Ainda na África do Sul, Carlos Alberto Parreira não escondeu a emoção quando falou de suas oito Copas do Mundo, das quais participou de seis como treinador. Entrou para a história como o técnico que mais jogos dirigiu nos 80 anos de Mundiais. Foram 23 partidas por cinco seleções. E a vitória sobre a França, dirigindo os Bafana Bafana, foi sua primeira à frente de uma equipe estrangeira nessas condições. Todas as demais foram com o Brasil, tanto em 1994 como em 2006.
Além de Brasil e do país anfitrião da última edição, Parreira também esteve à frente de Kuwait, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. “Não tenho mais nada para fazer em Copas. Terminei com uma vitória e isso me gratifica muito”, sintetizou, após o adeus dos sul-africanos ao término da primeira fase do torneio deste ano.
O seu primeiro Mundial foi o de 1982 na Espanha, defendendo o Kuwait. Depois vieram os trabalhos com Emirados Árabes, em 1990, e com a Arábia Saudita, em 1998.
Formado em Educação física pela antiga Escola Nacional de Educação Física e Desportos, no Rio de Janeiro, em 1966, ele começou sua carreira como preparador físico do São Cristóvão de Futebol e Regatas. Depois, Parreira trabalhou em uma série de clubes pelo Brasil e pelo mundo. Suas passagens mais marcantes foram no Fluminense, em 1984, quando o clube conquistou seu primeiro título do Campeonato Brasileiro, e em 1999, quando ajudou na recuperação dos cariocas com a conquista da Série C do Nacional.
Além do Flu, Parreira também fez história no Corinthians na temporada de 2002, quando foi campeão da Copa do Brasil e da última edição do Torneio Rio-São Paulo – naquele ano, potencializado pela participação dos principais times estaduais em um formato de liga.
Ao todo, integrou a comissão técnica de sete agremiações em seu país, boa parte do tempo no Rio de Janeiro. Mesmo com passagens vitoriosas por essas equipes, foi mesmo após a conquista do Mundial-94 que Parreira obteve reconhecimento e prestígio internacionais, rendendo-lhe diversos convites e propostas de trabalho no exterior. A abertura de portas em um mercado até então pouco explorado alavancou sua carreira.
Dirigiu Valencia CF (Espanha), Fenerbahçe (Turquia) e MetroStars, na então recém-iniciada Major League Soccer, nos Estados Unidos. O maior sucesso, entretanto, foi mesmo com seleções nacionais. Conquistou vários torneios asiáticos com o Kuwait e a Arábia Saudita, além da Copa América de 2004 pela sua equipe natal.
Inspirado no lema de Sepp Herberger, antigo técnico alemão que dizia que futebol é atacar e defender com a máxima eficiência, Parreira prezou sempre que possível a aplicação de modelos que priorizassem a posse de bola e a ocupação eficiente dos espaços do campo – a famosa referência “o gol é apenas um detalhe” encontra explicação contextualizada nessa filosofia de jogo.
O treinador brasileiro acumulou duas passagens pela seleção da África do Sul. A primeira foi até abril de 2008, quando deixou o comando alegando problemas particulares e foi substituído por Joel Santana, que caiu em outubro do ano seguinte, dando lugar novamente ao companheiro. Em meio a esse período, Parreira acertou seu regresso ao Fluminense, que passava por dificuldades no Campeonato Estadual do Rio e acabara de demitir Renê Simões.
Sem ter participado da formação do grupo tricolor para a disputa da temporada, encontrou dificuldades e não chegou a terminou o Campeonato Brasileiro no comando do clube pelo qual já havia passado em outras duas ocasiões.
“Valeu ter voltado. Valeu ter matado a curiosidade, após sete anos seguidos em seleções. Queria voltar a sentir essa adrenalina. Mas só constatei que não se tem paciência com o projeto. Só se vê o resultado”, lamentou Parreira em sua saída.
Agora, ele agendará o estudo de propostas para voltar a trabalhar com times ou seleções somente em 2011. Até dezembro deste ano, o foco do “vovô” Parreira são a família e a sétima edição doFootecon, o Fórum Internacional de Futebol.
Nesta entrevista exclusiva à equipe da Universidade do Futebol, concedida antes de sua despedida das Copas, o experiente profissional abriu o jogo: citou lembranças e histórias de sua carreira, a formação na área das Ciências do Esporte e a sua relação com outras culturas esportivas.
Dentre os temas principais, ele abordou os aspectos da evolução tática, com a relevância da Copa do Mundo de 1966 para esse processo, e as diferenças básicas entre o futebol brasileiro e o europeu; as diferenças metodológicas de treinamento e sua avaliação sobre os jogos reduzidos no desenvolvimento dos atletas; e o papel do treinador na gestão de pessoas dentro de um grupo de futebol.
O material em vídeo será exposto no site em partes, todos os dias, durante esta semana. Não perca!
Entrevista em vídeo de Carlos Alberto Parreira à Universidade do Futebol:
Início da carreira como preparador físico, relação com Zagallo e planejamento estratégico
(terça-feira, 9 de novembro)
Evolução tática do futebol e diferenças entre modelos brasileiro e europeu
(quarta-feira, 10 de novembro)
Princípios estruturais de jogo e metodologias de treinamento
(quinta-feira, 11 de novembro)
Treinador como gestor de pessoas e tecnologia aplicada ao futebol
(sexta-feira, 12 de novembro)
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Benê Lima