesmo, mas um pouco pior. Comigo é assim: eu atiro nos caras, meto bala. Mas trato as pessoas bem.

LNET!: O que o Guarany significa na sua vida?
O Guarany é tudo, minha alma, minha vida. É uma paixão. Mas, pela idade, estou cansado.

.